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Gilberto Ururahy

Por Gilberto Ururahy, médico Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Especialista em medicina preventiva
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Sequelas cardíacas da Covid-19

Cardiologista aponta riscos e alerta: “vive mais quem anda mais e não quem ganha mais”

Por Gilberto Ururahy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 fev 2021, 10h27 - Publicado em 22 fev 2021, 09h36
Paciente em consulta médica.
Covid-19: Rio tem a maior média móvel de novos casos (Evanto Elements/Reprodução)
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A MedRio Check Up está comemorando 30 anos de funcionamento. Para marcar efeméride tão importante, criamos uma agenda de “Encontros Científicos com a Prevenção”, que acontecem uma vez por mês, abordando diferentes especialidades médicas. Para este mês de fevereiro, convidei os renomados colegas Claudio Benchimol e João Mansur para falarem sobre a saúde do coração. No começo da semana passada, apresentei aqui na coluna o papo com Claudio Benchimol. Abaixo está a nossa conversa com João Mansur. Boa leitura! – Gilberto Ururahy

Sequelas cardíacas da Covid-19

Segundo o cardiologista João Mansur, um dos médicos mais experientes do país, é preciso ficar atento às consequências que a Covid-19 traz ao sistema cardíaco. Responsável pelo Serviço de Cardiologia do Hospital Samaritano Botafogo, especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e especialista em Ecocardiografia pela SBC-DIC, Mansur destaca que de 20 a 30% dos pacientes que tiveram Covid-19 apresentaram miocardite.

Conversamos com João Mansur sobre estes e outros assuntos:

O coração é a principal causa de mortes no Brasil?

A mortalidade cardiovascular é principal causa de óbitos não só no Brasil, mas em todo o mundo. Historicamente, as doenças infectocontagiosas eram a maior causa de morte no país até os anos 1960, mas desde então isso mudou para as doenças cardiovasculares.

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A que se deve essa mudança?

A um somatório de fatores: tabagismo, sedentarismo, estresse, maior ingestão de alimentos saturados são alguns deles. Em alguns países, a incidência de doença coronária é menor, como o Japão. Um estudo mostrou que cidadãos que viviam no Japão tinham menor nível de colesterol e taxa de doença coronariana. Já entre os japoneses que foram morar no Havaí, havia incidência intermediaria. A situação ficava mais grave entre os japoneses que moravam em São Francisco. Portanto, o ambiente também é um fator considerável.

Dados do estudo Vigitel mostraram uma diminuição considerável no grupo de pessoas que fumam mais de 20 cigarros: de 4,6%, em 2006, para 2,6% em 2017. Isso muda consideravelmente a probabilidade do risco. Com maior conscientização da população dos fatores de risco, consegue-se diminuir a incidência coronariana.

Quais são as sequelas da Covid-19 ao coração?

Como se sabe, 90% a Covid-19 está intimamente relacionada à problemas pulmonares. No entanto, gradativamente, foi se percebendo um maior comprometimento da função cardíaca por conta da Covid. A troponina, uma enzima que só se encontra no coração, tem sua quantidade aumentada de 7 a 36% em pacientes contaminados. Isso passou a ser o maior fator prognostico do paciente com Covid. Tanto que quando se analisa a mortalidade, 59% tinham a troponina elevada. Entre os que sobreviveram, 1% tinham a enzima aumentada. A troponina elevada é um termômetro do comprometimento da função cardíaca, mas não apenas por Covid. Cerca de 20 a 30% de quem teve Covid sofre de miocardite, por exemplo.

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O brasileiro cuida mal do coração?

Sim, porque se dedica pouco à atividade física, continua fumando – apesar da diminuição do índice de tabagismo -, além de ter uma dieta ruim, com excesso de sal. O brasileiro não tem uma dedicação aos cuidados com o coração como deveria. Soma-se a isso a dificuldade de atendimento medico e acesso aos remédios. Para muitos brasileiros, existe uma distância entre um médico prescrever e o paciente comprar um medicamento.

Como o check-up pode auxiliar na prevenção?

Quando uma pessoa se submete a um check-up médico completo, ajuda a prever a percentagem de mortalidade desse paciente. Fatores como idade (acima de 60 anos tem mais chances de ter doença coronariana), gênero (mulher até a menopausa tem menos chance de doença coronariana, mas depois da menopausa se igualam aos homens), pressão arterial sistólica, colesterol total, HDL, tabagismo ou diabetes apontam se o paciente está no risco leve, médio ou intermediário de uma doença coronariana. Em posse de exames, o médico é capaz de criar uma estratégia de ação para o paciente.

Para encerrar: o que as pessoas podem fazer para melhorar a qualidade de vida?

Adultos que ficam de seis a oito horas por dia em comportamento sedentários (essencialmente sentado, no computador ou assistindo TV) tem o risco aumentado de problemas de saúde. Estudos mostram que se a pessoa diminui para três horas por dia nessa posição, aumenta a expectativa de vida em dois anos. Se diminuir para menos de duas horas por dia, aumenta a expectativa de vida em 1,4 anos. Vive mais quem anda mais e não quem ganha mais.

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Fala-se muito da figura do “atleta de fim de semana”. Mas está provado que quem pratica exercício uma a duas vezes por semana (entre 37,5 e 150 minutos) tem uma redução de mortalidade em mais da metade, se comparado com os sedentários. Pouco exercício é muito melhor que nada.

Além disso, é importante diminuir o consumo de alimentação saturada, como frituras, carne vermelha e gorduras saturadas. Um trabalho abrangendo 52 países analisou nove itens que seriam perigosos para a saúde coronariana, como tabagismo, diabetes, colesterol, hipertensão e bebida alcoólica. Descobriram que a estabilidade emocional e o estado psicológico, como depressão, também tem influência muito grande para a saúde cardíaca. Outro dado importante é que o acréscimo de frutas e vegetais à alimentação diária que diminui em 30% o risco de doença coronariana.

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