As muitas matérias da “Caras” nos últimos anos – tão numerosas quanto suspeitas – tentavam vender uma família feliz: o apresentador Gugu Liberato, a esposa Rose e seus três filhos. Mas a autoficção criada pelo apresentador não resistiu à sua queda do telhado de casa e, em poucos dias, todos foram arrastados por um espiral de fofocas que ganhou a mídia e os tribunais envolvendo uma união de fachada, um testamento em suspeita e até um namorado na Europa.
A pergunta que fica é: não seria mais fácil se Gugu tivesse saído do armário?
Pode-se supor que ele não tenha tomado tal atitude em respeito à mãe idosa ou aos filhos adolescentes. Mas bastou Gugu morrer para a mãe do apresentador cravar que Rose e Gugu “nunca tiveram nada um com o outro. Eu afirmo porque eu sei”. Gugu não conseguiu sair do armário, mas com menos de um mês de sua morte foi expulso do closet de oito portas onde viveu as quatro décadas de sua vida pública. A confusão entre os herdeiros está armada e o único poupado, na verdade, foi o próprio Gugu.
Sair do armário é uma decisão pessoal, que implica em uma série de consequências. Cada um sabe onde o seu calo aperta. Mas a pergunta que persiste é: e se Gugu tivesse saído do armário? E se ele tivesse dito ao mundo que não era da conta de ninguém o pintinho amarelinho que cabia na palma da sua mão? Será que o pintinho amarelinho bate as asas, faz piu-piu, mas tem muito medo é do gavião homofóbico que cancela contratos publicitários? Com uma carreira consolidada, fama e um bilhão de reais de patrimônio ainda era preciso temer o que quer que fosse? Com a briga estabelecida entre mãe, filhos e sogra, o strike emocional já está feito. Quando a briga acabar, sairão todos ricos e solitários.
A estratégia de autopreservação da imagem adotada por Gugu não encontra eco nas novas gerações. É cada vez mais frequente vermos um(a) artista assumindo uma relação homossexual nas capas das revistas, as mesmas onde Gugu tentava vender a imagem de família feliz. Em 2020, viver uma mentira para agradar a quem quer que seja ficou pesado demais: os armários ficaram abafados, apertados e bolorentos.
Gustavo Pinheiro é carioca, escritor, dramaturgo e roteirista.