De ‘mau’ a ‘Prior’: a crise do macho adulto branco sempre no comando
Míopes em suas estratégias kamikazes, Bolsonaro e Prior, do Big Brother Brasil, descobriram-se isolados
Felipe Prior foi eliminado da casa do Big Brother com quase 900 milhões de votos no mesmo dia em que Bolsonaro chorou no Palácio da Alvorada. Os dois escancaram a crise de liderança do “macho adulto branco sempre no comando”, como escreveu o Caetano, há mais de 30 anos.
Contrariando seu próprio governo, o presidente recomenda sair às ruas e a resposta que tem da população é o isolamento social. Resta a figura patética de um presidente lendo teleprompter, sem voz de comando sobre seu povo.
Prior foi perdendo os aliados no reality, um a um. A cada semana de paredão, caia um parça que pensava como ele. O único homem que permanece no programa é artista, negro e favelado.
Prior e Bolsonaro acreditavam que todos seriam obrigados a se curvarem a sua forma de ver o mundo. Míopes em suas estratégias kamikazes, escoraram seus comportamentos em séculos de “sabe com quem está falando?” e puxão de cabelo na boate. Apostaram alto. Foram para o tudo ou nada. Descobriram-se isolados. A ambos, sobraram os jogadores de futebol como claque.
Eles não estão sozinhos na família-buraco (ou seria no buraco da família?). Trump, Giuseppe Conte, Crivella, Bispo Macedo e mais uma fileira de irresponsáveis amedrontados lhes fazem companhia.
O que Prior e Bolsonaro não entenderam é que o mundo mudou. O macho adulto heterossexual branco e rico no comando perdeu espaço para os LGBTQs, as mulheres, os negros, os favelados, os indígenas, os idosos. Para cada aloprado do Gabinete do Ódio a espalhar fake news, há a sensatez de uma Angela Merkel. Nairóbi avisou que o matriarcado estava começando, só não ouviu quem não quis.
A pilha de certezas do macho adulto branco ruiu. Emparedados pelo mais primordial instinto – a sobrevivência – o ser humano escolheu a ciência, a arte, a lógica e a razão no comando.
Gustavo Pinheiro é dramaturgo e roteirista.