Há 30 anos, em 13 de dezembro de 1981, o Flamengo venceu o Liverpool da Inglaterra por 3×0 e conquistou o título mundial. Em homenagem ao clube e àquela geração de craques, algumas curiosidades que marcaram o período mais vitorioso da história do clube.
* Em 3 de dezembro de 1978 Flamengo e Vasco decidiam o segundo turno do Carioca. Os cruzmaltinos precisavam empatar o jogo para vencer o turno e forçar a decisão do campeonato. Os rubro-nergros, campeões do 1º turno, queriam vencer para garantir logo o Carioca e mudar a rotina recente de derrotas em decisões para o rival. O sofrimento durou até os 42 minutos do segundo tempo, quando Zico bateu escanteio da direita, Rondinelli subiu mais que todo mundo e testou para o gol. Flamengo 1×0, campeão do turno, do Estadual, se livrando da pecha de freguês e dando a partida para o mais vitorioso período de sua história. Conjectura-se que se esse gol não sai o efeito psicológico das últimas decisões ajudaria o Vasco a vencer o Estadual, o time do Flamengo seria desfeito e a era de ouro não viria. Rondinelli não era de conjecturar.
* Além do 1º e 2º turnos de 1978 o Flamengo também ganhou todos os turnos dos dois estaduais disputados em 1979 (o último estadual “carioca” e o primeiro estadual “fluminense”) e ainda a Guanabara de 1980. No total foram 8 turnos seguidos conquistados, que garantiram o terceiro Tricampeonato Carioca (1978, 1979 e 1979 Especial) da história do clube.
* A Taça Guanabara conquistada em 1980 não fazia parte do Campeonato Carioca, foi um torneio à parte, como nos anos 60. No Carioca o Flamengo foi atrás do sonho do Tetracampeonato. Como o Fluminense vencera o 1º turno, o Fla precisava vencer o 2º para ir à decisão. Mas o sonho acabou em Petrópolis, na antepenúltima rodada. Numa noite chuvosa o ataque o Fla foi parado pelo goleiro do Serrano, Acácio (futuro goleiro do Vasco). E o atacante Anapolina fez o gol da vitória da equipe petropolitana. Mesmo o maior Flamengo de todos os tempos pagou seu mico. E algum gaiato provocou a Nação Rubro-Negra pichando “tetranapolina” no muro da Gávea.
* Antes de perder o tetra, o clube conquistou seu primeiro título brasileiro, em 1980, na épica decisão contra o Atlético-MG. À distância tem-se a impressão de que as conquistas da Libertadores e do Mundial foram no embalo do título nacional. Ledo engano. No período de pouco mais de um ano, entre 1º de junho de 1980, data da final do Brasileiro, e 3 de julho de 1981, data da estreia na Libertadores, os rubro-negros tiveram tempo de perder dois campeonatos (estadual de 1980 e brasileiro de 1981), trocar de técnico, contratar e vender jogadores e testar várias formações. Passaram pelo clube nesse período, mas não ficaram para os dias de glória, jogadores como Luís Pereira e Fumanchu. Alguns campeões do período anterior (tri carioca e título brasileiro) também já não estavam mais na Gávea, como o lateral Toninho Baiano, o Deus da Raça Rondinelli e Júlio César “Uri Geller”. E o time foi treinado por Coutinho, Modesto Bria (interino) e Dino Sani, que chegou a dirigir o time nas duas primeiras partidas da Libertadores, mas foi demitido por péssimo relacionamento com o grupo. O recém aposentado Carpegiani assumiu como interino e foi efetivado após a recusa de Nelsinho Rosa, que preferiu os “petrodólares” do “futebol árabe”.
* Uma das grandes conquistas daquele time não teve taça. No dia 8 de novembro de 1981 o Flamengo venceu o Botafogo por 6×0, vingando, com números exatos, derrota sofrida nove anos antes. Mas se engana quem pensa que aquele Botafogo, que já vivia um jejum de 13 anos sem título, era um adversário fácil para o Flamengo. No primeiro semestre daquele ano o alvinegro eliminou o Fla do Brasileiro na fase de quartas-de-final (0×0 e 3×1 Botafogo). Depois vieram os confrontos pelo Carioca. No 1º turno, empate em 0×0 na campanha do título do Fla. No 2º turno, vitória do Botafogo por 2×1 que deu o título ao Vasco. Só no 3º turno do Carioca, no 5º confronto do ano, a vitória veio. Diz a lenda que a véspera do jogo foi agitada na concentração do Botafogo, pois o romance entre alguns jogadores e algumas camareiras veio à tona, gerando punições aos namoradeiros, discussões internas e o time entrou desestabilizado no jogo. O fato é que depois de nove anos, os rubro-negros não tinham mais que aturar os botafoguenses dizendo “nós gostamos de vo6”.
* Torcedores adversários gostam de diminuir o valor da conquista da Libertadores pelo fato do Flamengo não ter enfrentado os mais tradicionais clubes da Argentina nem do Uruguai na campanha. Mas na 1ª fase o Fla passou por Olímpia, campeão de 1979, e Atlético-MG, rival na decisão doméstica do ano anterior. Na fase semifinal um dos adversários foi o Deportivo Cáli, que eliminou os argentinos River Plate e San Lorenzo na 1ª fase. E o adversário da decisão, o Cobreloa do Chile, passou pelos uruguaios Nacional, campeão de 1980, e Peñarol, que viria a ser campeão de 1982, na fase semifinal e foi finalista novamente no ano seguinte. Logo, não confundamos despeito com análise histórica.
* Entre a conquista da Libertadores, em 23 de novembro de 1981, e a decisão do Mundial, em 13 de dezembro, e em meio à comoção causada pela morte de Cláudio Coutinho, técnico do time nos títulos conquistados entre 1978 e 1980, em 27 de novembro, os craques rubro-negros ainda tiveram tempo de conquistar o Carioca de 1981, vencendo o Vasco por 2×1 em 6 de dezembro. Bom, os craques e o Ladrilheiro, geraldino que invadiu o campo aos 40 do segundo tempo, quando o Vasco pressionava em busca do empate. Roberto Passos Pereira, o Ladrilheiro, levou alguns pontapés dos jogadores do Vasco e foi retirado de campo pela polícia, mas seu lugar na história e mais um título para o Flamengo estavam garantidos.
* O ápice dessa trajetória aconteceu em Tóquio, no confronto contra o melhor time europeu da virada dos anos 70 para os anos 80. O Liverpool foi campeão de 4 Copa dos Campeões em 8 anos (1977, 1978, 1981 e 1984). Em 1981 venceu o Real Madrid na decisão, por 1×0, em Paris. O atual técnico dos reds, Kenny Dalglish, era o craque daquele time. E dos onze que começaram a decisão contra o Flamengo, em dezembro de 1981, cinco participariam da Copa do Mundo da Espanha, seis meses depois: McDermott e Thompson, pela Inglaterra; Dalglish, Souness e Hansen, pela Escócia.