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Ike Cruz

Por Ike Cruz, empresário artístico Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
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As divergências nos discursos sobre a Covid-19 nos deixam à deriva

A cada fala dúbia, a população fica completamente atordoada - e confusa. Lembra a máxima: não existe vento a favor para barco sem direção

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Atualizado em 21 abr 2020, 11h07 - Publicado em 20 abr 2020, 18h59
O Brasil na condução do coronavírus: sem rumo (Banco de imagem gratuito/Divulgação)
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Quando começou a quarentena, rapidamente me uni ao sentimento dos que propagaram ser um ótimo momento para refletir, ler bons livros e colocar séries em dia. Passadas 72 horas, percebi que provavelmente quem profetizou isso não tem filho pequeno e confinado. Por aqui, chegar no fim do dia e conseguir assistir ao noticiário já é considerado um feito heróico. Nesses 30 e tantos dias (já me perdi), apesar dos quatro livros que espero anos pra ler, mais dois que acabo de comprar on-line (é preciso ajudar o pequeno comércio), ainda não li nenhum e consegui assistir a dois filmes! U-A-U

Sobre alimentação eu passo adiante. Isso é tema pra mudar de parágrafo, de assunto e de peso. Mas aqui em casa não estamos sozinhos nesse confinamento. Nemo, Shrek, Wazowski , Hulk e Spider Man acordam cedo e a todo vapor. Em seguida, quando resgatamos algum fôlego, outros chegam pra levar o resto. Mandetta, Bolsonaro, Monalisa, Bonner, Camarotti , Andrea Sadi e cia, são incansáveis e possuem um staff à altura. E essa vem sendo a minha Avenida Brasil.

Aliás, enquanto escrevo essa coluna, a TV mostra ao vivo, a posse do novo Ministro da Saúde, Nelson Teich. Torço por ele porque torço pra gente. Afinal como diz aquele reconfortante clichê, é preciso dar um voto de confiança. Por outro lado, não achei sensata a demissão do Mandetta. Não o vejo com esse espirito de “pop star” como muitos passaram a enxergar. Acho muito normal que em momentos de crise, os holofotes se virem para o responsável da área. Na vergonhosa participação do Brasil na Copa do Mundo ou na tragédia de Brumadinho, não saberíamos quem é Luiz Henrique Mandetta.

Como bem disse Cacá Diegues em sua coluna, também acredito que Mandetta tenha sido vítima de suas próprias virtudes. Infelizmente aqui no Brasil, sempre que surge uma boa figura , algum novo craque ou tipo de herói, ao invés de abraço e apoio, haverá sempre os caçadores de deslizes que buscam incessantemente algo que os desabonem.

Considero que o único deslize de imagem (e talvez o crucial) do ex-ministro, tenha sido a participação no programa “Fantástico” da TV Globo. Depois de tantas e exaustivas coletivas, fazer uma matéria exclusiva naquele momento, para um programa que mexe com a vaidade dos convidados, foi desnecessário. E isso, muito provavelmente, pode ter sido a bala de prata presidencial. Noves fora, demonstrou seriedade, sobriedade e muita calma para nos trazer toda informação possível sobre a condução e prevenção da pandemia.

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O fato é que o presidente não estava afinado com as decisões da equipe de Luiz Henrique Mandetta. E ficar fora de sintonia com o ministro da saúde em plena pandemia, convenhamos, é deixar o caos acampar na porta de casa. Porém, como tudo que está ruim ainda pode piorar, o presidente passou a agir de maneira oposta às recomendações. Se o exemplo é uma excelente forma de atrair, nesse caso o rumo foi outro.

Sem informações uniformes de onde mais se esperava, a população começou a confundir e se dividir. E pior, na dúvida passou a dar ouvido a um terceiro elemento e talvez mais perigoso, a internet através dos seus poderosos apêndices. Claro que virou uma confusão e cada um começou a agir como acredita ser o certo. Nossos governantes nos deixaram a mercê de uma certa subjetividade, o que num momento desses é como jogar querosene pra apagar incêndio.

Nunca me lembrei tanto de uma antiga frase : NÃO EXISTE VENTO A FAVOR PRA BARCO SEM DIREÇÃO. Cá estamos, remando sabe se lá pra onde, sem bússola, no peito e na raça, abarrotados de informação mas tentando fazer o melhor pra sairmos dessa.

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Sobre(boa) informação que é sempre bem-vinda, acho que as emissoras deveriam se atentar que quanto mais convidados-especialistas, mais divergências e consequentemente mais duvidas no público. Usa máscara, tira máscara, fica em casa, pode sair mas mantenha distância(!), pratique esporte ao ar livre, não pratique e respeite os que não podem (ou querem), álcool antes, melhor depois, chega-em-casa-tira-roupa-e-bota-pra-lavar, deixa sapato na porta, banho imediato, não coça o nariz, não leva a mão ao rosto, pode coçar mas passa gel, enfim, se vira como pode, malandro. Só não ouse tossir em público.

Tudo isso, sem contar a paranoia que frequentemente me assola. Tem dias em que acordo com a certeza de que é “ hoje que esse bicho vem me pegar ”. Por sorte e cuidado, um dia de cada vez, ainda estamos bem aqui em casa e zelo pra que esse dia não chegue ou que venha brando, sem sofrimento. Saudade de um simples café na esquina com os amigos. Talvez um dia, falando de uma pandemia que somente quem sobreviveu a ela poderá contar.

Ike Cruz é empresário artístico e consultor de imagem.

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