Já no segundo capitulo de “Travessia”, novela de Gloria Perez que estreou semana passada, comecei a pensar nessa coluna. Por conta do meu trabalho, ando em falta com meu espaço aqui na Vejinha. Entretanto, quando algo realmente inspira, me sinto estimulado a escrever. E a inspiração aqui tem nome: Lucy Alves.
Dias atrás, na academia, encontrei com o Mauro Mendonça, diretor artístico da novela, e fui logo me denunciando.
– Mauro, confesso que até a divulgação da novela eu não conhecia a Lucy Alves.
Talvez não me parecesse totalmente estranha, mas admito que não a reconheceria só pelo nome ou pelo rosto. Ele respondeu dizendo que ela é uma cantora muito conhecida, sobretudo no Nordeste, e que já tinha atuado em “Velho Chico”(2016). De qualquer forma me pareceu uma novidade, e das boas. Bastou a atriz surgir na tela, para eu diagnosticar que estava diante de uma estrela. Salvo as devidas comparações, vejo alguns aspectos em Lucy Alves que me fazem lembrar de JLo(Jennifer Lopez), talvez o colorido, a sensualidade latina e a versatilidade artística.
Mesmo trabalhando com atores há muitos anos e tendo acesso direto aos bastidores desse universo, sempre que assisto a um filme, novela ou série, me posiciono como um mero telespectador. Por conta do meu ofício, talvez um telespectador mais criterioso, porém com um olhar neutro, imparcial. E foi aí que meus olhos brilharam diante do que assistia.
Meu irmão e eu sempre fomos cinéfilos, daqueles bem “fominhas”. Bastava um filme estrear para irmos logo no primeiro dia de exibição. Quando Julia Roberts surgiu na tela do cinema em 1990 (há 32 anos), com “Uma linda mulher”, ninguém a conhecia. Esse filme ele foi ver primeiro, e lembro que ao chegar em casa, disse que eu precisava muito assistir porque a garota do filme era muito gata, “uma coisa absurda, mano”. Sequer se deu o trabalho de me dizer se o filme era bom ou não. Pronto, lá fui eu para o extinto cinema Condor no Largo do Machado, conferir o filme e claro, a atriz. Saí mudo, com sorriso bobo e “apaixonado”. Julia Roberts se tornava uma unanimidade mundial. Ali nascia, de fato, uma atriz com inegável e raro star quality.
Anos depois, já trabalhando com atores, ouvi esse termo do Ricardo Waddington, que na época ainda dirigia novelas na TV Globo e era craque em identificar essas preciosidades ainda na raiz.
Mas que raio de star quality é esse ? Por ser algo abstrato, é difícil explicar de forma didática, mas fácil de perceber.
.Para os mortais a má noticia: Star Quality não se treina, não se aprende nas escolas ou em qualquer workshop. Vem de “fábrica”.
É aquele artista que quando surge na tela ou no palco, nossos olhos não conseguem parar de olhar. É um magnetismo natural repleto de carisma, sem necessidade de artifícios, genuíno. Claro que cabe aos autores e diretores não só identificar essas características mas, principalmente, saber onde posicionar esse tipo de artista. No caso de Travessia e de Lucy especificamente, Gloria Perez e Mauro Mendonça foram cirúrgicos. Um golaço.
Mas e quem tem carisma possui esse star quality ? Não necessariamente. Um artista pode ter muito carisma, porém não ter esse magnetismo quase que enfeitiçante.
Para os mortais, a má noticia: ele não se treina, não se aprende na escola ou em qualquer workshop. Vem de “fábrica”. Por outro lado, e não menos relevante, é que só isso não basta e muito menos garante uma carreira bem sucedida. Não existe mágica ou magnetismo que transforme alguém num excelente ator.
Como é um atributo natural, se o ator não tiver talento e as ferramentas técnicas, isso pouco servirá profissionalmente.
O que não falta são exemplos de talentos desperdiçados pelos mais variados motivos, que tinham tudo para se tornarem grandes estrelas, mas se perderam por soberba ou acharem que não precisavam de um preparo contínuo.
Portanto, se você é um excelente artista, mas não possui o tal star quality, não se preocupe e durma tranquilo. Se estiver sempre bem preparado, controlar seu ego e tiver a sorte de obter boas oportunidades, terá muito trabalho pela frente. No fim das contas, é o seu talento, a consistência e a sua entrega que contam. O resto é bônus.
Voltando para “Travessia”, Gloria Perez acertou em cheio na sua protagonista. Lucy Alves é ótima atriz, tem força, tem ginga, tem borogodó, um lindo sorriso e um colorido muito além dos 4K.
De “Brisa” só mesmo o nome da personagem. Lucy Alves é o mais novo furacão da TV.
Ike Cruz é empresário artístico e fundador do Actors & Arts