No verão de 1946, uma bomba explodia na moda. O francês Louis Réard apresentava ao mundo o traje de banho em duas peças. Já sabendo que o look escandalizaria o mundo, ele, com inteligência, ironia e boa dose marketing, o batizou de biquíni, numa referência ao Atol do Bikini, no Pacífico, local que dominava o noticiário internacional devido a testes de bomba atômica realizados pelos americanos. Estava feita uma das mais importantes revoluções femininas a partir da moda e da apropriação do corpo como liberdade. Em 2021, esta criação ainda é parte do nosso vestuário e está completando 75 anos.
O poder explosivo captado por Réard dispensava traduções e foi imediatamente entendido no mundo inteiro. A apresentação do look foi na piscina Molitor, em Paris. Apesar de tudo ter parecido um sucesso de marketing, o biquíni demorou alguns anos para ser aceito pelo público em geral. E o cinema teve papel fundamental na popularização do look, com a cena icônica do filme James Bond com a atriz Ursula Andress, em 1962. O duas peças branco com um cinto e a imagem de uma das estrelas de Hollywood saindo do mar, empoderada e linda, com uma faca e uma concha nas mão tornou-se um dos biquínis mais famosos do mundo, até hoje.
Na mesma época, o francês também revelou ao mundo outra descoberta: Brigitte Bardot. A estrela do cinema começou a trabalhar como modelo para Réard aos 19 anos, e estampa algumas de suas campanhas, ainda com o visual de cabelos castanhos. Bardot conseguiu um de seus primeiros empregos como modelo do próprio Réard. Em 1953, ele contratou para posar com seus trajes de banho. Tendo se apaixonado pelas criações de Réard, Bardot acabou se tornando uma cliente regular da boutique Réard, e até escreveu uma dedicação pessoal ao inventor do biquíni seis anos depois.
Estas e outras histórias estarão na biografia sobre Réard, que está sendo escrita pela francesa Ghislaine Rayer, autora de “Bikini, la legende” (2016), em parceria com o Bikini ART Museum, o primeiro museu internacional da história da moda praia, sediado na Alemanha e que tem como representante e curadora na América do Sul a modelo brasileira Magda Cotrofe. O livro está previsto para ser publicado em 2022. Grande parte do acervo de Réard está preservada no museu, sendo trezes itens originais, entre eles o “Réard dourado”, que é conhecido como o biquíni historicamente mais valioso do mundo.