Nós últimos dias, acompanhamos a redução parcial do isolamento social na Europa, com reabertura de lojas e terrazas de restaurantes na Espanha e na França. Sem referências aqui no Brasil, olhamos para lá na tentativa de tentar compreender como será o comportamento das pessoas na saída progressiva da quarentena. Observamos, ansiosos, na esperança de que tudo corra bem. Este é um passo importante em que empresários e trabalhadores vão entender e experimentar na prática que mudanças devem ser feitas.
As filas na porta da Zara e da Louis Vuitton na França esta semana mostraram que muitos sentiram vontade de ir às compras no primeiro dia em que puderam sair do lockdown para coisas não essenciais. Sim, houve fila e, no caso de algumas unidades da Zara, em Paris e Bordeaux, as pessoas desrespeitaram a orientação de distanciamento, como mostraram muitos vídeos que circularam nas redes sociais. Estas mesmas imagens foram usadas por influenciadores de todo o mundo que julgaram aqueles que queriam comprar algum item como se eles representassem a maior parte da população e como se eles fossem os culpados pela desesperança na humanidade.
Sim, alguns podem achar que as pessoas não vão querer fazer os mesmos programas ou ter os mesmos desejos de antes. Alguns podem achar que a primeira coisa que as pessoas vão querer fazer na quarentena vai ser ir à praia dar um mergulho. Mas se as praias tivessem ficado cheias, os mesmos influenciadores provavelmente teriam criticado da mesma forma.
Tão cedo a vida não voltará ao normal, como a conhecíamos, mas provavelmente os desejos das pessoas tampouco mudará radicalmente em três meses. Prazeres como ir a um bar ou um restaurante ou comprar peças de roupa e acessórios daquela marca que você tanto gosta certamente estarão na agenda de muitos quando o comércio reabrir. E tudo bem, é este fluxo que vai ajudar a reestabelecer os negócios e contribuir para a manutenção dos empregos e a recuperação, aos poucos, da economia. Porém, como já escrevi em outra coluna, se você for consumir ou for a um restaurante quando começarmos a sair do isolamento respeitando a segurança para a saúde pública busque prestigiar o pequeno comércio e os empreendedores locais, os de bairro, os que mais precisam de todos nós.
Um amigo, dono de um restaurante na Espanha, em frente à praia, contou que em sua primeira semana de funcionamento após a reabertura ele teve um lucro semelhante ao funcionamento do restaurante no mesmo período do ano passado. Isso com 50% das mesas disponíveis, já que só pôde abrir a varanda e ainda assim precisou aumentar a distância entre as mesas para dois metros. Curiosa, perguntei como ele estava conseguindo fechar as contas.
Ele contou que reorganizou seu negócio. Em vez de se concentrar na gastronomia, ele agora está focando apenas no funcionamento como bar, o que torna seu cotidiano menos complexo na cozinha, exige um número menor de funcionários e menor investimento em insumos. “Por enquanto é o modo como consigo retomar o funcionamento com segurança para os clientes e também como encontrei um caminho para recuperar as contas do restaurante”, disse.
Outro ponto que ele destacou e pode nos dar uma pista sobre o comportamento do consumidor é que depois de mais de dois meses trancafiados em casa, os espanhóis querem celebrar um pouco a vida com pequenos prazeres como beber uma cerveja num restaurante de frente para o mar e comprar um presente para si mesmo. Então, fiquemos mais um pouco em casa e logo, aos poucos, retomaremos um pouco da normalidade da vida.
Julia Golldenzon é estilista especializada em festas e noivas. Formada em Comunicação Social pela PUC-Rio, ela trabalhou em marcas como Farm e La Estampa e, desde 2013, tem um ateliê no Leblon, que leva seu nome.