Depois de um período de pandemia que trouxe desafios tão complexos para várias marcas, Lenny Niemeyer escreveu um novo capítulo para a moda com seu desfile presencial, talvez o primeiro deste porte no estado do Rio desde março de 2020. A estilista celebrou os 30 anos de sua marca, domingo, no Caminho Niemeyer, em Niterói, com vista para a paisagem do Rio de Janeiro. Sua trajetória é tão incontestável que Lenny conseguiu a proeza de fazer fashionistas pegarem a ponte-aérea e atravessar a Ponte Rio-Niterói para encerrar aqui o São Paulo Fashion Week. Sua apresentação, ao pôr do sol, soou como uma brisa boa de um verão inesquecível para a moda brasileira, especialmente para a moda carioca.
Eu, que tenho uma marca há 15 anos, aplaudo mesmo, porque não é fácil ser criativo, empreender, manter qualidade e ser fiel a você durante três décadas no Brasil. Os desafios são enormes, ainda mais para uma mulher, que chegou ao mercado quando a maioria dos donos de marcas de beachwear eram homens. “Quando eu comecei só tinha lugar para os homens se sobressaírem”, lembra. De lá para cá, o panorama mudou bastante e hoje existem várias marcas menores produzindo e fazendo sucesso com moda praia. Ainda assim, arrisco dizer, Lenny continua sendo uma espécie de farol. Abaixo, a entrevista com a estilista sobre estes 30 anos de sucesso.
Qual a sensação de completar 30 anos de empreendedorismo na moda? É uma sensação de vitória e realização. É um caminho muito difícil. Comecei numa época muito complicada, eu era uma paulista fazendo moda no Rio de Janeiro. Empreender na moda? Eu atribuo à minha persistência. Eu não conseguir fazer outra coisa, só amava desenhar e fazer projetos. Comecei muito lentamente, quase que como um hobby. Me sinto bastante realizada e vitoriosa por esses 30 anos, que passaram muito rápido.
Como se renovar na criação por tantos anos? Só se renovando na criação que a gente consegue empreender por 30 anos na moda.
Qual a diferença da praia carioca de quando você começou para hoje? A moda praia mudou muito. Mas eu acabei indo por um lado já da diversidade desde o início, e de pensar que essa moda não se restringia só à praia e só à areia. Eu, vindo de fora, de uma outra cidade totalmente urbana, que é São Paulo, sentia falta de uma roupa que você pudesse usar em qualquer situação, na praia e fora da praia, que é a vida que a carioca leva e que foi minha grande inspiração. Eu sentia falta de trabalhar com materiais diferentes e, na época, com estampas diferentes. E eu acabei encontrando e conquistando esse nicho de pessoas que sentiam falta dessa moda mais completa, e nunca mudei.
Quais os destaques da coleção? Tem 30 anos de trajetória, e a cada década que comemoro, gosto de pegar um pouco de tudo o que eu fiz sem perder o DNA. É uma coleção complexa, porque tem que olhar para o passado, mas mirando no futuro. Criamos um olhar futurista, digital e que pudesse revisitar tudo o que eu fiz, como o desfile da luz e da botânica, com um olhar positivo para o futuro, porque acho que o mundo está precisando.
Que lição você daria para quem está começando uma marca de moda? Nunca mude sua identidade mesmo que não dê certo no início. Seja persistente e perseverante naquilo que você gosta, não precisa seguir uma tendência. Busque sua identidade e tente se atualizar, o mundo mudou muito, hoje tem o mundo digital, a estamparia evoluiu muito, a gente se atualizou na parte de construção de uma peça e na própria venda, com o impulso digital especialmente na pandemia. Sempre busque bons parceiros, pessoas que trabalhem com você e se identifiquem com a sua moda. Estes são seus grandes colaboradores e seus grandes parceiros no trabalho.