Julia Golldenzon

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O que iremos vestir depois da pandemia?

Quarentena transforma os guarda-roupas com a predominância de peças mais confortáveis e práticas

Por Julia Golldenzon
Atualizado em 17 jun 2020, 15h38 - Publicado em 17 jun 2020, 15h27
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  • Roupas confortáveis e utilitárias ganharam espaço neste primeiro semestre de 2020 em função da quarentena. Um fotógrafo de street style que sair às ruas hoje confirmaria pelas fotos que as pessoas estão usando sapatos baixos, calças compridas, blusas sequinhas que não precisam passar e bolsas mais práticas, além da máscara, claro, item fundamental. 

    Uma roupa para cada ocasião. Normalmente é assim. O que vestimos acompanha o estado de espírito, a forma de se mostrar ao mundo e as necessidades de cada momento da vida. Nosso guarda-roupa muda ao longo dos anos para se adequar, desde que nascemos até a velhice. Isso se levarmos em conta só a esfera individual. Do ponto de vista coletivo a transformação do vestuário para se encaixar no contexto histórico e social é ainda maior, como estamos testemunhando agora, na pandemia do coronavírus.

    Não à toa, muitas marcas readequaram sua grade de produtos e estão investindo em roupas para se usar em casa, como mostra esta reportagem de “Veja Rio”: Pijama é o novo item essencial na temporada de confinamento, em que eu e outras estilistas falamos sobre o tema. No meu ateliê, especializado em looks de festa e noivas, também repensamos a marca. Enquanto ainda não for seguro nos reunirmos em festas, vamos usar “roupa de ficar em casa”, sim, mas que seja com estilo, porque isso afeta até nossa autoestima e nossa motivação para enfrentar as tarefas do dia. Observando essa experiência que a maioria de nós está vivendo de ficar em casa, lançamos uma linha de homewear com conjuntos de tricô personalizados e pijamas de seda para serem usados dentro e fora de casa – porque em algum momento poderemos sair com segurança (assim esperamos!) e basta mudar a produção para o pijama ganhar cara de “roupa de sair”.  

    Ao longo da história, é possível observar essas transformações da moda em tempos de crise para acompanhar as necessidades da sociedade. E essas mudanças acabam sendo incorporadas mesmo depois destes períodos, e se destacam os estilistas que melhor interpretam esta influência. Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), por exemplo, as mulheres começaram a trabalhar. Especialmente nas classes mais baixas, exerceram ofícios masculinos, enquanto as de classe mais alta eram chamadas para auxiliar orfanatos e enfermarias. A nova rotina exigia roupas mais práticas, próximas do corpo e confortáveis, como agora. Os chapéus, antes usados de maneira exuberante e nada fáceis de portar, diminuíram de tamanho e passaram a ser mais discretos, os chamados “cloche”. As saias, antes longas, encurtaram um pouco para dar mobilidade às pernas.  

    Uma jovem estilista captou estas mudanças durante a guerra e após este período, injetando, doses de glamour e democratização, se consolidou como nome fundamental na moda: Coco Chanel. Foi assim que a moda que marcou os anos de 1920, portanto, pós guerra, se diferenciou radicalmente das roupas usadas antes da guerra, que aprisionavam os movimentos com saias volumosas, corseletes e golas altas, tudo bem fechado.

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    Se nos anos de guerra, as cores sombrias predominaram no guarda-roupa por exigência e espírito do momento, nos anos 20, as mulheres celebraram com sedas, organzas, bordados e brilhos, livres de toda a tristeza, incerteza e angústia que as acompanharam na década anterior. As roupas continuaram mais confortáveis, consequência da vivência nos anos de guerra, mas reincorporaram o glamour de um jeito novo. Foi com a crise que as mulheres e os estilistas descobriram que era possível e necessário uma nova forma de vestir. E nós, como iremos nos vestir depois da pandemia?

    Julia Golldenzon é estilista especializada em festas e noivas. Formada em Comunicação Social pela PUC-Rio, ela trabalhou em marcas como Farm e La Estampa e, desde 2013, tem um ateliê no Leblon, que leva seu nome.

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