A pandemia acendeu novos holofotes para a Indústria Criativa, e o streaming entrou de vez no gosto do público. Desde o início da crise da Covid-19, houve um aumento de 63% no tempo de utilização de streaming no mundo. No Brasil, entre a população com acesso à internet, 86% assistiu a vídeos, filmes ou séries on-line. Estudo da Global Screen Production, “The Impact of Film and Television Production on Economic Recovery from COVID-19”, mostra que a retomada de filmagens e gravações audiovisuais será um forte impulsionador da retomada das economias, já que até 67% dos gastos da produção audiovisual são direcionados a serviços e insumos não necessariamente vinculados à indústria audiovisual, como hospedagem, transporte, segurança, entre dezenas de outros.
Não é de hoje que muitas cidades do mundo vêm apostando na indústria audiovisual como mola propulsora da economia. Para isso, realizam várias medidas como criação de incentivos governamentais no desenvolvimento de profissionais criativos, apoio financeiro e institucional para eventos e festivais. Detroit, Montreal, Novo México e – para ficar na vizinhança – Medellín e Bogotá, na Colômbia, Mendoza, na Argentina, são alguns exemplos de cidades que já largaram na frente nesse sentido.
E o Rio de Janeiro? É preciso calibrar a infraestrutura já existente e criar instrumentos para promover a transformação vista em outras partes do mundo. Para isso, tanto a dimensão setorial quanto a territorial do desenvolvimento da indústria criativa merecem atenção. A vocação audiovisual da cidade e do Estado está mais do que demonstrada. Trabalhar objetivamente para o resgate e estímulo desse setor é uma saída importante para a retomada do nosso Estado.
Nova York recebe 800 produções audiovisuais por ano e a população compreende e apoia os benefícios tanto econômicos como na autoestima dos cidadãos. Pensando no pós-pandemia, Abu Dhabi investiu US$ 6 bilhões na economia criativa para sair da dependência da indústria do petróleo e entrar na nova economia
A dimensão territorial foi muito discutida em uma das edições deste ano do Pensa Rio que tratou sobre Nova Economia, “Economia Criativa e do Entretenimento”. A importância de pensar caminhos para inovação a partir da infraestrutura e das vocações regionais foi uma das ideias registradas no encontro. “Quando se pensa no conceito de economia criativa, ele está intimamente ligado à renovação de territórios, à capacidade que empreendimentos artísticos e ações culturais têm de regenerar bairros e trabalhar a partir da potência desses bairros”, afirmou Marcus Faustini, Secretário de Cultura da Cidade do Rio.
É neste sentido que vem sendo discutida a proposta do Distrito Rio Criativo. Além de contar com infraestrutura de estúdios, rede hoteleira, restaurantes e transporte, seria muito proveitosa e mais simples a mobilização de grandes equipes de filmagem nas ruas do distrito que, não por acaso, seria criado na região da que a prefeitura conhece como AP 4.0.
Ali, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, formou-se um plantel da Indústria Criativa, com equipamentos já existentes como Riocentro, Polo Rio Cine & Vídeo, Cidade do Rock, Jeunesse Arena, além dos estúdios Globo, Record e diversos outros. São espaços unidos pelas produções artísticas, que dialogam com o desenvolvimento do turismo e da hotelaria, dos bares e restaurantes da região, hoje já abastecida por transporte público, aeroporto e unidades de saúde. Essa é uma indústria que impacta por exemplo na segurança da região no turismo e na atração de talentos para o Rio.
Cenário icônico em obras estrangeiras, a cidade já faz parte do imaginário coletivo na produção audiovisual. Tem em seu currículo produções nacionais mundialmente reconhecidas e apresenta um ecossistema na Barra da Tijuca já bem estabelecido.
O que falta? Combinar entre os atores. Um distrito criativo só terá desenvolvimento efetivo através da criação de uma governança em que participem todos – as empresas de conteúdo e produção, profissionais, estudantes, artistas, produtores, e as grandes empresas da indústria. A partir da garantia de segurança jurídica e perenidade da iniciativa, esta é uma oportunidade para parceria entre atores diversos, investimentos privados e infraestrutura pública. A sociedade recebe de volta geração de empregos, renda, uma cidade mais organizada limpa e segura, e a volta de uma elevada autoestima. Seria um exemplo e tanto de inovação.
Coluna escrita em parceria com Leonardo Edde, presidente do Sindicato da Indústria Audiovisual – Sicav e Vice-Presidente da Firjan.
Julia Zardo,
Gerente de Ambientes de Inovação da Firjan e professora de empreendedorismo da PUC-Rio. PhD em Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento pelo IE – Instituto de Economia da UFRJ. Mestre em Comunicação e Cultura pela ECO – Escola de Comunicação da UFRJ.