Para inovar é preciso ser grande, ter dinheiro para investir, fazer algo novo e que nunca foi feito antes. Se você acredita que inovação tem a ver com essas ideias, é hora de rever seus conceitos. Para inovar, precisamos estar disponíveis para encontrar, conviver e aprender com o diferente e, assim, gerar novas soluções para os problemas. Muitas vezes é a forma de olhar, ou o famoso mindset, que faz a diferença.
Talvez você já tenha ouvido essa história: se você tem uma maçã, encontra com um amigo que tem outra e vocês trocam as suas frutas, o que sai desse encontro? Cada um com uma maçã. Mas se você tem uma ideia e encontra um amigo que tem outra ideia, o que sai daí são diversas novas possibilidades e ideias: a sua, a dele e outras várias, novas, que surgem exatamente da interação entre diferentes formas de pensar, diferentes visões de mundo, diferentes experiências. Assim se dá a inovação: na interseção, na diversidade.
Mais da metade dos empregados e dos fundadores das maiores empresas do Vale do Silício, na Califórnia, berço das maiores empresas de tecnologia do mundo, são estrangeiros. Por quê? Porque a diversidade de olhares é importante. Para termos empresas valiosas para o mundo, precisamos resolver problemas importantes para o mundo. Com certeza não conseguiríamos pensar em soluções inovadoras se estivéssemos olhando tudo a partir da mesma ótica, cultura ou disciplina.
Essa ideia não é nova. No livro “O Efeito Medici – Como Realizar Descobertas Revolucionarias”, lançado há 16 anos, Frans Johansson fala sobre familia Medici, conhecida pelas ações de mecenato e patrocínio das artes e humanidades durante o Renascimento em Florença, na Itália, no século 16. Para criar o caldeirão cultural que ali existia, foi importante cultivar um ambiente favorável ao encontro e à interseção de ideias. Para o autor, ideias inovadoras surgem a partir daí. Existiria um ponto imaginário onde variados campos do conhecimento e diferentes culturas se encontram e se conectam, permitindo que conceitos estabelecidos sejam revisitados e recombinados criando ideias inovadoras.
Mas quais foram as condições que possibilitaram ou favoreceram este ambiente tão favorável ao cruzamento e à interseção de ideias? E hoje? Como podemos replicar estes ambientes e criar esses encontros inovadores dentro de nossas empresas, iniciativas ou cidades?
Dentro das empresas, experimentar contratar de forma diferente, pessoas diversas, usando novos parâmetros pode ser um caminho. Criar times de trabalho multidisciplinares, não-hierarquizados e orientados à solução de desafios já provaram ser uma ótima estratégia. A inovação aberta e a criação de redes são cada vez mais utilizadas e valorizadas pelo diferencial competitivo que já têm provado.
Nas cidades, um desafio é criar ambientes que favoreçam os encontros e as trocas, as interseções de que falava Johansson, ao tratar sobre os tempos inovadores da Itália renascentista. Quando estimulamos a diversidade dentro destes ambientes, favorecemos os encontros fortuitos e a serendipidade, que são descobertas feitas aparentemente por acaso e que mudam a trajetória da história. Foi assim que o olhar de um jovem de 17 anos, no terceiro dia de estágio na NASA, descobriu dois novos planetas, em fevereiro deste ano. Ele identificou um padrão inesperado de dados captados por um satélite. Wolf Cukier era um dos melhores alunos da escola? Podia ser. Com certeza foi um menino curioso e questionador, que pode ter recebido da família ou da escola estímulo para sempre pesquisar. Mas os dados estavam lá, já eram recolhidos e armazenados. Ele olhou com um novo ponto de vista, a partir de um novo lugar.
Em tempos em que a dualidade de opiniões tem sido vista quase como um convite aos extremos, a inovação nos convida a pensar junto e dialogar sobre como resolver os problemas, aproveitando o que cada um tem de melhor, na diferença. Nossas ideias, produtos, empresas, soluções e propostas só serão relevantes se resolverem problemas relevantes para o mundo, a partir da soma de ideias, saberes, experiências, culturas e vivências diversas. É isso o que gera um ambiente de inovação. E é sobre isso que falaremos aqui, a partir de agora, mostrando como o Rio está respondendo aos desafios da inovação. Você vai se surpreender.
Julia Zardo,
Gerente de Ambientes de Inovação da Firjan e professora de empreendedorismo da PUC-Rio. PhD em Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento pelo IE – Instituto de Economia da UFRJ. Mestre em Comunicação e Cultura pela ECO – Escola de Comunicação da UFRJ.