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Julia Zardo

Por Julia Zardo, professora de empreendedorismo e gerente de ambientes de inovação Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Inovação e Sociedade: uma conversa sobre desafios, oportunidades e impactos das práticas inovadoras na vida de todos nós

Mercado de trabalho no Rio de Janeiro: desafios e oportunidades para 2025

Além das questões conjunturais é importante lembrar que o mercado de trabalho global está passando por transformações estruturais

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Atualizado em 28 jan 2025, 16h32 - Publicado em 28 jan 2025, 16h28
A Indústria Criativa emprega mais jovens do que a média dos setores
A Indústria Criativa emprega mais jovens do que a média dos setores (Ramadã Winer/)
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Ano novo e o Brasil vem apresentando sinais positivos de recuperação econômica, refletidos na expressiva queda da taxa de desemprego. Após atingir 15% em 2021, o índice nacional recuou para 6,2% em 2024, a menor marca da história recente. Porém, quando analisamos o cenário fluminense, a realidade é um pouco diferente. O estado do Rio de Janeiro enfrentou, nos últimos anos, uma “tempestade perfeita” de crises econômicas e políticas. Em 2015, o estado começou a sofrer os impactos da redução nas receitas de commodities, resultado da queda do preço internacional do petróleo, que, associada ao escândalo da Lava Jato, paralisou investimentos importantes da Petrobras no estado. Somou-se a isso o fim das obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas, que provocou um forte abalo no mercado de trabalho local. A pandemia foi a pá de cal para qualquer tentativa de recuperação econômica, afetando duramente setores como o turismo e a economia criativa, que eram alternativas promissoras para a retomada do crescimento.

Essa combinação de fatores ajuda a explicar por que a taxa de desemprego do Rio de Janeiro ficou e ainda está dois pontos percentuais acima da média nacional. Apesar de ter acompanhado a recente queda no desemprego nacional, o Rio segue liderando o ranking das maiores taxas do país, evidenciando que há um longo  caminho a ser percorrido. Assim, o contexto atual nos revela questões distintas. Por um lado, há uma forte recuperação do mercado de trabalho; por outro, o estado ainda apresenta a maior taxa de desemprego do Brasil.

À luz desse cenário, é importante ressaltar que o número de pessoas que estão desempregadas há mais de dois anos no estado é o maior do Brasil. Para se ter uma ideia, 36% dos desempregados do Rio de Janeiro estão nessa situação, enquanto a média nacional é de cerca de 20%. Além disso, uma análise socioeconômica revela que, entre os desempregados de longa duração no estado, 22% são jovens de até 24 anos, contra uma taxa de 13% no país.  Em outras palavras, todo o contexto de crise que afetou o Rio nos últimos anos trouxe consequências bem específicas e preocupantes para o estado.

Isso nos faz concluir que esses números evidenciam um mercado de trabalho desigual: enquanto algumas pessoas encontram oportunidades em setores aquecidos, outras enfrentam barreiras persistentes para se recolocar. Esse cenário exige soluções estratégicas de todas as partes envolvidas.

Do lado dos empregadores, é crucial adotar um olhar mais atento para jovens, que são grupos frequentemente subaproveitados no mercado de trabalho. A indústria criativa, aliás, pode ser um dos caminhos para reduzir essa lacuna, pois emprega mais jovens do que a média dos setores. Talvez porque os jovens apresentem domínio das tecnologias, linguagens e plataformas digitais fundamentais para o desenvolvimento desta indústria. Trabalhar a qualificação de mão de obra no setor e oferecer mais oportunidades para essa geração, portanto, pode ser um caminho assertivo para o Rio de Janeiro, além de consolidar a indústria criativa, vocação natural do estado, como uma das alavancas para o nosso desenvolvimento.

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Os novos rumos da empregabilidade

Um exemplo de formação na indústria criativa que vem impactando a vida de muitos jovens no Rio de Janeiro é a primeira Academia de Cinema da Rocinha (ACR). Criada por Marcos Braz, CEO da 2Base Filmes, há pouco mais de um ano, a escola tem o objetivo de despertar o potencial artístico e criativo dos talentos do morro e de favelas vizinhas. Através de cursos, workshops, cineclubes, palestras e bate-papo com cineastas e atores, a ACR pretende não só se tornar referência nas produções cinematográficas das favelas, mas promover uma transformação nas narrativas audiovisuais sobre essas regiões. Até agora 35 alunos já se formaram e, conforme o fundador, pelo menos 10 deles já estão atuando no mercado audiovisual como freelas e também em projetos para as grandes Globoplay e Netflix Brasil. Outro formando ainda foi convidado a trabalhar como caracterizador de um filme dirigido pelo reconhecido diretor português, Basil da Cunha. Aí está uma iniciativa que mostra a força da criatividade e do potencial dessa indústria na geração de emprego e renda e, especialmente, na profunda transformação de realidades.

E por falar em audiovisual, conforme relatório recém saído do forno da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), em 2022, a produção global de filmes atingiu 8.748 títulos, um aumento de 15%. A Índia liderou com 29% da produção global,  mas o Brasil também aparece entre os principais destaques, junto de países como China, México e Turquia. Mas não é só isso. O relatório também mostra o quanto a digitalização está transformando a economia criativa. Os serviços de streaming, por exemplo, expandiram sua participação no mercado global de música em 10,4% ano a ano e agora representam 67,3% das receitas globais da indústria musical. A inteligência artificial (IA), segundo o estudo, se mostrou um motor-chave dessa mudança, aprimorando a criação, distribuição e consumo de conteúdo. O Report Macrotendências 2025-2026 da Firjan também indica que empresas e pesquisadores estão criando suas plataformas e se unem  às máquinas para potencializar o trabalho adaptado aos colaboradores e parceiros.

O que podemos concluir? Além das questões conjunturais, como a recuperação econômica, é importante lembrar que o mercado de trabalho global está passando por transformações estruturais com a digitalização, automação e, claro, a inteligência artificial moldando cada vez mais os rumos da empregabilidade. Adaptar-se a essas mudanças será essencial para criar um futuro mais equilibrado e promissor para o estado do Rio de Janeiro. E a indústria criativa caminha de mãos dadas com essa agenda.

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Este artigo foi assinado em parceria com Jonathas Goulart, gerente de estudos econômicos da Firjan.

 

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