Há uns bons 2.500 anos, Heráclito dizia que era impossível entrar duas vezes no mesmo rio, que havia um sol novo a cada dia e que nada era permanente, exceto a mudança.
Não é mesmo uma novidade dizer que tudo muda o tempo todo, mas quando vemos o desaparecimento de marcas como Blockbuster, a saída da Grã-Bretanha da União Européia (Brexit) ou o cenário político nacional e internacional, fica mais fácil perceber que a velocidade e as reviravoltas de impacto são mesmo um fato novo.
Hoje chamamos de VUCA esse mundo que, milênios atrás, Heráclito vislumbrou como em eterna transformação. Já ouviu falar em mundo VUCA? Volátil, incerto (do inglês uncertain), complexo e ambíguo, VUCA é um conceito criado pelo exército americano para descrever a realidade pós-Guerra Fria: um mundo de mudanças rápidas e de realidades atualizadas em curto espaço de tempo.
Um bom exemplo de volatilidade é a realidade dos mercados. Se nos anos 80 as empresas faziam planos de médio e longo prazo (acreditando na premissa de que em 5 ou 10 anos tudo estaria igual), hoje sabemos que a qualquer momento as coisas podem mudar. Esse mundo imprevisível acaba por propagar uma sensação de incerteza, uma percepção de que alguns elementos estão para além do nosso alcance e fogem do nosso controle.
Essa sensação é quase sempre confirmada pela complexidade de relações, comportamentos, modelos econômicos. A resposta ao complexo costuma ser uma simplificação que nos empurra para a dicotomia, para a ambiguidade. Um exemplo de ambiguidade? As pós-verdades, as verdades e até as mentiras publicadas em redes sociais.
A real é que o mundo VUCA assusta, demanda e cobra. O mundo VUCA morde, mas também assopra. É ele quem te faz revisitar convicções, corrigir trajetórias, escutar de forma mais consciente, refletir, redesenhar, refazer, reaprender. O mundo VUCA é “mãedrasta”: te cuida, te provoca, te cutuca e te recompensa.
Aproveitar o lado bom desse cenário liquidificador (para juntar Cazuza e Bauman num conceito só) depende de ferramentas. Um bom conjunto de medidas antifragilidade te ajuda a lidar com momentos de pressão e mudança abrupta. Métodos ágeis te permitem acolher a velocidade e a complexidade das coisas e das relações como oportunidade para gerir rotinas e projetos de modo mais eficiente.
Contudo, nada é mais potente para lidar com o mundo VUCA do que a consciência. Pessoas e negócios conscientes acolhem as duas faces dessa realidade em permanente transformação como oportunidade, preferindo o fazer ao reclamar.
No fim do dia, pessoas e negócios conscientes sabem que a chave do sucesso é ser íntegro e, ao mesmo tempo, flexível; ter as melhores ferramentas na mão e saber o momento certo de usá-las. A chave real é ser e estar VUCA.
Por isso, amigo leitor, deixo aqui uma sugestão: VUCA-SE!
O teu melhor eu vive mais no estar do que no ser.