Milhares de metros quadrados, dezenas de expositores, uma infinidade de visitantes e muito, muito álcool jorrando nas muitas novidades apresentadas nos dois dias do Bar Convent Brasil, carinhosamente apelidado de BCB. Foi a segunda edição no Brasil, desta feira que é a maior do setor no mundo. Já tivemos uma edição de 2019, pré-pandemia, que foi um sucesso: 105 marcas espalhadas por cerca de quatro mil metros quadrados debutaram naquele ano. Passado este martírio pandêmico, o BCB 2022 foi ainda mais forte. Eu estive palestrando por lá, a convite do Clube do Barman. Muitas novidades, muitos desafios, mas uma certeza: os produtos nacionais estão em alta, com força máxima na qualidade e muita ousadia nos lançamentos diversos. Bitters, bebidas envelhecidas, xaropes, bebidas alcoólicas, além de equipamentos e utensílios, foram apresentados em muitos estandes Made In Brazil.
A feira aconteceu em São Paulo nos dias 21 e 22 de junho passado. A procura e investimentos de multinacionais como Diageo e Pernod Ricard, associado aos pequenos e médios produtores e empresas, demonstram o fortalecimento do setor e os objetivos da categoria, que movimenta bilhões de reais anualmente. O Brasil é a bola da vez no setor etílico. Nunca se produziu bebidas complementares como atualmente. Bitters, vermutes e licores, antes comprados somente no mercado internacional, agora são fabricados com extrema qualidade nos alambiques pelo país. Esse movimento se fortalece a cada ano. O nascimento do gin nacional e sua valorização é sem dúvida o divisor de águas que a indústria nacional necessitava. O que antes era quase inexistente, por vezes ruim e cheio de preconceitos, agora é primordial.
Os produtos importados, principalmente aqueles de menor distribuição, como licores e bitters, estão cada vez mais caros e cada vez mais difíceis de ter à disposição de bartenders. A dolarização e as taxas de importação, legislação nacional e atravessadores dificultam e encarecem tais produtos. Estes empecílios, atrelados ao fato de que o consumidor atual quer diversidade, qualidade e algum tipo de sustentabilidade, abriram as portas de destiladores antenados e arrojados que não têm medo de idealizar, executar e dar a cara para bater.
Made In Brazil
À frente desta revolução etílica nacional estão destiladores corajosos e cheios de idéias para solucionar o problema de matéria-prima boa, barata e com qualidade. Num espaço bem bacana, montado com muita simplicidade e muitas novidades, a destilaria San Basile (@sanbasiledestilaria) foi a empresa nacional que mais apresentou novidades bem específicas. Só de bitters, o grande calcanhar de Aquiles da coquetelaria brasileira, a empresa lançou sete diferentes rótulos. Entre os mais distintos, dou destaque ao bitter de cacau, café e uísque, bem como ao bitter de raízes e ruibarbo. Pra qualquer bar que se preze, sabe se que conseguir o famoso bitter Peychauds, além de difícil, é bem caro. “Criei essa linha de bitters San Basile para quem busca fazer coquetelaria de alta qualidade, seja executando os clássicos com perfeição ou criando drinques autorais”, conta o master destilador e proprietário da destilaria, Renato Chiappetta. Mas além dos bitters, o que chamou bastante a atenção dos visitantes mais antenados foram os lançamentos de uma linha, batizada de Sambalab – edição limitada de alguns produtos de fazer inveja aos maiores destiladores do mundo. Playground de mixologistas, esta linha trabalha processos de envelhecimento e re infusão. Conversando mais a fundo, a ideia desta linha foi criar micro lotes de bebidas específicas para criar novas experiências. Entre os produtos mais diferentes, destaque para o gin armazenado em carvalho francês, infusionado com azeitonas verdes, ou ainda a cachaça descansando no carvalho francês que outrora recebeu Absinto, ou ainda, o whisky duck, infusionado no pêssego dentro de barris de carvalho americano e a brasileira amburana.
São profissionais deste porte, inovadores e corajosos, que estão mudando a mentalidade e chamando a atenção das gigantes. Tanto é verdade que, há pouco tempo, a gigante multinacional francesa Pernod Ricard adquiriu a marca nacional Amazzoni e hoje já tem um departamento específico para cuidar desta marca, que nasceu num apartamento carioca, em 2015. Ver um estande da fábrica de alambiques Santa Efigênia, cheio de novidades de destiladores e com projetos para montar todo tipo de destilaria é a prova cabal de que o mercado esta mais do que aquecido. Inúmeras outras marcas estavam expondo suas novidades e mostrando toda a versatilidade de suas linhas. Ver muitos profissionais de bar atrás de balcões ministrando palestras e demonstrando suas experiências foi muito enriquecedor. Muitos foram os bate papos na Arena principal. E fica aqui uma pequena crítica aos organizadores para a edição de 2023: isolem os locais de palestra e trocas de experiências para que as informações, tão preciosas, não se percam devido ao imenso ruído causado por milhares de pessoas degustando diferentes bebidas etílicas. Isolamento acústico é fundamental nestes locais de bate papo. Aos expositores que possuem seus estandes de degustação, a mesma dica: parem o serviço de drinques enquanto um convidado estiver falando com seus convidados. É desagradável demais tentar prestar atenção no que um palestrante tenta passar, enquanto se é atrapalhado pelo som de coquetelarias furiosas no mesmo espaço. Enquanto alguns só querem beber, muitos querem aprender e evoluir. Viva a coquetelaria e a industria nacional.
Cheers