Chegou a tão esperada época das festas juninas. Como é bom ver a mudança das estações, a despedida do outono, temperaturas amenas e muita, mas muita opção para se cultuar uma tradição genuinamente brasileira: festas de São João. Canjica, milho verde, pé de moleque, amendoim, pinhão, pamonha, bolo de rolo, quindim, pipoca, maçã do amor, bola de fubá, pudim, quentão, chimarrão, ufa. De norte a sul, a fogueira, quadrilha e casamento caipira, tem diferentes sotaques e muitas semelhanças: barriga cheia, arrasta pé e muita folia.
Como bom curioso que sou, fui pesquisar as origens desta festa tão tradicional por aqui, assim como o carnaval. Essa festa típica do interior brasileiro, que tem em Campina Grande na Paraíba o maior evento junino do mundo, nasceu na idade média, durante o Solstício de verão. Historiadores apontam que essas origens têm ligação direta com festas pagãs europeias, durante a chegada da primavera, onde se realizam as colheitas das plantações. Naquela época, o objetivo das festividades tinha um cunho holístico, ou seja, afastar maus espíritos e pragas que pudessem atingir ou prejudicar a colheita. Vale ressaltar que o solstício de verão, no hemisfério norte acontece exatamente em junho.
Quando o cristianismo se consolidou na Europa, esta comemoração pagã se incorporou ao calendário festivo do catolicismo, e logo, essa prática da igreja católica, facilitou a conversão de povos pagãos em cristãos convertidos e as festividades passaram a ter elementos cristãos. Figuras como São João, Santo Antônio e São Pedro (todos celebrados em junho), passaram a figurar como elementos típicos das festividades, dando um novo significado para estas festas. A comemoração chegou ao Brasil lá pelo século XVI. As festas JOANINAS, (assim eram chamadas), vieram exatamente como eram celebradas na Península Ibérica (Portugal e Espanha) durante a colonização. Antes o nome era uma referência direta ao Santo Católico, mas com o passar dos anos e diferentes sotaques, logo passou a ser chamada de festa junina, em referência ao mês da celebração.
Fogo, quentão e estilo
Hoje, as festas juninas são celebradas em milhares de cidades em todo território nacional. Já ultrapassou o mês de junho. Tanto é verdade que é comum termos festas julinas e até agostinhas. O que importa, realmente, é que a festa é de longe mais longa celebrada no Brasil e sim, temos aqui o maior São João do planeta. Cidades como Caruaru, Olinda, Recife, Campina grande, entre tantas outras de norte e nordeste, sul, sudeste e centro oeste. É a festa do povo. A festa do homem e mulher do campo. Do bolo de coco da nona gaúcha, a canjica da “mainha” nordestina. É o quentão paulista, cheio de brandy e canela, ou aquele gole da “marvada” pinga, da aguardente mineira.
Muitas são as bebidas Brasil afora, mas o quentão é de longe o símbolo mais forte da festa. O etílico patrimônio mais disputado, consumido e diferente que existe. Servido quente, temperatura ambiente ou até mesmo com gelo, depende de onde você esteja. Não quero desvalorizar as tradicionais batidas de coco, amendoim ou maracujá, amamos também, mas isso temos sempre, o ano todo. Quentão é quentão, saboroso, aromático e tradicional. Toda família interiorana do brasil tradicional tem uma receita de quentão que passa entre as gerações. Não importa onde você vai pular sua fogueira ou arrastar seu pé ao som da sanfona e zabumba, só não deixe de passar pela barraca do quentão. É fácil achar, basta seguir o aroma do vinho ou das especiarias como cravo e canela. Tome cuidado. É altamente apaixonante. Já estou com água na boca e vou aqui revelar uma receita típica do quentão gaúcho, de onde vem todas as minhas raízes e memórias desta festa. Mas também deixo uma receita super simples e tradicionalmente usada em muitos estados. Fique à vontade para reproduzir e experimentar, só não deixe de buscar uma festa para se apaixonar, provavelmente no seu bairro deverá ter muitas durante todo mês.
Cheers
Receita do Quentão tradicional
Ingredientes
- 1 litro de cachaça de boa procedência
- 600 ml de água
- 500 gramas de açúcar
- 1/2 xícara de gengibre em fatias
- 3 pedaços de canela em pau
- 10 cravos da índia
Vale ressaltar que a receita pode variar de acordo com o gosto do consumidor, podendo haver a adição de maior ou menor quantidade de certos ingredientes.
Modo de preparo
Em uma panela, coloque o açúcar e deixe derreter até formar um caramelo; e vá acrescentando as especiarias de sua preferência. Em seguida, adicione a água, deixando ferver por um período de cerca de 15 minutos. Logo após, acrescente a cachaça, e deixe ferver por mais 10 minutos. Deixe a bebida descansar e passe em uma peneira para retirar todos os sólidos, resultando somente no líquido que será consumido.
Receita do “Vinho Quente” sulista
Ingredientes
- 5 litros de vinho tinto comum
- 500 gramas de açúcar
- 1/2 xícara de gengibre em fatias
- 3 pedaços de canela em pau
- 10 cravos da índia
- Fatias de laranja e limao
- 10 gramas acafrão
Vale ressaltar que a receita pode variar de acordo com o gosto do consumidor, podendo haver a adição de maior ou menor quantidade de certos ingredientes.