Alvaro Garnero: “Quero rever o que me foi retirado na mão grande”
Empresário carioca inaugura o camarote Cafe de la Musique, só para convidados

O empresário carioca Alvaro Garnero, 56, sócio do camarote Café de La Musique Alma Rio, traz de volta o que para muitos é um verdadeiro deleite: camarote só para convidados: “O carnaval do Rio passa por uma transformação positiva, sendo o momento ideal para anunciar o Café de La Musique Alma Rio como um camarote, ao mesmo tempo em que retorna como beach club para diferentes players do mundo todo”, diz Alvaro.
A experiência começa com um ponto de encontro no Jockey, na Gávea, com partida para o espaço de 2.500 m² em três andares, incluindo um lounge externo e spa. No bar, rótulos do grupo francês Pernod Ricard e artistas internacionais, como o DJ Adam Port, do Keinemusik, e os brasileiros Seu Jorge, Silva e Marcelo D2. O arquiteto e urbanista João Uchôa, do Rock in Rio e COP 30, é o criador do conceito do camarote, antes “Alma Rio”.
A geração 40+ deve se lembrar do camarote da Brahma, um sonho do passado para a maioria, ali desde a construção do Sambódromo, em 1984, que, em 1991 (já em novo local), virou Nº 1, onde quase todos os desejos eram realizados — os confessáveis!
Garnero chegou como sócio do Nº 1 em 2016, chamado por José Victor Oliva, Flávio Sarahyba e Antônio Oliva (Zé continua no conselho, mas hoje é comandado pelos sócios Priscila Pellegrini, Ju Ferraz e Márcio Esher), para levar sua experiência em vendas de ingressos. Deu certo por cinco anos, até que Garnero foi desligado da sociedade (ele explica nesta entrevista).
O tempo foi passando, até que surgiu a oportunidade de voltar à Sapucaí com novos sócios (Alessandra Pirotelli, Bernardo Amaral, Pedro Caldas e a produtora Live Talentos) e um espaço completamente novo (coincidentemente, ao lado no Nº 1, com o diferencial de ser apenas para 1.000 convidados por dia, sem venda de ingressos, com investimento entre R$ 30 a R$ 40 milhões (desses, R$ 8 milhões só para atrações musicais), bufê de Morena Leite e assim vai.
Entre os nomes confirmados estão a modelo russa Irina Shayk, a modelo sul-africana Candice Swanepoel, o empresário italiano Giuseppe Cipriani, o empresário americano Jean-Pierre Conte, o empresário espanhol Alejandro Agag (fundador da Fórmula E, de carros exclusivamente elétricos), a atriz Marina Ruy Barbosa etc.
Alvaro vem de família tradicional carioca (filho de Ana Maria Monteiro de Carvalho e Mário Garnero), estudou nos EUA, onde se formou em Administração de Empresas (San Diego State University). Cresceu passando férias no sul da França, na casa da família, em Biarritz. Casou-se e teve seu primeiro filho, Alvaro Luiz Monteiro de Carvalho Garnero II, o Alvarinho, nascido nos EUA, em 1996.
Quando voltou ao Brasil, investiu em entretenimento — foram inúmeros restaurantes e boates até chegar ao clube Cafe de la Musique, em 2005, marca que solidificou seu nome como empresário da noite, chegando a ter 17 unidades. Desde 2007, com alguns intervalos, apresenta o programa “50 por 1”, na Record, tendo viajado por mais de 150 países. É também sócio do Café Society, em SP, com Dinho Diniz e o compositor Seu Jorge, uma das atrações do camarote.
Garnero é casado há nove anos, com a modelo Lou Montenegro, com quem tem dois filhos, Luma, de 4 anos, e Zay, de 1,5.
1 – Você frequenta a Sapucaí desde quando e qual sua ligação com o carnaval além dos negócios?
Vou desde sempre. Venho de uma família carioca-raiz, que os Monteiros de Carvalho. Até os 80 anos, minha avó (Eva Monteiro de Carvalho, morta em 2018, aos 99 anos) ia à Sapucaí, então a família sempre teve um camarote. O carnaval sempre foi uma fonte de inspiração e negócios também para o grupo fundado pelo meu avô (Joaquim Monteiro de Carvalho, o Baby), o Monteiro Aranha, que levava o pessoal da Volkswagen (trazida por ele para o Brasil), da Klabin (outra tradicional empresa familiar), pessoal da Moet&Chandon. Eu frequentava desde que era Brahma; era como um sonho ver aquilo, só com gente legal. Era como se eu estivesse numa grande festa com a magnitude dos desfiles das escolas de samba. Então, ali sempre foi um lugar que almejei. Sempre quis ter um camarote para convidados. Só que, pra isso, é preciso ter recursos, investidores, patrocinadores. É difícil fazer uma coisa que nós estamos fazendo hoje, que é o Café da la Musique.
2 – Como foi a experiência com o Nº 1? Você ganhou ou perdeu?
Em 2017, quando a Ambev saiu da Avenida, ela deixou um legado importante; daí, o Zé Victor me ligou e me chamou. Era quase novembro, bem em cima, e resolvi pegar essa oportunidade. E eu sabia como fazer, pois ele era o produtor do camarote da Brahma, não dono, e trabalhava para Ambev. O Nº 1 era um investimento. Eu falei: “Zé, qual o tamanho do problema?”. Eram R$ 7 milhões se perdesse. Ele nunca tinha vendido um ingresso na vida, e eu já tinha feito vários réveillons pelo mundo: tinha o Cafe da la Musique, com 17 clubes no país; daí levei a Ticket 360 para lá, que nos adiantou R$ 4 milhões. Também levei a Elo Cartões, que adiantou R$ 2 milhões. Dali o camarote deslanchou, não precisamos colocar nem um real, até porque começamos a vender: no primeiro ano, fizemos R$ 1 milhão, depois R$ 3 milhões, R$ 6 milhões, e chegamos até quase R$ 8 milhões de lucro quando eu saí (em 2020).
3 – Então qual o motivo da saída?
Foi um negócio mal resolvido. Estou no caminho da Justiça para rever o que me foi retirado na mão grande. Em 2020, veio a pandemia. Tínhamos um lucro de R$ 7 a R$ 8 milhões, e eu teria direito a quase R$ 2 milhões da minha participação, que eram os 27/30%. Daí o Zé Vitor me falou que, se me pagasse, ele quebraria, que precisaria do dinheiro para a empresa dele. E eu? Ele respondeu que eu sou de família rica, tenho programa de TV. Falei: “Porra, Zé, então me dá em partes.” Então, ele me deu R$ 50 mil, depois R$ 200 mil, parou de pagar por um ano. Na época, o Flávio (Sarahyba) me ligou, falando para eu apertar o Zé porque ele não pagaria porque estava comprando até cavalo para o filho (João Victor Oliva). Liguei para o funcionário dele, cobrando. E foi assim que fizemos mais um carnaval juntos, de muito sucesso. Recebi tudo que tinha que receber, mas aí ele me tirou da sociedade porque não gostou do jeito como cobrei. Fui embora, fiquei na minha, mas agora estou revendo com o Nelson Wilians (fundador do maior escritório de advocacia empresarial da América Latina), porque você simplesmente não tira a participação de alguém — isso é um negócio, não um evento; eu construí aquilo com eles. Então ainda vamos ter pela frente um bom tempo de processos na Justiça.
4 – Os seus negócios se misturam ao prazer: programa de viagens, restaurante com balada etc. Como você consegue separar as estações, ou ainda está aprendendo isso? A Lou reclama?
Virei pai depois dos 50. Tenho uma filha linda de 4 anos (Luma) e um filho de 1 ano e meio (Zay), então tirei um ano e três meses fora da TV para dar atenção exclusivamente para minha família, o que foi muito bom. Voltamos agora pra Record, no programa mais importante de jornalismo da emissora, com o maior Ibope. É tudo programado, então eu saía para fazer uma viagem, ficava um mês. A Lou me acompanhou em praticamente todas as viagens, depois ela ficou grávida. Então é tudo planejado: eu saio, gravo e consigo ganhar frente. A marca do Cafe de la Musique faz 20 anos, então fiz vários réveillons e agora estou dando uma repaginada, que é o camarote só pra convidados. Agora vamos abrir em Trancoso um beach club maravilhoso, no Rio, e quem sabe voltar para Floripa.
5 – Quais as novidades do camarote e por que voltar ao carnaval carioca?
Tem bastante gente conhecida. Não quero estragar a surpresa, mas nossa lista de convidados tem umas quatro celebridades internacionais de peso, mulheres lindíssimas, muitas personalidades políticas, uns dois ou três DJs pesados pra anunciar; então a gente vai ter essas experiências, algo extraordinário com os drinques, tequila premiada, vinhos e Perrier Jouët a rodo. Queremos deixar um gosto de quero mais, de que colocamos a âncora ali pra ficar. Voltei porque conversei com Gabriel David (presidente da Liesa), e ele está transformando o carnaval, é muito esperto. Antes, eles não tinham controle sobre os camarotes e o número de convidados, mas hoje isso acabou com as catracas. Ele sabe exatamente quantas pessoas, quantas cortesias, tem todo um mapeamento. E ele pegou o dinheiro desses camarotes e passou para as escolas de samba: R$ 13 milhões para nivelar todas. Fez o som, iluminação, vendeu os direitos de exclusividade para a Ambev, então pensei: o Gabriel vai revolucionar, e é disso que precisamos.
6 – Será o único sem venda de ingressos. Como não perder dinheiro e como foi essa mudança de nome em cima da hora?
O Zé construiu a vida do seu negócio em cima de networking. O Cafe de la Musique é uma marca forte, os gringos reconhecem e sabem que vai ser espetacular, então a gente mudou o nome por isso e deu certo, tanto que já tem mais de 300 gringos na lista. E correr riscos é condição de praticamente todos os negócios.
7 – Como você escolheu os envolvidos com a produção, além de bufê de Morena Leite, cenários, atrações, etc… Alguma surpresa?
Eu e Pedrinho (Caldas) fizemos o réveillon de Jericoacoara por dois anos; daí tem o Bernardo Amaral e a Alessandra Pirotelli, que é tia do Gabriel David (presidente da Liesa), com experiência de 26 anos no carnaval, promovendo o Rio através da Camarote Brasil no mundo, sua empresa de eventos, e ela tem essa concessão de 20 anos num camarote da Sapucaí. Estava se desfazendo de uma sociedade e só faltava uma peça, que era eu. Chamamos então o João Uchôa, craque dos palcos, que criou videomappings no primeiro andar, com luzes, e tudo muda conforme o cenário do Rio… Chamei o Seu Jorge, Silva e Marcelo D2 e vários DJs internacionais e nacionais.
8 – Você se considera um empreendedor louco? Por quê?
Você tem que ser louco, acreditar na sua loucura e realizar, entendeu? Não pode ter medo de tropeçar. Se a gente tropeçar e cair, levanta uma vez, duas, três… Às vezes, as pessoas não entendem a sua loucura, porra! Esse camarote, todo mundo me achou louco, dizendo que eu perderia milhões de reais, louco de competir com o Nº 1, com o camarote da Carol Sampaio (Nosso), com isso, com aquilo, que a gente entraria pelo cano, não sabemos fazer. Eu assumi essa loucura de fazer um negócio só para convidados. É loucura? Sim, mas a gente conseguiu. Temos investidores que acreditaram, então a gente está aí. Ser louco às vezes é bom. Meu programa de viagem, que era só pra ter 50 gravações, está aí até hoje, mesmo com muita gente dizendo que nunca daria certo, mas é o mais longevo da TV aberta. Então, a loucura, às vezes, paga, e a recompensa é grande.