Beth Goulart fala sobre suas transformações: “Esteja aberto ao novo”
"A arte é sempre um portal para mudanças"

A vida é uma história a ser escrita por cada um de nós, e cada fase tem sua beleza e seus aprendizados. Vivemos ciclos de nascimento e morte, desde nossa entrada até nossa partida para novas dimensões. Todos eles nos deixam marcas, nos provocam vivências, criam memórias, nos fazem crescer e, por isso, nos transformam.
Sou uma mulher de 63 anos de vida e 50 de carreira. Passei por muitas experiências, sou de uma família querida, me casei, me separei, sou mãe, avó, trabalhei com muita gente interessante, aprendi com muitos mestres, aproveitei cada uma dessa oportunidades para beber em muitas fontes de sabedoria. Aprendi, com meus erros e acertos, a cair e a me levantar, a semear e colher, a compartilhar meu olhar com outros olhares e ouvir de uma maneira diferente as respostas que a vida me dá.
Escrever me ajuda a ouvir minha alma e a me comunicar através do silêncio. É uma comunicação íntima, na solitude da leitura. É uma proposta de diálogo através das reflexões contidas no livro “O que transforma a gente? Breves reflexões para mudanças profundas”, que é uma troca de ideias sobre temas que cultivo em mim, como a espiritualidade, a Filosofia e a Literatura. E acredito que a arte é sempre um portal para mudanças. Reflito como a ancestralidade e o tempo são nossos sinalizadores de maturidade e autonomia, como a fé, a esperança e, principalmente, a consciência que nos ampara nas escolhas mais significativas de nossa vida.
Entender que a vida é um processo constante. E é preciso passar pelo processo para chegar ao propósito! A transformação dá sentido ao movimento, viver é transformar-se, é uma viagem da alma na escalada de seu autoconhecimento e na compreensão de que servimos a um propósito maior com nossos dons e potencialidades. Temos responsabilidades com o futuro do Planeta, com as novas gerações, com a humanidade, com um novo olhar mais amoroso para o coletivo.
No livro, faço minhas homenagens a personalidades e escritoras que me influenciaram, grandes mulheres que deixaram sua marca na história, e agradeço por tudo isso. O tempo nos dá lastro, sabedoria e nos abre uma infinidade de possibilidades de ação, mesmo numa sociedade etarista como a nossa, que não sabe valorizar a experiência como um legado, um saber fazer, uma bagagem preciosa de conhecimentos e compreensões. O tempo em que vivemos é cruel com a maturidade, por mais que o número de pessoas que irão envelhecer aumente a cada dia — a sociedade prefere não ver e não se preparar para essa etapa da vida. Envelhecer bem também é um processo, e manter a saúde física, mental, emocional e espiritual requer dedicação e cuidados, principalmente com a autoestima.
Você precisa se alimentar bem, abraçar seus amigos e sua família, praticar exercícios físicos e para o cérebro, caminhar num lugar bonito e tirar os sapatos para sentir a terra na sola dos pés, ver um lindo pôr do sol. Sorria mais, observe a vida à sua volta, leia bastante, procure dormir bem, vá ao teatro, escreva uma poesia ou uma lembrança boa, vá ao cinema, ouça uma boa música e comece a dançar.
Nunca deixe de sonhar — porque os sonhos são nossos desejos projetados no infinito e, quando paramos de desejar, paramos de existir. Nunca desista dos seus sonhos e de quem você é, pois seria a espera do fim antes de terminar o caminho. Marco Aurélio, o filósofo, dizia: “Viva cada dia como se fosse o último de sua vida”. Aproveite cada segundo para ser a melhor versão de si mesmo. Use o seu melhor vestido, seu perfume preferido, use a toalha de mesa especial, a louça mais bonita, os copos lindos que ganhou de presente para fazer um brinde a você mesma, comemore que está vivo e bem, e vá em frente.
Os altos e baixos da vida acontecem, são duros os golpes do destino, mas precisamos saber passar por eles sem perder a esperança. É preciso respirar profundamente para entrar em contato com a alma e tirar aprendizados na dor.
Esteja aberto ao novo. Temos que aprender, desaprender e aprender novamente na velocidade do tempo de hoje.
O tempo de mudanças é o agora, mas a escolha é de cada um.
Aceitar e contribuir com sua autotransformação ajuda para a transformação do todo, da qual fazemos parte.
Estamos todos interligados por essa rede de existências que se comunicam pela vibração do ar que respiramos, da terra que nos sustenta, da água que nos conduz e do fogo que nos transmuta.
Somos a eternidade num segundo e, por isso, conseguimos sentir em nós segundos de eternidade.
Beth Goulart, atriz e escritora, acaba de lançar “O Que Transforma a Gente? – Breves Reflexões para Mudanças Profundas”, seu segundo livro. E prepara a volta da peça sobre Clarice Lispector para 2025. É de uma família de artistas: filha dos atores Nicette Bruno e Paulo Goulart, nomes que fazem parte do afeto coletivo brasileiro. Já participou de mais de 30 novelas em várias emissoras e 12 filmes.