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Lu Lacerda

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Jornalista apaixonada pelo Rio

Juliana Brizola: “Namorado mais jovem. O 1º preconceito foi comigo mesma”

Apesar de tantas conquistas, mulheres ainda são vítimas de preconceito quando se relacionam com homens mais jovens

Por lu.lacerda
15 mar 2025, 07h00
Juliana Brizola
 (Divulgação/Divulgação)
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Estamos no século XXI e, apesar de as mulheres terem tantas conquistas, em todas as áreas, ainda são vítimas de preconceito quando se relacionam com homens mais jovens e muito mais criticadas do que quando se dá o oposto: homens mais velhos com as novinhas.

Isso acontece porque o padrão estabelecido ainda é o da mulher se casar com um homem mais velho, mais rico e mais poderoso. E, se elas invertem essa lógica, são consideradas ridículas, “gatosas” (mistura de gata com idosa), acusadas de não aceitar a própria idade, de querer se passar por garotinhas etc. E, quando os homens mais velhos se relacionam com jovenzinhas, são considerados experientes, bonitões, bem-sucedidos, bons partidos e viris. Basta dar uma olhada no nosso entorno e na esfera pública, para destacar inúmeros exemplos, que vão desde o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (ele 69, a Michelle 42, ao atual, Luiz Inácio Lula da Silva (ele 79, a Janja 57) e artistas, empresários, banqueiros.

Eu faço parte desse grupo de mulheres: aos 49 anos, namoro um homem 19 anos mais jovem. No início, tive muita dificuldade porque sempre me relacionei com homens mais velhos. O primeiro preconceito que tive de enfrentar foi comigo mesma: eu ficava constrangida em situações em que sentia olhares curiosos e incriminatórios, principalmente das mulheres.

Outras vezes, quando as pessoas descobriam a diferença de idade, a reação vinha com comentários que pareciam uma tentativa de elogio, mas, na verdade, só reafirmavam que a aparência está acima de tudo: “Nossa, nem parece que tem essa idade! Você está ótima, inteirona”. Escutei pessoas mais próximas questionando o motivo de eu não escolher namorar homem mais velho e mais bem-sucedido,  dando a entender que namorado mais jovem pode ter interesse em obter vantagens por se relacionar com uma mulher mais poderosa. Senti também o preconceito velado, aquele que muito diz com o silêncio. Além disso, por causa da diferença de idade, temos que lidar com o “risco” de sermos trocadas por mulheres mais jovens em um futuro próximo. Isso tudo me abalava.

Uma das minhas inspirações para enfrentar esse desafio foi a jornalista Fátima Bernardes, quando assumiu publicamente o namoro com o deputado Túlio Gadêlha, 25 anos mais novo do que ela. Identifiquei-me imediatamente com o casal quando, em entrevistas, ela declarou que o preconceito é “quase um massacre” e que o machismo se aplica quando a mulher quebra os padrões estabelecidos na sociedade. Como sou amiga do Túlio — amizade construída pela convivência quando fomos deputados do mesmo partido —, fui conversar com ele em um momento difícil. E Túlio, esse homem sensível, sábio e gentil, me ajudou muito ao dizer: “Por que é determinante que é o homem que vai encontrar outra pessoa? Não pode ser o contrário? À medida que o tempo passar, e com a certeza de que o relacionamento de vocês é especial, você vai superar”. Isso funcionou como uma virada de chave para mim. E, como eles, temos outros exemplos que encorajaram outras mulheres: Ivete Sangalo, 51, casada com o nutricionista Daniel Cady, de 38 anos; a apresentadora Sabrina Sato, de 43 anos, casada com o ator Nicolas Prattes, de 26; a humorista Tatá Werneck, de 37 anos, casada com o ator  Rafael Vitti, de 25.

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Temos ainda várias celebridades internacionais: as cantoras Cher, de 77 anos, é 40 anos mais velha do que o namorado, Alexander Edwards, de 37; Priyanka Chipra, 41, e o músico Nick Jonas se casaram com uma diferença de idade de 10 anos a mais para ela. Madonna só namora homens mais jovens. Nesses casos, fica a impressão de que só mulheres de mais idade bem-sucedidas podem ser livres o suficiente para quebrar tabu e assumir parceiros mais jovens.

Já uma amiga de 58 anos, que namorou um homem de 28, não venceu o próprio preconceito e acabou o relacionamento. Ela sentia muito constrangimento pelo  namorado ser mais novo que seu filho. Os comentários disfarçados de “brincadeira”, como “você está terminando de criar o namorado”, provocavam tanto sofrimento e vergonha que ela não teve coragem de contar para a família.

Esse preconceito existe em vários países, não é só brasileiro. Essa é uma das conclusões da pesquisa realizada pela antropóloga Mirian Goldenberg, autora do livro “Por que os Homens Preferem as Mulheres mais Velhas” (Editora Record), cuja leitura recomendo. Mirian, que estuda arranjos conjugais no Brasil, desde 1988, afirmou que “em todos os países onde pesquisou, existe preconceito quando a mulher é mais velha que o homem”. Segundo ela, no Brasil é mais aceitável que o homem se case com mulher mais nova porque aqui existe uma lógica de dominação masculina. Para desenvolver sua pesquisa, a professora entrevistou 52 casais que estão juntos há mais de 10 anos, sendo que os homens eram, no mínimo, 10 anos mais novos do que suas mulheres. Muitas delas têm filhos da idade do marido (ou mais velhos).

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Essas mulheres provaram que é possível assumir relacionamentos com homens mais jovens, driblando olhares e comentários preconceituosos. Não é a diferença de idade o mais importante para elas, e, sim, a autoestima em relação às demais mulheres e ao julgamento da sociedade.

Juliana Brizola é advogada e mestre em Ciências Criminais, ex-deputada estadual pelo RS, ex-vereadora de Porto Alegre, vice-preosidente da Internacional Socialista Europeia para a América Latina e Caribe (IA), instituição comandada pelo Presidente da Espanha, Pedro Sánchez.   

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