Outros carnavais: Tiago Ribeiro fala sobre os “blocos factuais”
Blocos que surgem a partir de notícias, homenagem aos artistas ou mesmo como forma de piada viraram um estilo de vida

Blocos que surgem a partir de notícias, em homenagem aos feitos de artistas ou mesmo como forma de piada, demonstram que os blocos de rua são um estilo de vida.
No carnaval de rua, cabe tudo! Há os megablocos comandados por artistas famosos e que arrastam milhões de foliões. Há os blocos tradicionais, que desfilam com sambas próprios dedicados a enredos específicos a cada ano… E há também os “blocos factuais”, que geralmente surgem para um desfile único, a fim de celebrar algum fato curioso ou fazer uma homenagem pontual.



No dia 12 de janeiro, por exemplo, uma semana depois de Fernanda Torres receber o Globo de Ouro de Melhor Atriz por “Ainda estou aqui”, o bloco “Sósias da Fernanda Torres” desfilou no Centro, começando na entrada do cinema Odeon. Quase que ao mesmo tempo, na Tijuca, o “Braba igual a mãe” fazia seu cortejo na Rua Padre Elias Gorayeb (onde a atriz morou durante a infância) e encerrou na praça onde fica o busto de Rubens Paiva (político retratado no filme), no mesmo bairro.


Para que um “bloco factual” surja, porém, não é necessário um fato tão marcante quanto a entrega de um inédito Globo de Ouro para uma atriz brasileira. Em 25 de janeiro, por exemplo, pelo zum-zum-zum da participação de Gracyanne Barbosa no Big Brother, desfilou o bloco “Omelete da Gracyanne”, saindo do Mirante do Pasmado, em Botafogo, com direito a estandarte caprichado e tudo.
A moda não surgiu agora: em 2023, por exemplo, desfilaram os blocos “Geleia da Shakira”, em alusão à teoria de que a cantora colombiana descobriu uma traição do marido, o ex-zagueiro espanhol Gerard Piqué, devido ao consumo da sua geleia na geladeira de casa; e o “Grammy para Anitta”, para ressignificar a perda do troféu de Artista Revelação na premiação internacional.
Contudo, ao que parece, agora a proposta veio para ficar. A cada notícia curiosa ou polêmica, os criativos organizadores dos blocos já criam um post nas redes sociais, brincando com a possibilidade de inventar um novo cortejo. Dependendo do engajamento da turma, ele ganha vida.
Na contramão de escolas de samba e de blocos oficiais que usam seus nomes como uma marca (seja no sentido mercadológico, seja como uma ferramenta para perpetuar uma tradição), os “blocos factuais” inventam nomenclaturas irônicas, de forma muito acelerada, se aproveitando da maior liberdade que os blocos não oficiais compartilham. Formados, muitas vezes, por um mesmo núcleo de organizadores, que desfilam a cada fim de semana do pré-carnaval usando um nome diferente, esses blocos apostam na força das redes sociais e no vínculo estabelecido com seus foliões como forma de atraí-los para o próximo desfile, independentemente do novo nome que o bloco escolher para sair às ruas na semana seguinte.
Antecipando em muito o calendário oficial da festa e antenados aos fatos do cotidiano, relacionados à cultura pop e às manchetes dos jornais, os blocos de rua provam, mais uma vez, que esse tipo de carnaval não é só uma brincadeira festiva, mas também um estilo de vida. Detalhe: os factuais nunca são os oficiais, mesmo porque o número de foliões é bem menor e podem surgir em qualquer esquina. Se liga nas redes e nos trending toppings e prepare a fantasia!
Essa e outras histórias envolvendo os blocos podem ser encontradas no livro “Os Blocos do Carnaval Carioca”, do jornalista Tiago Ribeiro, que será lançado nesta sexta (07/02), às 18h, no Espaço Multifoco, na Lapa. Tiago é jornalista, doutor e mestre em Arte e Cultura Contemporânea (UERJ). Professor de pós-graduação da disciplina História do Carnaval, com passagens pela Universidade Veiga de Almeida e Faculdade Censupeg.