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Luciana Brafman

Por Luciana Brafman, jornalista e professora da PUC-Rio Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Economia, finanças pessoais e comportamento financeiro até pra quem não gosta
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O Brasileirão e a Bolsa de Valores

A difícil tarefa de escolher 5 clubes, entre os 20 que disputaram a Série A de 2020, para montar uma carteira de investimentos "campeã"

Por Luciana Brafman
1 mar 2021, 11h41
Taça Brasileirão 2020
A taça do Brasileirão 2020 (Lucas Figueiredo/CBF/Veja Rio)
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Volatilidade e incertezas até o último minuto. Tensão. Ganhadores e perdedores. Muito dinheiro em jogo.

Poderia perfeitamente ser a Bolsa de Valores, mas é o Brasileirão 2020. Em ano de pandemia, foi um campeonato atípico, esquisito, sem torcida nos estádios, todos assistindo aos jogos em suas telas. Mesmo assim, dadas as regras e o cenário, o que vale é o resultado final. É assim, em campo ou na Bolsa.

Em vários momentos, o sobe-e-desce dos times na tabela lembrou a oscilação do mercado de ações. Bem como os investimentos milionários nas negociações dos jogadores e a sempre alta expectativa por gols. Tem melhor dividendo a receber? E, tal qual presidentes de estatais, técnicos de futebol perderam seus cargos ao longo do último ano, questionados por sua competência, pressionados por metas e afetados por politicagens de dirigentes. Nem vou falar da subjetividade da arbitragem, mesmo com o VAR, e as críticas que sugerem a naturalização de uma postura inaceitável seja na área esportiva, seja na financeira.

Mas, diferentemente da compra de uma ação na Bolsa – que requer análises de indicadores, de desempenho corporativo e da conjuntura econômica -, a maioria de nós não usa a razão na hora de escolher o time. Muitas vezes, o uniforme do torcedor é a primeira roupinha da bolsa da maternidade, e a escolha nem chega a ser uma escolha, mas uma herança de família. A partir daí, a paixão se instala e só aumenta com o passar dos anos, até que não haja mais racionalidade capaz de nos fazer abandonar o time do coração, mesmo quando ele perde “valor de mercado”.

Acompanhando as resenhas esportivas, os comentários de amigos e as zoações após o fim do campeonato, fica claro que a isenção é rara nas análises. Nesse ambiente em que a paixão se sobrepõe à razão, decidi desafiar o paradigma, apelando ao pragmatismo do mercado financeiro para montar uma carteira de investimentos fictícia com 5 clubes entre os 20 que jogaram a Série A. O objetivo é avaliar o desempenho da carteira, do mesmo modo que fazemos (ou deveríamos fazer) com nossos investimentos. Os pontos alcançados na disputa de 2020 serão comparados aos que forem obtidos ao fim de 2021. A partir de uma matemática simples, teremos um percentual de valorização ou de desvalorização nesta cesta de renda variável.

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A primeira coisa que me vem à cabeça é: nada de comprar papel sobrevalorizado, pois, no médio prazo, o mercado tende a corrigir os excessos. Assim, campeão, vice e terceiro lugar estão fora da minha carteira. Fizeram muitos pontos, mas com eficiência duvidosa. Cheirinho de bolha.

De forma inversa, ações baratas mas promissoras se tornam interessantes. É o caso do Sport, minha primeira escolha, principalmente com a renovação do contrato de Thiago Neves até o fim do ano. O Leão alcançou a 15a colocação, com apenas 42 pontos. Se o time fizer 52 nesta temporada, meta razoável, a valorização fica perto de 25%. Nada mal.

O segundo papel desta minha carteira é o Corinthians, que amargou a 12a colocação, incompatível com o futebol que apresentou contra o Internacional no jogo que definiu o Brasileirão. Percebe-se que, com incentivos, o Timão não entra pra perder. O desempenho do Corinthians neste campeonato foi o segundo pior do clube na última década. Mas, assim como ganhos passados não são garantia de retornos futuros no mercado financeiro, as perdas passadas não significam prejuízos eternos.

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Bragantino, em 10o lugar, está dentro do portfólio. É uma escolha cara (53 pontos) e arriscada. Pesou favoravelmente a performance do artilheiro Claudinho, já cobiçado aqui e ali por outros times. Seja como for, o risco faz parte do mercado de ações. Mesmo alguém de perfil moderado, como eu, precisa assumir algum risco se quiser um retorno melhor.

O Santos, com sua aposta na base, tem meu respeito. A formação de talentos é um indicador importante, um investimento de longo prazo. Foi um dos times com mais “pratas da casa” do campeonato, turma jovem, que corre – um valor fundamental no futebol moderno. A agilidade, hoje, é a alma de qualquer empreendimento de sucesso. Ficou em 8o, com 54 pontos, mas pode ir além.

Laranjeiras completa a carteira. Um hedge também caro, já que o Fluminense encerrou o campeonato em 5o lugar, com 64 pontos. Só que foi garfado, né? Superou percalços com um futebol consistente e maduro, abrilhantado pelos moleques de Xerém e por guerreiros já não tão moleques. Será, sem dúvidas, o próximo campeão brasileiro.

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É… Quase consegui chegar ao fim deste texto sem revelar minha paixão, mas, em tempos de transparência, o disclaimer se faz obrigatório: meu coração é verde, branco e grená, e – peço desculpas – a escolha do Fluzão não tem absolutamente nada de racional! Ele é parte da minha carteira sempre, haja o que houver.

Em homenagem aos 456 anos do Rio, aproveito o espaço para parabenizar o Flamengo pelo heptacampeonato (!) e para lamentar as quedas de Vasco e Botafogo. Esses dois tradicionais times cariocas, aliás, seriam ótimas escolhas para voltar à Série A este ano e poderiam compor a minha carteira com uma valorização fenomenal, “de criptomoeda”. Mas as finanças costumam se complicar com o rebaixamento, o equivalente a um rating negativo, que encarece o crédito e afasta investidores. Meu apetite por risco não chega a tanto.

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