Sou vegetariana, mas adoro um Bic Mac em forma de índice. Saído do forno, o indicador da “The Economist” de julho de 2020 me deixou especialmente curiosa, devido à volatilidade econômica da conjuntura atual, em que imperam as incertezas da pandemia do novo coronavírus.
Na visão da revista britânica – que criou o Índice Big Mac em 1986 – hambúrguer, alface, queijo, molho especial, cebola e picles num pão com gergelim podem acrescentar muito mais do que as cerca de 500 calorias prometidas pelo sanduíche. A ideia do indicador é comparar o preço do Big Mac em vários países do mundo e, a partir daí, indiretamente, comparar as moedas nacionais, medindo o quanto estão valorizadas ou desvalorizadas em relação ao dólar.
A metodologia leva em conta a Paridade do Poder de Compra, um conceito do universo econômico, mas que dá pra começar a explorar através do sanduba mais famoso do planeta. Medir o poder de compra em diversos países pelo Big Mac é possível porque ele é feito de modo padronizado, com os mesmos ingredientes na grande maioria dos locais onde a “The Economist” pesquisa os preços.
Se a receita da iguaria é padrão, seu valor deveria ser o mesmo em todos os cantos do globo. Só que não. Isso não ocorre devido a fatores econômicos e custo de vida de cada país. No Índice Big Mac, além dos ingredientes, estão embutidos custo de serviço, mão de obra, publicidade, aluguéis etc.
Na prática, a brincadeira consiste em converter para dólar o preço do Big Mac nos 55 países do levantamento mais a zona do euro, usando a taxa de câmbio vigente em cada localidade. Se o preço em dólar ficar mais caro que o preço do Big Mac americano, é sinal de que a moeda local está sobrevalorizada em relação ao dólar. Se ficar mais barato, a moeda está subvalorizada.
Outro modo de se chegar ao índice é dividir os preços dos sanduíches, a fim de encontrar a taxa de câmbio “ideal”. Por exemplo, aqui no Brasil, o Big Mac custa R$ 20,90. Nos Estados Unidos, US$ 5,71. Ao dividirmos um preço pelo outro, temos que a taxa de câmbio deveria ser de R$ 3,66, ou seja, um dólar equivaleria a três reais e sessenta e seis centavos no mundo do tio Ronald.
Mas a cotação hoje não é essa. Está em torno de R$ 5,34. O que isso significa? De acordo com o índice Big Mac de julho de 2020, significa que existe uma diferença de 31,5% entre as cotações de R$ 3,66 (a ideal) e de R$ 5,34 (a vigente), permitindo-nos concluir que o real está subvalorizado 31,5% em relação ao dólar.
Traduzindo, nossa moeda está 31,5% mais fraca do que “deveria” estar. Nosso poder de compra é menor nessa mesma proporção. Em janeiro deste ano, antes da pandemia, pelo índice Big Mac, o real estava subvalorizado em “apenas” 15,3%. Piorou.
Quem quiser se aprofundar no assunto e checar a realidade de outros países, pode acompanhar uma análise mais completa, com ferramenta interativa no link. É bem divertido.
Para os que querem consumir mais caloria econômica, vale ler a análise em que a revista usa a metodologia do Big Mac para a medição dos PIBs, sugerindo que a economia chinesa é ainda mais poderosa do que dizem as estatísticas oficiais. Sob o sugestivo título “How big is China’s economy? Let the Big Mac decide” (“O quão grande é a economia da China? Deixa o Bic Mac decidir”), a matéria põe lenha numa fogueira já quente entre EUA e China, potências que devem liderar a retomada econômica pós-Covid-19.
Como se vê, taxa de câmbio envolve uma série de questões na Economia, ao influenciar importações e exportações, inflação, guerras comerciais, fluxo de investimentos em Bolsa, turismo, dívidas internacionais, entre outras. Tudo isso impacta nossa qualidade de vida. E interfere até no consumo de fast food…
Apesar de não comer carne, sou fã desse Big Mac da revista britânica, por aproximar teoria do mundo real e tentar traduzir conceitos econômicos de grande dimensão e complexidade. Pego emprestada uma ideia da própria “The Economist” para finalizar por aqui: longe de ser uma ciência precisa, a “Burgernomics” é só uma maneira de tornar toda essa teoria mais fácil de se digerir.