Você entra no seu Facebook e descobre que seu ex está em “um relacionamento sério”. Aquele seu ex-namorado problemático, melancólico, carente, com explosões temperamentais, ciumento, inseguro, um inferno. Aquele ex que você deu um pé na bunda e saiu para comemorar depois. Ou não saiu porque já não tinha forças depois de todo o estrago emocional que ele fez.
Você começa a lembrar dos seus ex-namorados, ex-peguetes, ex-casos, ex-qualquercoisa. E se dá conta de que todos, TODOS estão com alguém. Estão com mulheres bacanas. E, quando você pensa em todos, estão incluídos aí todos os piores relacionamentos da sua vida. Os caras mais esquisitos, perturbados, egoístas, agressivos, folgados, possessivos, irresponsáveis, levianos, insensíveis, chatos, desinteressantes, vazios. Todos eles vêm à sua cabeça, de uma vez. Sabe aqueles sujeitos que a pessoa termina porque são intragáveis? Impossíveis de suportar? Então, estão nessa lista. Aqueles que não sabem ao que vieram, totalmente perdidos na vida, superficiais, que você não conseguia ter admiração e por isso terminou? Estão nessa lista. Aquele cara que vivia embriagado e dando vexame, além de ficar grosseiro e desagradável? Também tá lá com uma namorada ótima. E você?
Você tá aí há um tempão sozinha e louca para encontrar um cara legal. Palavra básica essa: legal. Mas falta o básico. Um cara do bem, que seja boa companhia, que não seja complicado demais, que seja bom de ter por perto.
Você já não está nem mais buscando um cara interessante. Já entendeu que o cara interessante muitas vezes dá trabalho demais. Interessante é uma palavra perigosa. Você não está mais fazendo questão de um cara bonitão, já acha que uma química razoável está valendo, não precisa ser ninguém que tire seu fôlego. Aliás, você já sabe que quem tira o seu fôlego na cama em geral tira também no resto. Você só quer um cara legal. Não quer mais um cara formado na melhor faculdade, que seja incrivelmente bem sucedido, que tenha situação financeira muito boa, que “tenha referência”. Não, você já passou dessa fase faz tempo.
Você já não faz questão de conhecer o cara num jantar de amigos nem nada disso. Você está inclusive em vários aplicativos, em busca de um cara legal, do jeito que for. Também não acha mais que o cara tem que ter uma idade próxima à sua e morar num bairro perto do seu. Você já está jogando vinte anos para baixo e vinte e cinco para cima se o cara for legal. E se o cara morar em outra cidade e até em outro estado, tem jogo. Basta ser um cara legal.
Antes, se o cara mandasse uma mensagem com algum errinho de português, já era. Mas agora o cara faz dois erros ortográficos por frase e você já tá achando que é engraçado e que tudo bem, na pressa as pessoas escrevem errado, faz parte. E nem todo mundo teve uma escola incrível e que tem outras coisas muito mais importantes do que escrever acerto com C.
Você ri lembrando que tempos atrás um cara que vestisse uma camiseta regata era eliminado na mesma hora por você, mas hoje você talvez fizesse uma piadinha e depois saísse feliz de braços dados com ele. Talvez nem fizesse a piadinha. Ia achar o cara “cafoninha fofo”.
Tá bom, tá bom. Talvez você não tenha relativizado tudo tanto assim. Tem umas coisas aí que você não atura e nem deveria mesmo aturar. Mas você já flexibilizou à beça. Por maturidade, evolução espiritual, carência ou resignação, já está topando até encarar uma pochete se ela vier com um cara legal. Não, pochete teria que vir com um cara BEM legal. Mas se viesse você encarava. Talvez.
Você só quer um cara legal. Não precisa ser muuuito inteligente, muuuuito gato, muuuuito culto, muuuuito bem sucedido, muuuuito sexy. Você não tá mais fazendo questão dos excessos. Se o cara souber te fazer rir e gozar, tiver alguns interesses e projetos em comum e gostar de você, tá valendo. Basta o cara oferecer o básico e ter condições emocionais de não estragar tudo a cada três dias. Porque homem sabe dar trabalho. E você já trabalha demais, anda cansada. Não quer ter que ficar apagando incêndio toda semana, só quer namorar. Ou talvez nem namorar, mas ter um cara legal por perto, falar com frequência, sonhar com ele de vez em quando, assistir um filminho, encostar o pé nele à noite. Não toda noite. O cara legal pode vir até de 15 em 15 dias, até de mês em mês. Sendo legal, você quer.
Você está refletindo sobre tudo isso, quando sua amiga te chama para sair para uma noitada e você pensa: será? Começa depois da meia noite… Preguiça, hein. Não tenho mais idade para isso não. “Vem, vai ser bom, a música é boa, a gente mata a saudade, e a entrada é de graça, achando chato você vai embora”. Tá bom… Eu vou.
A sua amiga conta que está apaixonada e você sente que ela tá vivendo mesmo um grande encontro. Achou o cara legal dela. Na verdade, achou um cara MUITO legal. Então que bom, você pensa, uma hora rola para mim também. Você dança, se diverte, toma umas cervejas e um gatinho quinze anos mais novo chega em você e é uma simpatia. Aí você, que já flexibilizou a questão da idade, dá assunto. Vocês passam a noite se agarrando loucamente e ele vai pra sua casa. Vocês viram a madrugada se comendo e curtindo intensamente esse momento gostoso. O cara não quer nada com você e nem você com ele porque não tem nada a ver mesmo, por várias razões. Mas naquele momento foi uma delícia e fez o maior sentido. E aí você pensa: existe muito cara gente boa. Esse pode não ser o cara para mim, mas seria um cara bem legal para outra. E, cá entre nós, a noite foi sensacional.
Você leva o cara até a porta, dá um beijo e se despede dele feliz. Era para você voltar para a cama e desabar de cansaço, mas não. Você está cheia de energia. Aproveita para trabalhar em uns projetos, colocar a casa em ordem e correr no calçadão, que sempre te faz bem. Você curte cada segundo do pôr do sol e respira o mar calmo e lindo. Volta para casa sorrindo. Fala com amigos por telefone e mensagem. Decide não sair à noite. Fica relaxando em casa, faz uma comida gostosa e assiste a um filme.
Está sozinha, alegre, plena. E você se dá conta de que você não está em busca de alguém nem esperando ninguém aparecer. Você está vivendo e sendo feliz. Você procurou tanto tempo um cara legal, que no caminho acabou encontrando a si mesma. Se o cara legal aparecer, ótimo. Não, pensando bem, você voltou a querer um cara MUITO legal. Porque tá bom demais do jeito que está, não vale trocar por pouca coisa não. Você tem muita gente para amar e que te ama. E mais do que tudo, tem a si mesma. E você é legal à beça.
Luisa Mascarenhas é escritora e psicóloga, criadora da página de humor Pirei Online (no Facebook) e autora do livro A Vida Virtual Como Ela É.