Na pequena cidade do interior de São Paulo onde por muito tempo minha família procurou sossego na semana do Carnaval existia um pequeno e velho cemitério, construído nos fundos de uma igreja também centenária. Ali, contava-se, estavam sepultados os membros afortunados da região, ou mais explicitamente: os donos de terras, os donos do dinheiro, os donos de tudo.
Eram comuns as lendas sobre aparições assustadoras, que perseguiam as crianças que se aventuravam nas ruas durante o crepúsculo.
Nos anos que se estenderam entre 1940 e 1950, eu e minhas irmãs, na companhia da nossa mãe, passávamos lá os três dias de uma inexistente folia. Por que lá? Nunca soubemos a razão ou razões dessa preferência do meu pai, que nos enfiava numa das muitas e desconfortáveis pensões familiares que ali existiam, enquanto ficava solto em São Paulo, na companhia de um primo solteirão e alegre.
— Alegre porque solteirão — afirmava meu pai, tentando fazer graça. E, como resposta, minha santa mãe murmurava:
— Solteirão porque mulherengo. Moça nenhuma se interessa por homem que corre atrás de todas.
Pois bem: muitos anos depois, passei pela cidade, casualmente, e vi — com olhos de adulto — a igreja e o cemitério que ainda se erguiam na praça. Era uma tarde de calor e preguiça, mas fui andando sem rumo, me afastando do pequeno centro comercial. Bem ou mal, entrei no cemitério. Caminhei entre os túmulos — lendo os nomes, as datas, as frases religiosas, além dos epitáfios.
De repente, bati os olhos numa lápide, onde se lia: “Não demora, Jorge”. E assinado embaixo: Amor eterno da Sílvia. Fiquei intrigadíssimo. Fui até o velho homem que andava por ali e que se apresentou como zelador do cemitério. E ele me contou:
— Vou lhe contar uma história. Essa moça aí, Sílvia, morreu com 19 anos, noiva desse Jorge que você lê aí. Um dia antes do casamento, o rapaz sumiu, sem dar satisfação a ninguém. E ela então, ferida em seu amor, adoeceu gravemente, morrendo, e deixando o pedido para que colocassem essa inscrição em seu túmulo: Não demora, Jorge.
— Que história bonita e trágica — disse eu, impressionado.
— Pois é. Agora olhe o túmulo ao lado e leia a inscrição.
Obedeci e li: “Cheguei, querida”. E assinado embaixo: Jorge.
Tive de sentar e beber um copo de água que o velho homem me ofereceu, dando a informação que estava faltando:
— Ela morreu em 1920 e ele em 1960.
— Meu Deus, ela ainda esperou quarenta anos por ele!
E o homem, sabiamente:
— Mas, se o amor é eterno, o tempo não importa!
Saí meio zonzo e entrei num bar ao lado. Pedi mais um copo de água e contei o que havia acontecido.
— Quem lhe contou essa história?
— O velho zelador.
— Impossível. Ele morreu há mais de vinte anos e nunca conseguimos um substituto. Se ele fosse vivo, comentou o comerciante, rindo, teria mais de 100 anos!
Saí correndo, acredite.