Não existe problema sem solução. Essa é uma frase feita que muitas vezes consola e outras vezes pode levar ao desespero.
— Não tem solução, doutor?
O médico pode dizer que não, não tem solução, ou — se for religioso e generoso — pode dizer, vagamente, não querendo se envolver demais:
— Está nas mãos de Deus.
Quer dizer, passa-se a bola para o Todo-Poderoso. Ele que se vire, que dê o jeito, que arrume a solução. E alguém pode completar:
— Para Deus tudo é possível.
Mas isso não acontece necessariamente só diante de casos em que vida e morte começam a dividir as responsabilidades diante do balanço de uma existência nem sempre proveitosa. Aquele balanço final inevitável, que é o extremo dos extremos da humanidade. Não. Muitas vezes pede-se a intervenção divina até para conseguir achar um alfinete no chão. São Longuinho que o diga.
Outros pedidos envolvem os santos milagrosos na sorte, nos desejos materialistas, no resultado da Mega-Sena acumulada, por exemplo.
— Vai dar, tem de dar. Sonhei e ouvi uma voz soprando no ouvido as dezenas: 19, 31, 28…
Falava-se muito em Deus na minha família. Por qualquer coisa Ele era invocado. E quem controlava esse tráfico de influência, essa corrupção do Bem, era minha mãe. Sempre ela! Tinha um bom relacionamento com Deus e os santos.
Pede-se muito neste mundo. Sei mesmo de uma pesquisa que foi feita na porta das igrejas, dos santuários, dos hospitais. Sim, existe uma pesquisa sobre o pedido de intervenção divina na vida de nós todos, pobres seres humanos. Sobrecarregamos não apenas Deus, não apenas os santos. Quase todos eles sucumbem sob o peso de tantos pedidos. Consta que São Judas Tadeu é um dos mais solicitados. Outra milagrosa figura da Igreja, que está sempre correndo para cá e para lá, quebrando o galho (com o perdão da expressão tosca), é a Virgem Maria, “a mãe do Homem”, a que tudo pode diante do santo filho. Ter a intercessão de Nossa Senhora é praticamente garantia de sucesso, já que ninguém se recusa a atender ao apelo de uma mãe.
— Caramba, mãe, dá um descanso para mim.
Pois é. Os santos podem muito, mas não podem tudo. Têm também os seus limites. Fui péssimo aluno de matemática e, às vésperas de uma prova na escola, na qual se pediam cálculos de que eu nunca ouvira falar, pedi muito para ser aprovado e, assim, poder viajar com um grupo de amigos.
— E aí? — perguntou minha irmã Elza quando cheguei em casa.
— Um desastre. Zero total!
— A quem você pediu ajuda?
— A São Francisco de Assis, supermilagroso!
— Ah, pediu mal. São Francisco é péssimo em matemática. Sempre foi, desde criança.
E minha mãe, que ouvia a conversa e já estava descrente de que eu virasse um estudante pelo menos medíocre, desabafou:
— No seu caso, filho, vá direto a Santa Rita, que é a santa das causas impossíveis! Talvez só ela possa dar um jeito!
Pois nem ela deu. Fui reprovado, perdi o passeio e o ano.