“A ideia de Deus, um ser onisciente, onipotente e que, além disso, nos ama, é uma das mais ousadas criações da literatura fantástica. Preferiria, de todo modo, que a ideia de Deus pertencesse à literatura realista.”
São palavras de Jorge Luis Borges que figuram como epígrafe do livro Deus e Eu, de Antonio Monda, escritor italiano que classifica a sua obra como “conversas sobre fé e religião”. É uma edição da Casa da Palavra e a tradução é assinada por Eliana Aguiar. Dos vinte entrevistados, levo aos leitores uma pitada de dez deles, respondendo à mesma pergunta: Você acredita em Deus?
“Não acredito. Mas isso não quer dizer que não considere a religião um elemento culturalmente fundamental da existência.” Paul Auster, americano
“Acredito, mas não gostaria de falar disso. Temo correr o risco da banalidade e esse é um daqueles assuntos em que a conversação mortifica a grandeza do tema.” Saul Bellow, canadense
“Deus é uma coisa que inventamos para poder viver com a consciência da nossa mortalidade. Os cães e os gatos pensam que viverão para sempre e não têm deus algum.” Michael Cunningham, americano
“Creio em uma inteligência interessada naquilo que existe e respeitosa daquilo que criou.” Toni Morrison, americana
“Creio que nunca acreditei.” Salman Rushdie, indiano
“Não creio que possa dar uma resposta precisa.” Martin Scorsese, americano
“Eu diria que creio que creio.” Derek Walcott, indiano
“Deus é o nome de algo que não entendo e que ninguém pode compreender. E que está em todos os aspectos da natureza: nas girafas, na minha gata Lucy e até nas baratas.” Paula Fox, americana
“Não acredito, mas tenho um interesse profundo pela Bíblia. Não tenho nenhuma hesitação em defini-la como o livro dos livros, mas para mim não tem um valor religioso. Acho que é um maravilhoso livro histórico, com grandes momentos de poesia.” Grace Paley, americana
“Não acredito. Creio na redenção da arte. Acredito que qualquer caminho pessoal é válido, mas não tenho grande consideração pela religião institucionalizada: em várias ocasiões, tenho visto comportamentos carolas que levam à exclusão. E vejo a corrupção do dinheiro.” Richard Ford, americano
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Quanto a mim, respondo — ainda que ninguém esteja me perguntando — que acredito em Deus e que aceito tudo o que Ele representa de mistério insondável, impenetrável e incompreensível. Enfim: aceito Deus com todos os seus defeitos.
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É próprio da natureza humana interessar-se mais pelo que não se vê. Mais objetivamente, pelo mistério, por tudo o que aos nossos olhos permanece oculto, na sombra. E disso temos medo, e desconfiamos do escuro. Se continuarmos andando para dentro do que não vemos, vamos encontrar o quê? A luz ou uma maior escuridão. Esta, de modo geral, mais atraente que a outra. E é por isso que, na ficção, os vilões registram maior sucesso que os heróis. E as bruxas, mais que as fadas e princesas.