Eu sempre considerei natural encontrar uma dose de distração em tudo o que as mulheres pensam, fazem e até mesmo sonham. E, quando falo em distração, quero dizer também leveza e uma certa preguiça, a doce preguiça que identificamos nas fadas e princesas das histórias infantis.
E mais: revejam o filme Branca de Neve e prestem atenção na cena em que ela desperta do seu letárgico sono. Temos vontade de imitá-la, estendendo os braços para o alto, como se quiséssemos abraçar uma estrela. Bocejando e fechando suavemente os olhos diante da claridade.
E por fim: já notaram, com certeza, que algumas mulheres não caminham, mas levitam, etéreas.
Pois era assim que eu via a garota mais bonita do meu bairro, Luiza, no esplendor dos seus 17 anos, quando chegou de São Paulo e foi morar com a família na mesma rua em que eu vivia desde criança. Foi nessa ocasião que mantivemos um namoro de três minutos, não mais. Suas primeiras palavras foram:
— Muito prazer, Elisa.
E, logo em seguida, instantaneamente:
— Elisa não, Luiza. Estou trocando o meu próprio nome!
E sempre, a partir de então, todos os nossos encontros foram casuais e pontilhados de curiosas cenas que eu contava à minha mãe quando voltava para casa, achando que a garota não era normal. Minha mãe amansava meu coração:
— Ela é avoada. Só isso.
Depois, não muito tempo depois, nos esbarramos acidentalmente no parque de diversões Shangai, em São Paulo, na pequena fila de espera à porta de entrada do trem fantasma. Foi nesse cenário de terror, percorrendo o circuito do medo no interior do brinquedo, que as nossas mãos se tocaram, casualmente, para em seguida apertarmos os nossos dedos e logo sairmos para a claridade do parque. Foi pouco tempo, dois ou três minutos, mas senti que estávamos namorando. Sem abraço, sem beijo, sem palavras, sem promessas. E no entanto posso garantir que foi a história de amor que marcou com mais intensidade a minha vida. A relação mais lembrada e a perda mais sentida, quando, naquele mesmo ano, Luiza viajou com a família para Portugal, e lá está desde então, não sei se viva, passados esses 65 anos.
Naquela última noite de um outono no Parque Shangai, depois do trem fantasma, Luiza (ou terá sido Elisa?), empunhando um saco de pipoca, me confundiu com um primo. Eu neguei, rindo:
— Você está fazendo confusão. Não sou seu primo.
— Claro que você é, Ronaldo.
Mas, ao sairmos do parque, ela me olhou com mais atenção, riu e arrematou, parecendo corrigir apenas um pequeno e corriqueiro engano:
— Desculpe, onde é que eu estou com a cabeça? Meu primo morreu há quatro meses.
Lembro-me como se fosse hoje. Naquela noite, voltei mais agitado para casa.
Minha mãe, ao ouvir a história, mais uma vez minimizou o episódio com a brandura de sempre, singela e humana, como tudo que nasce para nunca morrer:
Uma garota avoada, só isso.