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Manoel Carlos

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História em quadrinhas

Leia na crônica de Manoel Carlos

Por Manoel Carlos
25 set 2017, 18h59
 (Léo Martins/Divulgação)
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Isso mesmo. Quadrinhas, no feminino, que nada têm a ver com o correspondente masculino. Uma questão de gêneros, como virou moda nomear, nos dias de hoje, as divergências e convergências entre homens e mulheres quando comparados e colocados face a face.

Eu me refiro, portanto, ao popular gibi, um nome que se tomou emprestado do conjunto de revistinhas que encantaram as crianças de todas as gerações, pelo menos a partir da minha. Nesses gibis se abrigavam alguns dos meus heróis infantis preferidos, entre os quais destaco Capitão Marvel, Fantasma, Mandrake, Batman, Tocha Humana, Príncipe Submarino, Super-Homem e Capitão América. Sim, era uma lista infindável, maior que a infindável relação de deuses de toda a Grécia antiga.

A esta altura, pode-se perguntar: que quadrinhas são essas agregadas ao título? E, como palavra puxa palavra, história puxa história. Assim como inúmeras vezes os mortos queridos substituem, com vantagem, os vivos na mesma condição. E, nessa cadeia de informações que se laçam e entrelaçam, a lembrança saudosa do meu amigo Álvaro de Moya, estudioso apaixonado dos quadrinhos.

Seguindo livremente a tortuosa estrada da memória, chego à turma de São Paulo, a começar pelo próprio Moya, agregando Cyro del Nero, Rudy, Roberto Palmari, Carlos Paiva, Orpheu, Baby… São tantos, meu Deus! Uma turma de boas cabeças — algumas bem loucas também —, em que vivemos juntos a rica aventura de um convívio que já não se cultiva. Se todos os nossos mortos queridos se erguessem de seus túmulos e se juntassem aos amigos vivos, teríamos uma das maiores concentrações de inteligência dos últimos 100 anos.

Quando escrevi estes versos de sete sílabas, estava selecionando poemas para editar pela Nova Fronteira. E uma das partes seria Trovas do Lesco-Lesco…

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No lesco-lesco do mundo
a trova diz o que quer.
Fala de tudo um pouquinho,
fala um montão de mulher.

Pra falar de um sentimento
O melhor é a velha trova.
Pra que poesia moderna
se a dor também não é nova?

Eu acredito que dentro desses versinhos cabem milhares de versos bem elaborados e de elevado valor. Quem sabe até todos os versos de Os Lusíadas? Por que não? Afinal, o resumo, a compactação, a brevidade são virtudes essenciais à boa poesia!
Que grande poeta não gostaria, por exemplo, de ter escrito esta trovinha despretensiosa que encerra a crônica?

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A vida vai de tal sorte
Nos matando devagar,
Que enfim, quando chega a morte,
Não há mais o que matar.

Tenho inveja dos trovadores!

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