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Manoel Carlos

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Santo Antônio de Paris

Leia na crônica de Manoel Carlos da semana

Por Manoel Carlos
Atualizado em 1 dez 2017, 09h01 - Publicado em 1 dez 2017, 09h00
 (Léo Martins/Veja Rio)
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O bairro todo era ao redor da Igreja de Santo Antônio, não de Paris, como sonhávamos em nosso sonho juvenil de grandeza. Mas do Pari, como era de verdade: Santo Antônio do Pari.

Ruas curtas e planas, claras sob o sol das manhãs paulistanas, laboriosas durante o correr do dia e sombrias — algumas vezes — a partir do crepúsculo. Muitas crianças entre os moradores despretensiosos, confirmando o que era voz corrente:

— Lugar bom para criar filhos e fazer boas e duradouras amizades.

— Bom para casar as filhas — acrescentava alguém. Muitos rapazes solteiros!

— Todos de boa família!

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Criminalidade escassa, sem números precisos, portanto sem avaliação nas páginas dos jornais. Como a televisão ainda não existia e o rádio estava mais voltado para o lazer, era comum avaliarmos a paz das ruas pelo que sabíamos nas visitas de aniversário, nas festas de casamento e (impossível evitar)… nos velórios e sepultamentos.

Sim, morria-se como hoje, mas a morte era uma majestade que exigia um grande respeito, como se todos daquela rua morressem juntos. As emissoras de rádio não tocavam músicas alegres, os programas humorísticos não eram transmitidos. Verdade. O luto era de toda a comunidade. E, dependendo de alguns quesitos, o luto estendia-se por uma semana, um mês e até um ano inteiro. E, a cada acontecimento fúnebre, revigorava-se a amizade dos estranhos. Até então.

As casas eram próximas umas das outras. E os jardins de fachada, abertos a todos os olhos. E devassando todos os segredos familiares… Os quintais, sempre habitados por um cão. No mínimo um.

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Exagerando um pouco, pode-se dizer que éramos todos irmãos. Com um ligeiro vibrar de asas (afinal, éramos alados) podia-se visitar todo o espaço de um bairro, uma cidade. Um país e simplesmente uma rua.

Bem, convenhamos que era mais fácil ser feliz. Mais fácil manter um sorriso nos lábios e um olhar mais carinhoso. Saber que ao virar uma rua podemos dar de frente com alguém que nunca vimos e com quem vamos viver toda uma vida.

E comentar entre os botões:

— Meus Deus! Até acordar hoje de manhã e pular da cama, não sabia que estávamos destinados um ao outro… por toda uma vida.

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