Não sei quando ouvi pela primeira vez a frase: “Vizinho é o parente mais próximo que temos”. O que sei é que a partir de determinado momento o seu uso ficou corriqueiro. E, para a felicidade de todos no pequeno bairro em que vivíamos, nunca tivemos atritos. Éramos duas famílias ocupando casas geminadas, naquele clima dos filmes da Sessão da Tarde.
Quem já morou em cidade pequena e suburbana sabe muito bem o que eu estou afirmando. O bairro acaba sendo
o centro de todos os acontecimentos, gerador do que depois vai percorrer as ruas e praças da cidade.
Esta pequena fábula que eu me permito contar é outro exemplo.
Tudo começou a mudar quando a sobrinha da dona Elvira veio morar na casa da tia. Era uma garota de 16 anos, de iluminada beleza e com o mesmo tanto de charme e malícia. No primeiro domingo como vizinha, Vânia (era o seu nome) fez uma entrada magistral na missa das 11 horas, a igreja transbordando de fiéis, curiosos e ansiosos pela sua presença. Foi um deslumbramento.
— Vai ser bonita assim…
— …lá em casa — completou alguém em voz baixa,
fazendo graça.
E aconteceu o que era de fácil previsão: os dois melhores partidos da região, o Nelsinho, filho do prefeito, e o Tavinho, filho do presidente da Câmara, foram pra cima com ímpeto. Todos queriam saber quem ela escolheria como namorado. Quem seria o felizardo? Era um jogo duplo consentido discretamente. Enquanto ela se divertia com um, o outro ficava em “banho-maria”.
Vânia escapava de uma resposta que definisse seus gostos, suas vontades. Gostava desse suspense que a mantinha na cabeça de todos os vizinhos. Ficou sabendo que já existia um banco de apostas. Era vaidosa, vibrava com o calor desse interesse.
Prova disso foi o que ela disse ao locutor de uma estação de rádio local que lhe perguntou, num tom de brincadeira:
— Afinal, querida, quem você quer?
— Os dois — respondeu ela, com um sorriso encantador.