Imagem Blog

Manual de Sobrevivência no século XXI

Por Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Psiquiatria
Continua após publicidade

Luisa Sonza, Naomi Osaka e a hora de saber parar

Pressionadas, cantora e tenista conseguiram impor limites e se recolheram em nome da saúde mental

Por Analice Gigliotti
Atualizado em 4 jun 2021, 12h58 - Publicado em 4 jun 2021, 11h29
Foto da cantora Luisa Sonza.
Luisa Sonza: depois de ataques de haters na internet, cantora foi afastada das redes sociais por sua equipe. (Internet/Divulgação)
Continua após publicidade

Aos 22 anos, a cantora Luisa Sonza é um dos maiores nomes da música pop no Brasil. Os números que comprovam sua popularidade são superlativos: mais de 20 milhões de seguidores no Instagram, 1 bilhão de reproduções de suas músicas no Spotify e 8 milhões de ouvintes por mês na mesma plataforma de streaming. A japonesa Naomi Osaka, 23 anos, também é uma gigante, mas em outra área: no tênis. Número 2 do mundo, sua performance era uma das mais esperadas em Roland Garros.

Mas nem tudo correu como esperado. Osaka abandonou a disputa do campeonato francês, um dos mais importantes do esporte, depois de revelar que vem sofrendo de longos períodos de depressão desde 2018 e que as entrevistas coletivas com os jornalistas disparam gatilhos de ansiedade. Já Luisa Sonza foi afastada das redes sociais por sua equipe de marketing ao sofrer ataques cruéis acusando-a pela morte do bebê prematuro de seu ex-marido, o comediante e influencer Whindersson Nunes.

Em um ano em que falamos tanto sobre a dificuldade de se manter são em face às violentas – porém necessárias – restrições da pandemia, Sonza e Osaka, ainda tão jovens, dão uma grande lição: o reconhecimento da necessidade de se recolher em nome da própria saúde mental. Com um simples gesto, desafiam a lógica mercantilista que rege o mundo em que vivemos, onde a produtividade é a regra e permitir-se parar é quase uma heresia. O que já era exaustivo ficou ainda mais acentuado pós-pandemia. A alta performance continua a ser cobrada, mesmo com as pessoas trabalhando em home office, muitas vezes em condições adversas.

Abrir mão de compromissos profissionais em nome do bem-estar físico e emocional tem se tornado, pouco a pouco, uma prática mais frequente entre os artistas. A cantora inglesa Adele anunciou uma suspensão temporária da carreira depois de ter filho, alegando tratamento de depressão pós-parto. Em 2017, o cantor Justin Bieber comunicou que precisava dar uma pausa na agenda de shows para “curar a mente, o coração e a alma”. O próprio Whindersson Nunes já havia cancelado a agenda de apresentações e se afastado dos palcos em 2019 para tratar da depressão. Os padres-cantores Fábio de Melo e Marcelo Rossi também se viram obrigados a se afastar de suas atividades em consequência da crise de pânico e depressão, respectivamente.

A honestidade de Osaka reacendeu o debate sobre um tabu, faltando pouco mais de um mês para as Olimpíadas de Tóquio: a saúde emocional dos atletas. “Sei como ela se sente e a apoio”, desabafou o número 1 do mundo, Novak Dijokovic. A jogadora Martina Navratilova, vencedora de 18 Grand Slams, foi além. “Como atletas, somos ensinados a cuidar do nosso corpo, mas talvez o aspecto mental e emocional seja negligenciado”, declarou.

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”, escreveu Fernando Pessoa no “Poema em linha reta”. Sonza e Osaka, verdadeiras “campeãs em tudo”, assumiram as “porradas” da vida, transmutaram episódios tristes em exemplo para seus milhões de fãs: o limite da resiliência é o respeito por si mesmo.

Analice Gigliotti é Mestre em Psiquiatria pela Unifesp; professora da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio; chefe do setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa Casa do Rio de Janeiro e diretora do Espaço Clif de Psiquiatria e Dependência Química.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

a partir de 35,60/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.