Ipanema vista da janela do hotel. A praia se estende sem acidentes até o Arpoador, lá no fundo (na foto, pois é de lá que ela parte, na realidade). No final dos anos 60 e início dos 70, por obra do Pasquim, primeiro, e depois dos doces bárbaros, que a tomaram de assalto, Ipanema se tornou a praia mais badalada do Rio e do Brasil. E, pelas notas de Vinícius e Jobim, conhecida no mundo todo. Mas até então não havia páreo para Copacabana. Do final dos 50 até a primeira metade dos 60, Copa era tudo. Tia Cacilda morava no primeiro andar de um prédio do Posto Três, próximo à Constante Ramos. Os perigos eram tantos que eu, entrado na chamada terceira infância, cruzava, sem as mãos de adulto, a Avenida Atlântica, então de pista única (anterior ao aterro) e pisava na areia da Princesinha do Mar para tomar uma acossa das ondas pesadas e caçar tatuí (comestíveis, cozidos no arroz), hoje praticamente desaparecidos do lugar. Nunca houve tatuís tão grandes como aqueles. Quando a onda me arrastava, eu procurava as pernas de um adulto para me ancorar. À tarde, o programa preferido era me sentar num dos bancos de concreto que enfeitavam a orla para assistir às peladas ou aos jogos do campeonato de futebol. O futebol de areia do Rio, terreno do lendário Neném Prancha, foi sempre muito badalado, motivo de bravas discussões nos bares. Foi um celeiro de craques, como o lateral Júnior, do Flamengo. Quando não havia jogo, outro prazer era tomar um lanche na Colombo, ali na esquina da Nossa Senhora de Copacabana com Barão de Ipanema, vizinha ao prédio onde morava a tia Glorinha. No cair da tarde, nada melhor do que ser arrastado pela prima Celina, de belas e longas pernas bronzeadas, para uma roda de violão no Arpoador. A Bossa Nova estava no auge e eu sofria por não ter dez anos a mais.
Copacabana vista do Forte
O Arpoador, entre Copacabana e Ipanema, ponto de encontro da moçada fã da Bossa Nova
(Fotos: Julio Cesar Cardoso de Barros)