Ela é reverenciada pelos adolescentes, carioca e está lançando seu 16º livro. Aos 39 anos, Thalita Rebouças se lança no universo infantil com Por que só as princesas se dão bem? (R$ 27,50, 36 páginas). Apesar de recente, a aventura já vem rendendo bons frutos (ultrapassou a marca de 1,5 milhão de exemplares vendidos), provando que a escritora também tem seu espaço no mundo dos pequenos.
O conto de fada às avessas é inspirado em sua afilhada Bia, que emprestou o nome à protagonista da história. A Bia do livro, no entanto, vai mostrar para a Bia de verdade, e para todas as meninas que sonham em se tornar princesas, que nem tudo são flores, coroas e príncipes encantados na vida dessas personagens.
Batemos um papo bacana com essa apaixonada por livros, com direito a receita e tudo! Olha só:
– Por que focou a carreira literária no universo adolescente?
Gosto de fazer companhia para adolescentes. A adolescência é uma fase difícil, com espinhas, angústias, amores platônicos e pontos de interrogação. E tudo muito intenso. É maravilhoso saber que eles se divertem e se identificam com meus livros. Mas na verdade, não escolhi o público adolescente. Ele que me escolheu. Meu primeiro livro, Traição entre Amigas, foi lançado para jovens adultos, mas quem realmente amou o livro foi o público mais novo, de 12, 13, 14 anos. E eu recebia deles tanto carinho, reações tão efusivas em relação ao meu trabalho, que resolvi focar neles. Daí veio o Tudo por Um Pop Star, o primeiro título que fiz pensando somente nos adolescentes.
– Como aprendeu a entender essa turma?
Eles são muito bacanas comigo, é fácil, fácil lidar com eles. E eu entendo adolescentes porque gosto dos conflitos, do dia a dia, da intensidade. Eu me interesso por eles, gosto de perguntar, de abraçar, de olhar no olho… E meus personagens são adolescentes como os leitores, com pais parecidos com os deles. Acho que esse “entendimento” se dá por conta da identificação que eles têm com minhas histórias.
– Por que acha que foi tão bem sucedida?
Nunca quis passar lição de moral, dizer o que é certo e errado (até porque acredito que se você fala para um adolescente não fazer algo, aí que ele faz mesmo). O que faço com meus livros é contar uma história que poderia acontecer com o leitor (ou com seu vizinho, seu melhor amigo, seu primo) e que ao final ele tire suas próprias conclusões. Gosto de fazer pensar. Não sou a tia chata, sou a melhor amiga, pelo menos é o que eles dizem pra mim.
Além de não querer ensinar nada, acho que o humor presente nos meus livros também ajuda, acho que todo mundo gosta de rir, e como escrevo para aproximar os jovens do hábito da leitura, fica mais fácil gostar de ler quando eles dão umas risadinhas aqui e outras ali.
– Como foi escrever para uma nova faixa etária?
Muito difícil! Não sei se sei falar com criança! Falo com eles de igual para igual, se eles me mostram a língua eu mostro a minha de volta numa careta maior ainda. Fiz o livro para a minha afilhada Bia, de 8 anos, que disse que na escola tinha uma amiguinha que não acreditava que eu era escritora porque na biblioteca das crianças não tinha nenhum livro meu. Fiquei injuriada e falei: “A dinda vai fazer um livro com você de personagem principal e você vai esfregar o livro na cara dessa enjoada, Bia!”. risos. Percebe-se que foi um motivo muito nobre que me levou a escrever para crianças. Mas agora me empolguei e quero fazer outro. Adorei o lançamento, pirralhinhas lindas muito empolgadas, dizendo que leem todas as noites com os pais. Uma já tinha ido sete vezes. Pobre mãe! risos.
– O livro é uma prova de que a realidade pode ser inserida no cotidiano das crianças de forma lúdica, sem traumas. Como acha que deve ser o diálogo no dia a dia?
Com sinceridade e objetividade. Criança não complica, quem complica é a gente.
– E por que optou por essa temática ‘mais realista’?
Sempre gostei de abordar o dia a dia, o universo real deles: professores, pais, namorados, ídolos. Gostaria de ler histórias sobre isso se tivesse a idade deles. No caso das princesas, a Bia pirou com as princesas da Disney e eu quis mostrar que o bacana é ser uma menina comum, ser princesa pode ser muito chato às vezes.
– Pretende lançar novos trabalhos para esse público?
Estou pensando seriamente…
– Como vê a relação livros-tecnologia dentro do mundo infantil?
O livro de papel vai sobreviver um bom tempo ainda, mas claro que as crianças vão se adaptar aos e-books bem mais rápido que os adultos.
– Você não tem filhos, certo? Não pretende colocar em prática o que discorre nos textos?
Não tenho vontade de ter filhos, acho que fazer é fácil, e acho que o fato de não ser mãe até me ajuda a entender melhor os adolescentes, a não querer dar lições de moral, a não julgá-los. Quando escrevo, viro uma menina de 14 anos, falo com eles de igual para igual.
– Além dos livros, você também se arriscou na cozinha. Poderia dar uma receitinha bacana para a criançada?
No Culinária Atolada (programa que tenho no meu canal no You Tube), mostro que até pessoas atoladas como eu, que deixam tudo cair, podem cozinhar. Se eu consigo, qualquer um consegue. Risos.
- Brigadeiro de micro-ondas:
Duas colheres de sopa de chocolate em pó e leite condensado. Mistura tudo e taca numa tigela funda (se for rasa transborda fácil). Um minuto. Tira, mexe e bota no forno por mais dois minutos, se gostar dele mais molinho, ou mais, se preferir mais duro. Para comer de colher, claro.