Com menos de três dias no ar o BBB 24 já enfrenta sua primeira crise. Logo na prova do líder, feita no mesmo dia da estreia do reality, a participação de Vinicius Rodrigues foi prejudicada por uma falha da produção. A repercussão nas redes sociais apontou o capacistimo no BBB (nome dado ao preconceito às pessoas com deficiência) e a solução encontrada pela produção do programa para se explicar conseguiu piorar ainda mais a situação.
A cena aconteceu quando a transmissão ainda estava acontecendo na TV Globo, com maior audiência. Vinicius teve que retirar a sua prótese para cumprir parte do trajeto da prova de resistência já que a mesma não pode ser molhada. O fato se repetiu em outra rodada antes que a direção falasse com o participante dando a opção de trocar a prótese por uma que possa entra em contato com líquido sem risco de estragar.
A repercussão foi imediata nas redes sociais, inclusive com muita gente acusando a produção da TV Globo de não ter se preparado por completo para receber uma pessoa com deficiência no programa. Esta é apenas a segunda vez que um PCD participa do reality (Marinalva de Almeida, também atleta paralímpica, participou do BBB17).
Pedro França, jornalista e apresentador do videocast PCDPOD acredita que o erro cometido é um reflexo da falta de pessoas com deficiência na produção: “É preciso ter pessoas que representem esse grupo em toda a estrutura”. Ele chamou a atenção ainda que com o faturamento do programa (o Big Brother Brasil é o produto mais lucrativo da Globo) poderiam ter contratado ao menos uma consultoria e destaca: “Não basta apenas incluir uma pessoa com deficiência no elenco”.
Em outro momento, um outro participante – Maycon Cosmer – sugeriu colocar apelido na perna amputada do atleta paralímpico. Na redes sociais a equipe que está cuidando da comunicação do cozinheiro escolar afirmou que o mesmo “terá a oportunidade de refletir suas falas e ações e perceber que pode evoluir e aprimorar seu desempenho pessoal”.
No programa que foi ao ar ontem (09/01) na Globo, o apresentador Tadeu Schmidt falou a respeito e mostrou a cena em que a produção conversa com o participante durante a prova para dar a possibilidade de troca da prótese. Contudo, a solução encontrada para justificar o erro acabou piorando a situação.
O apresentador chamou Vinicius para uma conversa, mas a edição não mostra em nenhum momento Tadeu deixando claro o motivo do papo. Inclusive inicia pedido apenas que o atleta paralímpico falasse da sua impressão sobre a prova. Ao longo da troca Schmidt não assume o erro da produção em não avisar o participante a necessidade do uso de uma prótese adequada e dirige a conversa para falar sobre capacitismo, mas de uma maneira superficial.
“É um assunto novo pra muita gente. Muita gente não sabe o que pode falar”, justificou Tadeu Schmidt em referência a fala de Maycon. O medalhista de prata em Tóquio 2020 visivelmente desconfortável respondeu que brincou pra quebrar o “clima chato”. Para Pedro essa fala do apresentador chancela o discurso capacitista: “Que o Maycon tenha questões de desconhecimento sobre pessoas com deficiência vá lá, mas o Tadeu com seu discurso perdoa o capacitismo pela ignorância”.
França ainda critica o fato da conversa não ter acontecido na frente dos outros participantes, como na edição anterior quando houve transfobia, e também a postura do apresentador ao afirmar “nós estamos aqui para aprender juntos”. Para o jornalista é preciso um letramento de toda a produção antes do programa ir ao ar. “Não é pra ir aprendendo ao longo do caminho. A gente tá falando da Globo, uma emissora que tem muito dinheiro pra poder se preparar”, analisa.
Ele acha que provavelmente não teremos outro PCD participando da próxima edição: “A Globo já deve estar sentindo o peso desse despreparo. Além disso, eles têm uma dificuldade em perpetuar mudanças que deveriam estar aplicadas em todas as edições. Um exemplo é que tivemos uma pessoas trans no BBB passado e nesse não temos”.
Questionado se o episódio pode servir para ampliar o debate sobre capacitismo, Pedro é enfático: “Não dá pra negar a importância das discussões que já foram suscitadas ali dentro. O Big Brother é uma vitrine importante. Mas, por mais que a gente esteja discutindo agora a questão das pessoas com deficiência, muita gente ainda vai continuar rindo da expressão capacitista do Maycon, porque existe um lugar de uma desculpa para a ignorância”.
Mesmo assim o especialista acha importante que o Big Brother Brasil volte a tocar no assunto com uma fala mais ampla e melhor estrutura. “A diversidade e inclusão não poder ser uma prática alegórica”, finaliza.
Procurada pela coluna, a assessoria de imprensa do Big Brother Brasil ainda não respondeu aos questionamentos. Se for feito a matéria será atualizada.