Fazer carreira em um ambiente que tradicionalmente é machista e excludente para pessoas LGBTQIA+ é um grande desafio. Mas segura peão porque Reddy Allor confiou em sua essência e está quebrando barreiras como drag queen sertaneja.
O caminho no estilo musical parecia óbvio por sua história de vida – “Eu nasci nesse ambiente. Nasci no interior de São Paulo – Olímpia – e minha família sempre foi muito dentro do sertanejo” -, mas houve um período de afastamento quando começou a descobrir sua sexualidade. “Eu tinha uma dupla sertaneja com meu irmão e estava num momento de muitas dúvidas internas. Eu precisava explorar a minha sexualidade e aflorar outros lados que eu não entendia ainda. Nesse momento quis me afastar muito do sertanejo”, conta Reddy.
Foi então, através das novas amizade dentro da comunidade LGBTQIA+, que conheceu e se encantou pelo trabalho da Pabllo Vittar. Curiosamente a artista que foi sua primeira referência na arte drag teria outro papel fundamental, ao ser uma das apresentadoras do reality Queen Stars, vencido por Reddy. “Foi surreal conhecer a Pabllo. Vivi um sonho todos os dias no reality. Para além da realização de um sonho pude entender que o meu lugar também é possível”, relatou.
O reencontro com o sertanejo foi natural e partiu de suas primeiras apresentações como drag. “Me apresentava em festas escondido da minha família. Cantava músicas da Pabllo, da Lady Gaga, mas as pessoas me falavam que era estranho eu cantar pop com uma voz muito sertaneja”, lembra Reddy. Foi então que teve um processo de reencontrar com suas raízes e entender seu lado sertanejo mesmo sendo drag: “Quando fui lançar a minha primeira música e pensei em fazer pop. Mas não saia nada, não tinha referências”.
A certeza que estava no caminho certo veio com o aval de ninguém menos que Marília Mendoça, que compartilhou no twitter ter amado a descoberta. “Foi a primeira vez que ouvi o termo drag sertaneja e da Marília Mendonça. Não é qualquer coisa”, contou Reddy.
Para “capinar o terreno” (sic) Allor agradece o espaço aberto pelas mulheres no sertanejo e por drags como Pabllo Vittar, mas ao mesmo tempo sabe que o desafio ainda é grande: “Sinto que é um processo de conhecimento. Estou entendendo o que os dois lados esperam. É difícil como drag queen conquistar esse espaço no sertanejo, mas também há uma resistência do público LGBTQIA+ em ter uma drag sertaneja”.
Para Reddy isso ocorre pela falta de representatividade e para mudar é preciso furar a bolha e mostrar que a comunidade pode estar em todos os espaços: “Assim que entendi que precisava ocupar esse espaço de drag sertaneja fui estudar mais sobre o ambiente. Me dei conta que a maioria dos produtos desse estilo musical tem pessoas brancas, padronizadas. Se as pessoas não se conectam com o sertanejo não é porque é uma música ruim, tem uma sonoridade e qualidade gigantes, é porque não tem pessoas como elas”, acredita.
O lançamento do seu EP “Ciclos” traz diretamente essa vontade se apresentar ao público, mas também buscar inclusão na música sertaneja. Pra isso, por exemplo, a artista apresenta um ballet para as performances das canções com pessoas diversas. “O projeto tem muitas referências do que eu ouvia quando criança até o que sou hoje. É um momento político de uma drag queen fazendo sertanejo, em um projeto que fala muito sobre mim e sobre os meus. Que mostra essa diversidade e pluralidade de pessoas dentro desse estilo musical. É sertanejo e LGBTQIA+ na mesma proporção”, explica.
O retorno tem sido positivo. Para Reddy, além do ato político o público tem entendido a qualidade e com o conceito do que está entregando. “Me cobro muito e quis trazer essa perfeição, que sei que não existe, mas tento ao máximo”, finaliza.