Resultados de estudos e testes de instituições de pesquisa sérias sobre as crianças que passaram um ano fora da escola, apenas com os computadores, ou nem isso, mostram que houve uma perda de aprendizagem desastrosa. O que fazer?
Vale pesquisar qual aprendizagem ficou prejudicada. Ou mais prejudicada, porque já era frágil antes. O que exatamente as crianças deixaram de aprender? Não adianta sabermos que os testes foram de Língua e Matemática. O que, exatamente, de língua e matemática? Compreensão de textos? Caso sejam perguntas de especificidades gramaticais, a avaliação é outra. O que interessa saber da língua materna num tempo de crise? Ler com fluência, o que significa compreender o que lê. Propositalmente não me refiro à escrita. É outra discussão. E o que é importante de matemática? Saber armar contas ou entender como funcionam as operações? A lógica ou desenhar números? A escola costuma reconhecer apenas um tipo de conhecimento específico dela. E os adultos seguem atrás da escola que frequentaram, como se fosse a única maneira de obter conhecimento. As crianças talvez tenham aprendido outras coisas, diferentes do conhecimento reconhecido como escolar.
Nas situações de crise – ou em todas – os que mais perdem são sempre as crianças em situação de maior fragilidade socioeconômica. Se a desigualdade já era dramática, a diferença de oportunidades educacionais entre as crianças mais favorecidas e as menos privilegiadas só se ampliou durante a pandemia.
Como se pretende recuperar a aprendizagem perdida? Como enfrentar e tentar conter o descalabro que, a continuarmos dentro dos atuais parâmetros, tende a atingir o país daqui a 10 ou 20 anos? São duas gerações gravemente marcadas na vida social, sanitária, emocional e intelectual.
Não acredito que a solução seja intensificar aulas do currículo instituído para uma geração que vive num mundo em metamorfose. O melhor seria ousar uma guinada e nos perguntarmos como preparar as crianças para desenvolver a capacidade de pensar, refletir e agir e não de saber conteúdos. Implica um rompimento da atual estrutura escolar. Estamos acostumados com a mesma escola, há dois séculos, ainda sob a influência do enciclopedismo (e a enciclopédia agora está nos sites de busca). Fomos alunos desta escola, criados com valores humanistas, uma boa formação, que prezamos muito. É verdade que foi uma boa escola. Deve ser uma boa gestalt porque ficou impressa com tinta quase indelével nas nossas mentes e desistir dela é muito doloroso. Escola é a que conhecemos. Para um tempo e um mundo que passou.
Quem vai viver no século 21 precisa de uma formação diferente da que tivemos. Pena para nós, com nossa educação para a erudição. Mas precisamos ser generosos com quem vem depois de nós e prepará-los para a vida no tempo deles.