Enquanto o ministério da Educação do governo atual faz de tudo para acabar com o futuro da educação básica e da ciência no Brasil, líderes governamentais, jornalistas, ativistas e celebridades de todo o mundo se reunem em dois encontros ambientais internacionais importantíssimos para o futuro do planeta. Um deles em Glasgow, na Escócia, discute o clima e o outro em Kunming, na China, discutiu o colapso de espécies e sistemas que sustentam coletivamente a vida na Terra.
As duas reuniões são igualmente importantes. A perda da biodiversidade e as mudanças climáticas estão interligadas e devem ser abordadas em conjunto. Hans-Otto Pörtner, biólogo e pesquisador do clima que ajudou a liderar pesquisas internacionais sobre as duas questões, as chama de “as duas crises existenciais que a humanidade provocou no planeta”.
A crise da biodiversidade é importante não apenas pela questão moral dos humanos de se preocuparem com as outras espécies na Terra, mas também por razões práticas, a começar pelo fato de que as pessoas dependem da natureza para sua sobrevivência. A diversidade de todas as plantas e todos os animais é o que faz o planeta funcionar. São a garantia de oxigênio no ar e de solos férteis. Caso perca muitos elementos, um ecossistema deixa de funcionar. Estima-se que um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção.
A mudança climática é apenas um fator de perda de biodiversidade. Os humanos vêm destruindo o habitat de diversas espécies com agricultura, mineração e extração de madeira. A pesca no mar é excessiva e, ainda, há outras causas como a poluição e as espécies introduzidas que expulsam as nativas.
São duas crises existenciais simultâneas, e é um enorme desafio ter que lidar com ambas. Na China, pretendia-se adotar um pacto pela natureza semelhante ao Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. No ano passado, as autoridades informaram que as nações do mundo falharam em grande parte em atingir as metas do acordo global anterior sobre biodiversidade, feito em 2010.
O trabalho da conferência sobre biodiversidade inclui metas que atuam como um modelo para reduzir a perda. Muitas são concretas e mensuráveis, outras mais abstratas. Nenhuma é fácil. Elas incluem, em resumo:
- A elaboração de um plano, em toda a terra e águas de cada país, para decidir sobre onde realizar atividades como agricultura e mineração em áreas intactas.
- A garantia de que as espécies selvagens sejam caçadas e pescadas de forma sustentável e segura.
- A redução do escoamento agrícola, pesticidas e poluição de plástico.
- O uso de ecossistemas para limitar as mudanças climáticas, armazenando o carbono e evitando o aquecimento do planeta.
- A redução de subsídios e outros programas financeiros (em pelo menos US $ 500 bilhões por ano) que prejudicam a biodiversidade, que é a quantia gasta pelos governos para apoiar combustíveis fósseis e práticas agrícolas potencialmente prejudiciais.
- A proteção de, pelo menos, 30% das terras e oceanos do planeta até 2030.
Esta última medida, apoiada por ambientalistas e um número crescente de nações, foi a que recebeu a maior atenção e recursos. No mês passado, nove grupos filantrópicos doaram US $ 5 bilhões para o esforço, conhecido como 30×30. O famoso biólogo E.O. Wilson, da Universidade de Harvard, disse que espera que 30×30 seja um passo para um dia conservar metade do planeta para a natureza.
Há esperança e preocupação entre os grupos indígenas. Alguns concordam com a expansão, exigindo um número superior a 30%, enquanto outros temem perder o uso de suas terras, como tem acontecido historicamente em diversas áreas reservadas para conservação.
Uma tensão central permeia as negociações sobre biodiversidade: é a discussão sobre fazer apenas um plano de conservação para a natureza ou elaborar um plano para a natureza e as pessoas. Com o aumento da população humana global, os cientistas afirmam a necessidade de uma mudança transformacional para que o planeta seja capaz de nos sustentar.
Esses são os problemas reais das próximas gerações que a escola tem que trazer para discutir com seus alunos.