Nasceram os primeiros representantes da Geração Beta
No mundo hiperconectado em que a mais nova geração vai viver, há pouca distinção entre os ambientes físico e virtual

As transformações tecnológicas em ritmo cada vez mais acelerado criam diferenças marcantes entre as gerações, que são definidas pelos pesquisadores como grupos que compartilham experiências vividas durante os anos formativos, experiências que moldam a percepção de mundo e os comportamentos.
No que se refere à tecnologia, a chamada geração dos Millennials (1980-1994) cresceu com os celulares, enquanto a geração Z (1995-2012) conheceu as redes sociais. A geração Alfa (2013-2024) é a primeira em que a Inteligência Artificial deixou de ser apenas uma ideia e emergiu como um fator de transformação decisivo. Os jovens Alfa continuam sendo objeto de muita investigação por terem passado pela pandemia ainda frequentando a escola elementar.
Segundo o pesquisador e demógrafo Mark McCrindle, até 2035, a geração Beta (2025-2039) vai representar 16% da população global e sua vida será profundamente impactada pela integração da Inteligência Artificial e da automação. Especialistas acreditam que as mudanças observadas até agora são apenas uma amostra das disrupções que estão por vir, com transformações significativas nos âmbitos social, econômico e cultural. Muitos de seus integrantes ainda estarão vivos no século 22.
Os pais dos Beta serão os Millennials mais jovens e os integrantes mais velhos da geração Z, grupos com a tendência a adiar a idade de ter filhos, o que talvez resulte em pessoas criadas por responsáveis mais experientes e possivelmente mais estáveis.
No mundo hiperconectado em que a geração Beta vai viver, há pouca distinção entre os ambientes físico e virtual. A Inteligência Artificial e a automação estarão integradas ao cotidiano, permeando amizades, educação, entretenimento e trabalho. As interações digitais serão a norma, com o predomínio da comunicação online, o que deixa prever que a maioria dos amigos será digital, e alguns serão conhecidos pessoalmente. As interações interpessoais se transformarão de maneiras ainda difíceis de imaginar com as plataformas sociais cada vez mais interligadas à IA.
Talvez seja a primeira geração a vivenciar como padrão o transporte autônomo em massa, os dispositivos de saúde vestíveis e os ambientes virtuais. A aprendizagem, o consumo e as relações sociais serão personalizadas pelos algoritmos de IA, o que molda experiências de maneira única. Terão o problema de estar permanentemente atualizados na tecnologia, o que não é simples porque as mudanças não serão superficiais. Também vão lidar com os riscos da imersão digital constante, com os potenciais prejuízos para a saúde mental e física.
De acordo com McCrindle, a geração Beta estará no centro de eventos transformadores, como as mudanças climáticas, o envelhecimento populacional e a rápida urbanização. Caberá a essa geração tomar decisões cruciais com impactos duradouros no planeta. O sucesso de sua ação será determinante para o futuro coletivo.
Ninguém é vidente, portanto, melhor chamar essas previsões de hipóteses. Num mundo de mudanças rápidas e constantes, a única certeza que se tem é a mudança. Nesse contexto, a escola precisa aprofundar a reflexão sobre a sua função. Ela talvez seja o espaço essencial para proporcionar um tempo longe das telas, um momento de equilíbrio na vida dessa geração. Para apoiar a formação da geração Beta, além de promover o acesso às ferramentas tecnológicas e a proficiência em Inteligência Artificial, será fundamental descobrir o que se pode fazer para preservar a humanidade – em todos os seus sentidos.
Será preciso avaliar o que é humano, o que distingue essa espécie, que pensa e abstrai, e que possui a extraordinária capacidade da linguagem, que permite registrar o pensamento e comunica-lo aos outros. Uma espécie que é capaz de rir e que construiu um notável acervo de conhecimentos sobre a realidade alcançável e que sabe dos limites do alcance. Uma espécie que tem consciência que existe e questiona as próprias ações. Os humanos são uma espécie interessante, curiosa, capaz de se encantar com o mundo à volta e se comprazer em compartilhar o encantamento. Vale preservar tantas habilidades.
Numa perspectiva de tanta inconstância, a escola pode ser o lugar onde a geração Beta vai encontrar a possibilidade de convívio harmonioso e divertido, o acolhimento da curiosidade e o bem-estar coletivo.