Olhar para trás para entender e abraçar o presente
Como pensar na história da minha floricultura me ajuda a enxergar o momento atual com mais calma e carinho
A Petalis nasceu em 2018 a partir de um desejo de mudança que já vinha se construindo dentro de mim há alguns anos. Sou jornalista e trabalhei durante 10 anos nesta área, com foco em relações públicas e assessoria de imprensa. Confesso que algumas vezes deixei a inquietação me dominar, tive ansiedade, não soube muito bem para onde ir. Mas hoje consigo entender que uma mudança brusca precisa de um amadurecimento, de uma construção, ainda que ela não aconteça de forma muito clara.
A ideia em si da floricultura é quase engraçada. Em janeiro de 2018 essa minha inquietação estava chegando ao limite, eu precisava fazer algo sobre isso, sentia que alguma coisa estava para acontecer… mas o quê? Foi numa noite bem descontraída com minhas queridas amigas que a ideia em si surgiu na minha mente. A gente conversava sobre conhecidos que tinham mudado de profissão, pessoas que tinham “o trabalho dos sonhos”, e uma dessas (prima da amiga da tia… sabe como é?) estava trabalhando com flores. Nossa, fiquei chocada, como eu não tinha pensado nisso antes?! Fazia tanto sentido pra mim! Fiquei bem quietinha e levei essa ideia para ser desenvolvida sem a influência do vinho daquela noite.
Eu tive o grande privilégio de nascer e crescer em Petrópolis, numa casa linda com um jardim de flores e frutas cuidado com muita dedicação pelo meu avô Oswaldo. Não posso dizer que sempre fui uma grande entendedora das espécies e todos os seus detalhes, mas as flores sempre estiveram muito presentes na minha vida. Meu avô cuidava do jardim com o mesmo amor que fazia tudo na sua vida, com o mesmo carinho. Regava, podava, plantava e replantava, conversava com elas. E elas retribuíam – germinavam, cresciam, floresciam e davam frutos.
Assim a ideia foi também sendo germinada, crescendo, até que brotou. Da parte lúdica nasceu um plano para uma empresa, números, tabelas, orçamentos, planejamentos, mão na massa e mangas arregaçadas – tanto para aprender a transformar as minhas amadas flores em buquês e arranjos com técnica, quanto para desvendar um mundo burocrático e analítico que a maioria dos jornalistas quer distância. Hoje eu amo todas as partes de ter uma empresa, desde a mais criativa até o fechamento financeiro no fim do mês. Entendo da igual importância de tudo, o que também foi um pouco complicado no início.
Eu quis trazer essa pequena história para que sirva de lembrete para mim mesma, e para tentar ajudar quem estiver lendo! Olhar para trás, ver tudo que já se passou dentro de uma perspectiva maior, é um belo exercício para acalmar as ansiedades do presente. Já se vão quase 100 dias de quarentena – dias muito intensos, cheios de preocupação, tristeza e incerteza misturadas com esperança e gratidão por eu e minha família estarmos bem. Espero que a gente consiga olhar para o todo desta situação e entender que cada um tem seu papel importante – o lixeiro que segue trabalhando para manter nossas ruas limpas, os profissionais da saúde que estão na rotina das mais insanas para literalmente salvar vidas, os jornalistas que traduzem os fatos com transparência, e quem pode ficar em casa para ajudar a diminuir a curva de contaminação.
Ao mesmo tempo que as incertezas batem à porta de uma pequena empresa, é lindo de ver a onda de carinho que vem surgindo entre amigos, familiares, namorados que estão separados nessa quarentena e usam as flores para enviar um carinho. E isso já acalma o coração e, mais uma vez, coloca tudo em perspectiva.
Paula Pizzi é jornalista e florista à frente da Petalis Flores. Acredita que a beleza, o amor e a leveza das flores e plantas são capazes de transformar ambientes, relações, humores e vidas