Nesta hora em que a população mundial se mobiliza contra a pandemia do Covid-19, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – uma das mais respeitadas instituições científicas do país – completa 120 anos sofrendo com cortes de bolsas de pesquisa e de financiamento governamental.
A instituição foi criada em 1900 para responder a uma crise sanitária e fabricar soros e vacinas contra a peste bubônica, como lembra a historiadora Simone Kropf, pesquisadora e professora da Casa de Oswaldo Cruz.
“O microbiologista Oswaldo Cruz assumiu a direção do Instituto de Manguinhos para enfrentar esse desafio. Mas desde o início ele defendia que a instituição fosse também um centro de pesquisa e ensino, voltado à produção de uma ciência de ponta, pois, para ele, esse era também o caminho para responder às emergências sanitárias e outras demandas da saúde da população.”
Kropf ressalta que Oswaldo Cruz foi um cientista, médico sanitarista incansável defensor da saúde pública. Em março de 1903, não hesitou: “Deem-me liberdade de ação e eu exterminarei a febre amarela dentro de três anos”. Seus esforços pela vacinação compulsória, no início do século XX, levou a população carioca a amotinar-se, num violento protesto conhecido como “a revolta da vacina”.
O responsável por combater febre amarela, varíola, peste bubônica e outros males, porém, não se intimidou diante das reações à vacina, tanto que em 1907 conseguiu que a febre amarela fosse erradicada no Rio de Janeiro. Oswaldo Cruz, junto com os demais cientistas do Instituto de Patologia Experimental de Manguinhos, recebeu a medalha de ouro no XVI Congresso Internacional de higiene e Demografia de Berlim.
Em 1904, antes de a campanha decolar, cerca de 3.500 pessoas haviam morrido só de varíola. Dois anos depois, esse número caía para nove. Em 1908 o número de mortes aumentou mas, em 1910, é registrada apenas uma única vítima fatal.
No Brasil de hoje, fica cada vez mais claro que a responsabilidade governamental com as condições sanitárias e a saúde da população é fator determinante para a modernização das relações de produção. Não é à toa que pesquisas realizadas pela Fundação Oswaldo Cruz passaram a ser estratégicas.
Simone Kropf ressalta: “Nesses 120 anos, a Fiocruz vem atualizando o projeto de seu patrono: ciência de excelência voltada para as demandas da sociedade.”
O Palácio
São poucas as vias que podem ser consideradas tão representativas para a suburbanidade como a Avenida Brasil, que corta diversos bairros, desde São Cristóvão, Caju, Benfica, Manguinhos, Bonsucesso, Ramos, Olaria, Penha, Cordovil, Parada de Lucas, Irajá, Acari, Guadalupe, Deodoro, Realengo, Padre Miguel, Bangu, Campo Grande, Paciência… para, enfim, desembocar no bairro de Santa Cruz.
No meio desse importante eixo de ligação da cidade – e mesmo tendo sido construída muito antes dela -, está o majestoso edifício. Um palácio com características de influência “mourisca”, inspirada na arquitetura da Península Ibérica dominada pelos árabes.
A gestora de turismo Carla Matheus ressalta que a construção do marcante edifício teve início em 1905, sob comando do arquiteto português Luiz Moraes Júnior – que tomou por base desenhos do próprio Oswaldo Cruz.
O prédio assenta-se sobre uma base de granito preto que realça tons sóbrios no avermelhado das paredes externas e no revestimento de cobre das duas torres. De perto, explode em cores: varandas revestidas de azulejos portugueses, piso de mosaicos franceses que lembram desenhos dos tapetes árabes…”
Mas, para além da beleza arquitetônica, a Fiocruz também encanta por sua rica história, que tanto contribui para a pesquisa científica no Brasil.
Simone Kropf destaca que são igualmente prioritárias as iniciativas da Fiocruz para beneficiar famílias de baixa renda que vivem nas imediações. “A Fiocruz tem uma relação histórica com o território de Manguinhos, prestando serviços de saúde e atividades de educação. Agora, mais do que nunca, reforçamos nosso compromisso com a comunidade.”
Este texto foi feito em parceria com Ricardo Alexandre Santos de Sousa, doutor em História pela Fundação Oswaldo Cruz e professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, e com a jornalista Sandra Crespo.