Os subúrbios comemoram os 388 anos da festa da Penha
Salve a Penha padroeira que abençoa o aniversário de 137 anos da Leopoldina!
Outubro transborda suburbanidade com datas relevantes, principalmente, para a história do samba e da musicalidade brasileira. Basta dizer que o mês já começa com as comemorações de aniversário do grande músico Cláudio Jorge de Barros, vencedor do Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba de 2020, seguido do saudoso compositor Silas de Oliveira, um dos principais bambas do Império Serrano. Logo no dia 11, saudamos os 115 anos do nascimento de Agenor de Oliveira, nosso eterno Cartola da Mangueira.
Neste antepenúltimo mês do ano também recordarmos mestres como: Heitor dos Prazeres, Mano Décio da Viola e Luiz Carlos da Vila, que nos deixaram para compor a roda celestial de estrelas do samba, exatamente durante outubro. Tudo isso no mesmo mês em que a Festa da Penha completa seu aniversário, coincidentemente no mesmo dia 29 em que nasceu Nelson Cavaquinho.
Sendo uma das efemérides mais antigas do país, em 2023 teremos a celebração de número 388° da devoção a Nossa Senhora da Penha de França.
Segundo o escritor, professor, historiador e compositor Luiz Antônio Simas: “A festa transformou-se, depois do Carnaval, no maior evento popular do Rio de Janeiro. Os poderosos fizeram de tudo para impedir o furdunço. Em 1904, 1907 e 1912, a prefeitura proibiu rodas de samba na Penha. A rapaziada foi lá, zombou da proibição e fez. Havia ordem de prisão para praticantes da capoeira. O berimbau puxou o toque de São Bento Grande e o povo gingou. A baiana temperou o acarajé, a cerveja gelou e o Rio mostrou que o espaço da civilização da nossa cidade é a rua.
Acho, por tudo isso, que a cidade deveria zelar pelos festejos da Penha, zuelando tambores na ermida. A festa é parte integrante da História carioca. A decadência dos festejos – por uma série de motivos que demandariam inúmeras discussões – é emblemática dos paradoxos de uma cidade que, vez por outra, parece querer negar seus traços culturais mais fecundos.”
Foi neste solo suburbano sagrado onde o samba amaxixado “Pelo Telephone“, que seria registrado em 1916 como pioneiro do gênero no Brasil, foi apresentado pela primeira vez ao público, por Donga e Mauro de Almeida.
A história de ocupação tupinambá destas terras, que contou com importantes e estratégicas aldeias situadas entre os rios Irajá e Inhaúma, ainda podem e devem ser ouvidas e sentida ao lada da tamarineira do Cacique de Ramos. Força ancestral que também vivenciamos no terreiro da atual campeã do carnaval carioca, Imperatriz Leopoldinense. Escola que saúda seu santo padroeiro neste dia 28 de outubro, São Judas Tadeu, sincretizado como o orixá Xangô nas religião de matriz africana.
Por falar em Ramos, o bairro acabou de completar 137 anos, no último dia 23, assim como o bairro de Abolição comemora seu aniversário de criação em 29 de outubro.
A história de construção do primeiro templo para Nossa Senhora da Penha, nos subúrbios da Leopoldina, data de 1635. Ela teria sido erguida a mando do capitão Baltasar de Abreu Cardoso, senhor abastado e proprietário de uma grande quinta dentro da qual se achava o penhasco. Suas terras, segundo indica Vivaldo Coaracy na obra “O Rio de Janeiro no século 17”, lhes foram concedidas por sesmaria em 1613.
Em 1728, essa Irmandade, pensando em ampliar a primeira capela, demoliu o prédio e construiu outro, com uma torre onde foram colocados dois pequenos sinos. Por volta do ano de 1900 houve uma nova intervenção. O templo foi ampliado, ganhando duas novas torres, nas quais, mais tarde, foi instalado um carrilhão com 25 sinos de origem portuguesa, adquiridos na Exposição Nacional do 1º Centenário da Independência do Brasil.
É importante destacar que o pároco responsável pela igreja, entre 1879 e 1907, era o padre abolicionista Ricardo da Silva, conhecido por oferecer abrigo e cuidados aos escravizados fugidos, fazendo com que a área também fosse identificada como “Quilombo da Penha”. O memorialista Melo Morais Filho foi um dos primeiros a escrever sobre a Penha, em seu livro “Festas e tradições populares do Brasil”, de 1979.
A historiadora Rachel Soihet, uma das principais autoridades sobre à festa da Penha, defende que os negros baianos foram de grande importância para a festa. As tias com suas barracas foram pontos de encontro, identidade e resistência cultural através da música, da dança e da culinária.
Segundo o pianista Jefferson Placido, que há cinco anos tem levado sua música clássica suburbana para a festa, se apresentar com Jazz de qualidade para uma população tão esquecida pelo poder publico é mostrar que temos muito mais do que apenas a violência das operações policiais na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão.
Jefferson nos fala que: “É muito relevante fazer parte da festa da Penha, primeiro porque nós não temos mais quase lugares que respiram cultura no Rio de Janeiro. A festa da Penha por ser uma comemoração suburbana e ter todo esse viés cultural é uma forma de manter a chama acesa, chama que funciona como uma engrenagem de transformação.
É de suma importância para todos que participam da festa da Penha olhar para os subúrbios como um polo cultural potente e não como espaço de violência!”
A programação deste final de semana está maravilhosa e presenteia todo o publico e devotos que frequentam a tradicional festa da Penha, padroeira que também abençoa o aniversário de 137 anos da região da Leopoldina. Local de fé, onde nomes como Tia Ciata, Donga, Noel Rosa, Ismael Silva, Cartola, Clementina de Jesus, Pixinguinha, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, Beth Carvalho e muitos mais frequentaram e cantaram suas delícias e belezas.
No aniversário de 135 anos da Leopoldina, recordamos Luiz Carlos da Vila
Do alto da Penha, os subúrbios celebram o aniversário da Leopoldina