Nesta primeira semana de julho, o Rio comemorou uma série de aniversários de bairros tradicionais, tanto na Zona Oeste como nas zonas Sul e Norte. Começando por Sepetiba, que festejou na terça (5) seus 450 anos de fundação. Em seguida, quarta (6), tivemos o aniversário de 130 anos de Copacabana e na quinta (7), foi a vez de celebrar os 263 anos da Tijuca. Uma curiosidade que chamou minha atenção foi o fato do aniversário de Copacabana, “a Princesinha do Mar” ter ganhado muito mais destaque que os outros bairros. Principalmente, sabendo que a Grande Tijuca é mais populosa e integrada a cidade, se conectado diretamente com a Zona Norte, com a região central e até com a Barra da Tijuca. Tal como pelo fato de Sepetiba e da Tijuca também serem bem mais antigas, em suas fundações e ocupações, do que Copacabana.
Não queremos desmerecer a importância histórica, turística e cultural de Copacabana. Mas achamos complicado não ver tantas reportagens nas mídias que igualmente abordem a importância das comemorações nas zonas Oeste e Norte da cidade.
Com relação a Sepetiba, poderiam falar também do seu potencial turístico, com várias praias e ilhas para desfrutar, tais como a Ilha do Bom Jardim, a Ilha de Jaguanum, a Ilha Guaíba e até mesmo a famosa Ilha de Itacuruçá. Região que, apesar da poluição, ainda é a área com maior concentração de botos cinza o mundo.
Atualmente, Sepetiba é cercado pelos bairros de Santa Cruz, ao norte, e Guaratiba, ao sul. Acredita-se que o significado do nome venha do tupi-guarani “Sipitiba”, que pode ser entendido como o lugar de muito sapé, sapezal ou capim-sapé, uma espécie de gramínea. Sua criação está diretamente relacionada à própria guerra de fundação do Rio de Janeiro, iniciada em 5 de julho de 1567, com a chegada dos índios Tamoios.
Sobre a Tijuca, também valeria destacar sua diversidade social, suas favelas, praças, bares e comércios além das belezas geográficas, como montanhas, rios e a floresta.
Segundo Gastão Cruls, em seu livro “Aparência do Rio de Janeiro”, a origem do nome Tijuca vem da língua tupi e significa brejo, lama, atoleiro, lodo ou lamaçal de cor escura. Este importante bairro da Zona Norte tem o início da sua ocupação colonial ainda no século XVI, quando a região passou a ser ocupada pelos padres jesuítas, que instalaram as primeiras fazendas e engenhos de cana-de-açúcar. Criando em seguida uma capela dedicada a São Francisco Xavier.
Com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, em 1759, a freguesia do Engenho Velho (como já foi o antigo nome da Tijuca) começou a ser loteada e habitada.
Aproveitando que a Tijuca está em festa e que este ano também comemoramos o centenário do nascimento de Otto Enrique Trepte, mais conhecido como Mestre Casquinha da Portela, deixamos aqui uma bela dica cultural: uma exposição de objetos pessoais de Casquinha, roda de conversa com seus familiares e personalidades do samba, além de um show celebrando os sucessos do compositor, com participação especial de Tia Surica e Marquinhos de Oswaldo Cruz. Tudo isto está acontecendo no Centro de Referência da Música Carioca Artur da Távola, na Tijuca.
Neste sábado (9), ainda teremos uma apresentação com as Herdeiras do Samba, coletivo cultural feminino carioca formado por Mônica Trepte, Eliane Duarte e Andrea Moreira, com direção artística de Geisa Ketti – respectivamente filhas dos grande baluartes do carnaval brasileiro: Casquinha, Mauro Duarte, Wilson Moreira e Zé Ketti. O show conta com as participações especiais de Tia Surica, da Velha Guarda e Presidente de Honra da Portela, que tira do baú, “Celeiro de Heróis”, “Falsas Juras” e os clássicos “Corri pra Ver” – um dos hinos da Portela, parceria com Mestre Monarco e Chico Santana – e “Recado”, parceria com Paulinho da Viola. O Cantor e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz, idealizador da Feira das Yabás, apresenta o samba “Meu Bairro”, gravado por ele, o “Ideal é Competir”, “Preta Aloirada”, e “Dendeca de Briga”.
Casquinha nasceu em 1º de dezembro de 1922, em Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte. Mudou-se ainda criança, após a morte do pai, para Oswaldo Cruz. Ganhou o apelido inusitado na escola, depois de ter comido um pedaço de carne que caíra do prato de um colega – tirou uma casquinha. Exerceu várias profissões, como pintor de paredes e contínuo do Banco Mercantil, além de meio-campo (center half, como gostava de dizer) talentoso, tendo disputado por diversas vezes a Segunda Divisão do Campeonato Carioca. Em 1959, em parceria com Candeia, Waldir 59, Altair Prego e Bubu, escreveu o samba-enredo “Brasil, Pantheon de Glórias”, com o qual a Portela foi campeã.
Na década de 1960, fez parte do grupo Mensageiros do Samba. Em 1964, Casquinha tornou-se o primeiro parceiro de Paulinho da Viola na Portela, no samba “Recado”, que virou um clássico da Música Popular Brasileira, tendo sido gravado por Elza Soares, Nara Leão, MPB-4, Jair Rodrigues e outras estrelas da MPB.
Foi integrante e Baluarte da Velha Guarda da Portela desde o lançamento do primeiro disco do grupo, em 1970. Fora da Velha Guarda, gravou um disco em 2001, “Casquinha da Portela”, seu único solo, pela Lua Discos, produzido por Moacyr Luz, Em 2014, teve sua obra eternizada no DVD “Casquinha da Portela – O Samba Não Tem Cor”, produzido por Mauro Diniz. Desfilou em sua Escola do coração pela última vez em 2017, sendo campeão.