Há mais de dez anos faço a cobertura do Grammy Latino, que sempre acontece em Las Vegas. Esta 24ª edição foi diferete, em Sevilha, maior cidade e capital da Andaluzia, que entregou tudo e mais um pouco para que a maior festa da música latina fosse irreparável.
De fato, a Andaluzia, berço do flamenco e também de grandes artistas, como Pablo Picasso, Camarón de la Isla , Paco de Lucía, Federico Garcia Lorca e Antonio Banderas, tem uma vocação inigualável para as artes, entre elas a música.
Não à toa, tivemos a maior delegação de brasileiros já vista em um Grammy Latino: cerca de 200, entre artistas e profissionais da indústria fonográfica.
A Semana da Música Latina movimentou não apenas a hotelaria local, como também inúmeros bares, restaurantes, lojas e pontos turísticos. Alguns serviram inclusive de palco para as festas paralelas.
A Universal Music ousou ao montar uma tenda gigante em plena Plaza de España, uma das mais emblemáticas do país e marco da capital andaluz, construída para a Exposição Iberoamericana de 1929 e o maior projeto arquitetônico da cidade durante o século XX.
As plataformas YouTube e Spotify também fizeram suas recepções, sempre em palacetes e casas históricas que por si só já eram uma atração.
Na programação principal, foi emocionante ver a cantora Simone e outras nove lendas musicais vivas ganhando o prêmio pelo conjunto da obra , além de ouvir o repertório inigualável da estrela Laura Pausini.
A première do Latin Grammy – parte não televisionada – é sempre a mais relevante para o Brasil. Como uma fervorosa fã e consumidora de música brasileira – e tendo sido repórter de entretenimento por 15 anos -, acho especialmente tocante. E ainda por cima tenho a chance de ser locutora oficial nas categorias em português.
Com extrema simpatia, segurança e elegância, a cantora Giulia Be conduziu a cerimônia junto ao ator espanhol Miguel Ángel Muñoz. Assistir ao vivo ao discurso da talentosa Gaby Amarantos, visivelmente emocionada ao receber o prêmio de Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa, exaltando a Amazônia, foi um dos momentos mais brilhantes da noite.
Presenciar a banda carioca transgressora Planet Hemp – de volta ao completar 30 anos -, que levou duas estatuetas, também foi um dos pontos altos da jornada.
Justas também as premiações post-mortem a João Donato (Álbum de Música Popular Brasileira) e Marília Mendonça (Melhor Álbum de Música Sertaneja). Martinho da Vila levou o melhor álbum de samba e pagode, enquanto o carismático Thiaguinho se apresentou lindamente para a plateia latina.
Tiago Iorc venceu na categoria de Melhor Canção em Língua Portuguesa, junto com a compositora Duda Rodrigues, e ainda apresentou um dos prêmios na cerimônia principal.
Independentemente de terem ganho ou não, merecem nossos aplausos os artistas brasileiros indicados que compareceram em peso à cerimônia, como Tulipa Ruiz, Rubel, Mumuzinho, Tim Bernardes, Chico César, Vanessa da Mata, entre outros.
Sendo um destino estreante como sede da maior festa da música latina, claro que qualquer lugar sofreria seus percalços. O centro de exposições de Sevilha não foi feito para receber uma premiação de tal porte e com um público tão amplo. Para se ter uma ideia, enquanto em Las Vegas o teatro tinha capacidade para 15 mil pessoas, na cidade espanhola couberam apenas 4 mil e faltaram os telões gigantes que sempre ajudam a plateia a visualizar o que acontece no palco.
Mas nada que tenha tirado a vibração do discurso de abertura do andaluz Antonio Banderas, o charme e talento da mega estrela Shakira, que levou três Grammys, o magnetismo do italiano Andrea Bocelli e a voz inigualável do espanhol Alejandro Sanz.
Da ala brasileira, a pernambucana e novata Natascha Falcão – indicada na categoria artista revelação – se apresentou com outros artistas, enquanto Iza entregou uma performance dançante ao lado de Camilo, Manuel Carrasco e Edgar Barrera.
Por conta do fuso horário, a cerimônia começou – e obviamente terminou – bem mais tarde que costuma ser nos EUA.
Ainda sim, alguns convidados, entre eles esta jornalista que vos escreve, tiveram fôlego para ir ao After Party da Sony Music, para cerca de mil pessoas, bem animada e diversa, com farto open bar e uma série de Food trucks.
Segundo o presidente da Sony Music Brasil, Paulo Junqueiro, “o Grammy em Sevilha trouxe um componente estético bem diferente de Las Vegas, já que os lugares dos eventos são edifícios onde se respira história e cultura, além da beleza estonteante. Sevilha é uma cidade linda, e a temperatura favoreceu. Sinto que os artistas gostaram da mudança e muitos deles vão aproveitar para esticar um pouco pela Europa.”
Resta saber agora qual será a felizarda cidade que vai receber a edição comemorativa dos 25 anos do Latin Grammy. Espero poder te contar em primeira mão.
Renata Araújo é jornalista e editora do site de turismo e gastronomia You Must Go! e da página do instagram @youmustgoblog.