Um roteiro pelo Mediterrâneo e Norte da África
Sei que este é um assunto controverso e divide opiniões entre aqueles que amam e os que detestam. Mas veja bem, nem todos os cruzeiros são iguais. Existem os gigantes, com cerca de 2 e 3 mil passageiros; os fluviais, bem menores; e os de expedição de luxo, como o que embarquei em agosto passado, o Swan Hellenic Diana, com apenas 120 passageiros. A capacidade dele na realidade é de 190 (96 cabines e suítes), sendo que a tripulação chega a 150. Ou seja, a certeza de um serviço pra lá de exclusivo e uma tripulação extremamente atenta às necessidades dos passageiros. Além disso, os ambientes são extremamente elegantes, com design escandinavo e vários espaços ao ar livre, divididos entre nove deques.
A cia britânica tem uma história de 70 anos e retomou suas operações recentemente. Portanto, a frota está novinha em folha! As cabines são confortáveis e práticas. A minha, com varanda, tinha 28m2, o que atendeu perfeitamente a mim e meu marido. E há as suítes que chegam a 47m2. Além disso, uma das coisas que mais me impressionou durante o cruzeiro foi o silêncio!! Tanto nos corredores quando nos anúncios sonoros: poucos e essenciais.
Os roteiros
O Swan Hellenic faz itinerários diversos e um dos seus mais disputados é para Antártida. Porém, carioca da gema e amante de verão que sou, preferi pegar um solzinho e escolhi o roteiro “Mediterrâneo e Norte da África – mistérios dos Cartagos e Mouros”. Além de o mês de agosto me favorecer em termos de datas, visitaria seis países em dez dias e ainda daria check in em dois destinos inéditos: Argélia e Tunísia.
Outra vantagem deste cruzeiro de expedição é que as paradas são em horários variados. O que quer dizer que você não precisa acordar cedo todos os dias, uma dádiva em viagem. Cada parada acontecia em um horário diferente e havia sempre passeios pré-programados e escolhidos com antecedência, já incluídos. Além disso, os guias são altamente especializados. Diariamente tinha um briefing às 18h30, para entendermos a programação do dia seguinte.
A primeira saída
Nossa viagem começou na ensolarada Lisboa, e a primeira parada foi em uma das praias mais disputadas do Algarve, Portimão, de fato uma paisagem exuberante que me conquistou por inteiro. Decidimos não participar da excursão e pegamos o transfer oferecido pelo navio. Foi a melhor decisão, já que passamos o dia de verão em uma praia deliciosa, mergulhamos, caminhamos e almoçamos à beira-mar.
Outro ponto alto deste navio de luxo é a gastronomia. Mais uma vez os horários favorecem. Das 7h às 9h, é servido o café da manhã chamado de early bird, e das 9h às 11h, um café reduzido, mas que nos atendeu por completo, com frutas, pães, ovos e afins. Além disso, o restaurante serve uma comida refinada, com pratos elaborados por chefs e algumas opções fixas no cardápio. Resultado: a gente não repete prato, a não ser que queira, e não se cansa da comida. Enquanto isso, a carta de vinhos é de ótima qualidade e há bebida alcoólica disponível praticamente o dia inteiro.
Hola España!
O próximo porto foi o da calorenta Sevilha, onde chegamos através do único rio navegável da Espanha. De fato um destino que não recomendamos visitar no verão, mas valeu cada segundo ter retornado à capital da Andaluzia e quarta maior cidade do país. Ela tem uma das mais esplêndidas Plazas de España da Europa, além da mais antiga Plaza de Toros do país – polêmicas à parte.
De Sevilha chegamos a Tânger e nos emocionamos ao passar pelo Estreito de Gilbraltar, a passagem de água estreita que separa a Europa da África. Entre o sul da Espanha e o norte do Marrocos, o estreito liga o Mar Mediterrâneo ao Oceano Atlântico, e claro que a típica foto com a plaquinha tinha que rolar. Tânger é uma mistura de África ocidentalizada com a Espanha Moura, um mercado de lendas de vários lados do mundo. Fizemos o passeio guiado oferecido pelo Swan Hellenic, que nos apresentou à cidade do noroeste da África da melhor maneira.
Os jantares
Enquanto isso, no navio, jantávamos sempre às 19h, no primeiro horário, no intuito de pegar uma mesa ao lado da janela e apreciar o azul do mar enquanto comíamos, uma imagem que deixa saudades, sobretudo quando flagrávamos o pôr do sol. Quando terminávamos, subíamos ao Observation Lounge para tomar um Espresso Martini e ouvir nosso amigo pianista Romeo. No começo estranhamos ir dormir cedo todas as noites, mas depois nos habituamos e entramos no clima da viagem, que tem foco em aproveitar cada destino.
Depois do Marrocos, chegou a parte mais exótica e difícil da viagem: Argélia! O maior país da África, que faz fronteira com a Tunísia, Líbia e Marrocos, foi aberto ao turismo há cerca de dois anos e não é dos mais seguros. Ou seja, éramos proibidos de circular livremente. Podíamos sair apenas com a excursão do Swan Hellenic que, por sua vez, tinha escolta policial. Tudo foi muito bem organizado e não deu para sentir medo em momento algum. Mas os problemas da Argélia são visíveis, como lixo na rua e prédios mal conservados, apesar de belíssimos, em estilo parisiense. A independência da Argélia foi conquistada em 1962, após anos de luta com o colonizador francês. O que de fato surpreende são as belezas naturais, e a diversidade geográfica, com montanhas imponentes do Atlas, com vistas estonteantes para o mar Mediterrâneo, além das praias populares entre os locais.
Não foi um parada cor de rosa, mas, parafraseando o jornalista Anthony Bourdain, “Viagens nem sempre são confortáveis e deixam marcas na memória, coração e corpo”.
A vibrante Tunísia e o encerramento da viagem
Da Argélia fomos para Tunísia, país totalmente aberto ao turismo e pra lá de instigador com seus costumes árabes, arquitetura e gastronomia típicas, além de tentadores mercados. E o desembarque final foi feito em Palermo, onde cada um tomaria seu rumo. A vontade mesmo era continuar a bordo e fazer o roteiro pela Sicília. Afinal de contas, não é todo dia que estamos a bordo de um navio cinco estrelas , com um super spa e academia, uma piscina praticamente vazia o tempo inteiro e momentos de ócio muito bem-vindos! Além de um serviço atento e uma tripulação afetuosa, majoritariamente vinda das Filipinas. Confesso que saí com um gostinho de quero mais, já pensando em um próximo roteiro. E você, vai me dizer que não ficou com vontade?
Renata Araújo é jornalista e editora do site de turismo e gastronomia You Must Go! e viajou a convite da Swan Hellenic Cruises.