Rita Fernandes

Por Rita Fernandes, jornalista Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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Toda casa é de santo, todo santo é de casa

A cantora Mariene de Castro, isolada no Rio, apresenta Santo de Casa em live com participação dos filhos e celebra Cosme e Damião

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Atualizado em 11 set 2020, 14h37 - Publicado em 11 set 2020, 13h48
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  • Toda casa é de santo. Todo santo é de casa. Os versos são da música de Roque Ferreira e dão inspiração à Mariene de Castro para o seu Santo de Casa, show que ela apresenta pela plataforma Sympla no dia 26 de setembro – um dia antes da comemoração de Cosme e Damião – e que vai celebrar justamente as crianças. Ou Ibejis, na língua das religiões africanas. E Mariene não vem só. Pela primeira vez será acompanhada por seus quatro filhos, João (21), Pedro (12), Bento (9) e Maria (7). A família está isolada desde o início da pandemia do coronavírus em uma casa no Rio de Janeiro, “no meio do mato”, como ela diz, e que chama de “nosso cantinho”. E é lá que estão ensaiando diariamente para a apresentação.

    Santo de Casa é o primeiro álbum a vivo da cantora, gravado no Teatro Castro Alves, em 2009, em Salvador, e que escancara suas raízes baianas, passeando pelos sambas de roda, de raiz, ciranda e marujada. Na live, Mariene e filhos vão tocar o repertório completo do DVD, que tem mais de 20 músicas, entre elas Falsa Baiana, Eu Vi Mamãe Oxum Na Cachoeira e Abre Caminho. Essa última, inclusive, foi relançada durante a pandemia – a primeira edição do CD só tinha mil cópias – e foi disponibilizada para o público em todas as plataformas digitais.

    “Comecei a ensaiar e, quando vi, os meninos estavam tocando todas as músicas. Foram se chegando, trazendo seus instrumentos, e de repente estavam todos lá. Foi tudo muito espontâneo, muito natural. Vou fazer uma festa para as crianças com as minhas crianças de casa”, diz Mariene.

    Mariene de Castro – Sorriso
    Desde que a pandemia da Covid-19 começou, a cantora está isolada em uma casa no meio do mato, no Rio, com a família. (Divulgação/Divulgação)

    Desde que a pandemia da Covid-19 começou, a cantora interrompeu suas idas e vindas de Salvador, e diz que parou de ver televisão, porque estava se desesperando ao ver o sofrimento de tanta gente. “A gente se voltou mais para os afazeres em família, tão prazerosos, e que geralmente dispúnhamos de tão pouco tempo. A estrada estava sempre me trazendo e me levando”, conta.

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    Cozinhar é um desses afazeres que juntou a família, entre bolos e cuscuz. “A cozinha é a alma da nossa casa”, diz. Tocar, estudar, ler juntos também fazem parte da rotina, e cada um dos filhos de Mariene está escrevendo um livro, estimulados pela mãe. Há ainda a horta, onde plantam e colhem produtos para consumo em casa.

    Filha de Oxum, Mariene é filha de santo de Mãe Carmen, do Gantois, em Salvador. Sua profunda ligação com o sagrado se apresenta tanto no seu trabalho, pelas canções que canta como verdadeiras orações, quanto nas lives que começou a fazer quando o isolamento social se impôs. Na Resenha da Maricota, no seu canal do Instagram, ela começa cantando lindamente uma “Ave Maria”, gravada por Dalva de Oliveira e que ela lembra de ouvir desde criança, cantada por sua avó. “Em casa era hábito cantar às seis da tarde”. Depois, ela recebe pais de santos, padres, pastores, rabinos e outros religiosos ou estudiosos do tema. A última resenha foi com o babalorixá Márcio de Jagun, que lançou seu novo livro “Candomblé em Tempos de Crise”.

    A intolerância religiosa e o racismo são dois temas constantes nas lives da cantora, que diz ansiar por um tempo em que possa usar suas contas (guias), cantar seus cantos e falar de seus orixás de maneira livre. “Sofri tanto com o racismo, com a intolerância religiosa a minha vida inteira, que tenho responsabilidade de falar sobre isso. Gostaria de deixar algo melhor para os meus filhos e para a humanidade”, desabafa.

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    E foram as resenhas que aproximaram Mariene do mundo virtual. Ela diz que estava sentindo falta do calor do público, dos abraços dos amigos e da presença das pessoas no seu dia-a-dia.

    Mariene de Castro alta – floresta
    Sua profunda ligação com o sagrado se apresenta tanto no seu trabalho, pelas canções que canta como verdadeiras orações, quanto nas suas Resenhas da Maricota, lives com religiosos. (Divulgação/Divulgação)

    Preocupada com sua equipe, Mariene vinha fazendo shows de graça até agora, mas diz que decidiu fazer Santo de Casa com ingressos a “valores justos”, porque o patrocínio das empresas não está chegando a todos os artistas. E, com razão, aproveita para fazer uma crítica às empresas que têm escolhido patrocinar apenas artistas de grandes audiências, e que não necessariamente seriam os que estariam precisando mais.

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    “O dinheiro está indo apenas para um lado. Percebo uma falta de empatia, de sensibilidade e de entendimento de todos. Há artistas precisando muito de ajuda, enquanto outros estão ostentando demais”, lamenta.

    Ainda assim, Mariene de Castro tem confiança de que as coisas vão melhorar. Diz que é preciso viver um dia de cada vez, não ter angústia com o futuro, aproveitar o hoje sem muitos planos para o amanhã, fazendo o melhor que cada um pode fazer. E finaliza: “Que as coisas boas que brotaram na pandemia possam seguir. O resto, só o tempo dirá”.

    Para comprar ingressos para o show Santo de Casa, no dia 26 de setembro, às 20h, basta acessar https://www.sympla.com.br/mariene-de-castro—santo-de-casa__969391 ou ir na Bio de Mariene de Castro, no Instagram. Todo axé para essa cantora maravilhosa e para os artistas do Brasil!

    Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana e pesquisadora de cultura e carnaval.

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