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Rita Fernandes

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Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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Esperança.Eco: esquina dos bons ventos e da boa música na General Glicério

Com samba, jazz e MPB, o mercado de orgânicos deu lugar a um restaurante que se tornou o point musical da rua que já é conhecida pelo Choro na Feira

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Atualizado em 12 Maio 2023, 15h28 - Publicado em 12 Maio 2023, 12h05
Samba de primeira com Dudi Baratz (voz e chocalho), Pedro Holanda (voz e cavaco), Sandrinho (percussão), Zinho Brown (de chapéu, pandeiro) e Alexandre Caudi (sopros), além de várias canjas e participações.
Samba de primeira com Dudi Baratz (voz e chocalho), Pedro Holanda (voz e cavaco), Sandrinho (percussão), Zinho Brown (de chapéu, pandeiro) e Alexandre Caudi (sopros), além de várias canjas e participações (Rose Vermelho/Arquivo pessoal)
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Com lua e vento, a encruzilhada da Rua General Glicério com a Ortiz Monteiro pega fogo às sextas-feiras. Desde janeiro, rola por lá uma roda de samba só na boca miúda da vizinhança e dos conhecidos. E que roda de samba!! Lembra os primórdios do Sobrenatural, em Santa Teresa, na década de 90, quando feras do gênero se reuniam pra tocar música de alta qualidade.

Pedro Holanda (cavaco e voz), Dudi Baratz (voz), Bernardo Dantas (violão), Alexandre Caudi (sopros), Sandrinho (percussão) e Zinho Brown (pandeiro) ocupam aquele pequeno espaço diante da parede amarela onde se lê “Desacelere. Sinta-se bem. Faça o Bem”, frase que bem define a vibe daquele lugar. Todas as sextas, a partir de 18h e até 21h, o grupo se reúne ali pra tocar e geralmente recebe canjas surpreendentes, a maioria moradores do próprio bairro, como Mariana Bernardes e Rodrigo Maranhão. Como o bistrô tem poucas mesas, o jeito ali é levar cadeirinha de praia, banquinhos de casa ou se encostar nos pitocos da própria rua. Mas tudo vale a pena!

Samba de primeira com Dudi Baratz (voz e chocalho), Pedro Holanda (voz e cavaco), Sandrinho (percussão), Zinho Brown (de chapéu, pandeiro) e Alexandre Caudi (sopros), além de várias canjas e participações.
Samba de primeira com Dudi Baratz (voz e chocalho), Pedro Holanda (voz e cavaco), Sandrinho (percussão), Zinho Brown (de chapéu, pandeiro) e Alexandre Caudi (sopros), além de várias canjas e participações. (Rose Vermelho/Arquivo pessoal)

A ideia de colocar música na programação foi do cantor, compositor e violonista, Raphael Gemal, marido de Verônica Moreira, a dona do pedaço. Nascida e criada em casa de artista, filha do ator Roberto Frota, a advogada largou 15 anos de emprego como coordenadora jurídica da Light e se aventurou nessa  empreitada, em janeiro de 2022. Ela diz que sempre quis ter algo como um café lítero-musical.

“Tinha vontade de montar um desses lá em Arraial da Ajuda, mas nunca aconteceu. De repente, pude materializar esse projeto aqui na vizinhança, no lugar onde passei minha infância”, conta. Ali, no imóvel onde hoje funciona o Esperança.Eco, na década de 1970 ficava a venda da D. Maria, onde a criançada ia comprar biscoitos, balas Juquinha e guaraná. Inclusive eu, que vos escrevo, sempre moradora do bairro. “Passei minha vida aqui e quando aluguei esse imóvel, nem acreditei! Disse pro meu irmão que tinha alugado a loja da D. Maria”, diverte-se Verônica.

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O Esperança.Eco começou como um pequeno mercado de produtos orgânicos e um café. “Orgânico é a minha filosofia. Sou vegetariana há 25 anos e nunca quis abrir mão dessa ideia. Sofri muito porque não tinha opção. Qual era a minha ideia? Desmistificar o produto orgânico, colocar um preço mais acessível e ganhar no volume”, conta. Mas o mercado de orgânicos e o pequeno café rapidamente foram cedendo lugar ao restaurante. Ela conta que, a cada dia, os clientes iam dando novas ideias ao cardápio, e Verônica ia absorvendo dentro da sua experiência de fazer pratos vegetarianos que não fossem apenas salada.

Os drinques ficam por conta de Matheus, barman que aos sábados atende na famosa barraca do Luizinho, na feirinha da GG.
Os drinques ficam por conta de Matheus, barman que aos sábados atende na famosa barraca do Luizinho, na feirinha da GG (Rita Fernandes/Arquivo pessoal)

Para dar conta do público, que começou a crescer só no boca a boca, Verônica teve que ir mudando o espaço e o cardápio, e, para as sextas-feiras, chamou o barman Matheus, que aos sábados trabalha na barraca de drinques do Luizinho, outro clássico do local. Dali saem caipiras, gins tônicas, moscou mules, aperols. No cardápio, a pizza de massa orgânica, pasteis, pães de queijo, omeletes e outras gostosuras na linha vegetariana.

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O casal Veronica Moreira e Raphael Gemal, que reinventou aquele local, com comida saudável e música de primeira
O casal Veronica Moreira e Raphael Gemal, que reinventou aquele local, com comida saudável e música de primeira (Veronica Moreira/Arquivo pessoal)

Música na encruzilhada

A primeira apresentação musical no Esperança.Eco aconteceu em junho de 2022, com Raphael Gemal aos sábados, tocando MPB. Nesses encontros, ele convidava os clientes para cantarem uma música – tipo karaokê mesmo – e eles adoravam participar. Depois, Gemal e Ernani Cal fizeram o Arraial do Esperança, que foi um sucesso. Em janeiro de 2023 começou o samba, e, em março, a primeira apresentação de jazz, que se manteve sempre às quartas-feiras, a cargo dos músicos Nei Conceição (baixo) e Adaury Mothé (teclado).

A casa não cobra couvert artístico nenhum dia. As contribuições ficam por conta dos clientes, que disputam lugar cedo para conseguir sentar. O grande barato do Esperança.Eco é que lá é um lugar que foi sendo construído naturalmente, a partir de uma rede de vizinhos que têm em comum o gosto pela música de boa qualidade, seja qual for, e pela comida boa e saudável, além de uma boa conversa na rua.

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A grande novidade agora será a Segunda de Primeira, que começa em junho, sempre às segundas-feiras, “com uma programação de primeira qualidade”, como diz Veronica, podendo ter MPB, duos musicais, música clássica e outras variações.

“Tudo aqui começa assim meio por acaso e tem dado muito certo, tudo muito participativo”, diz Veronica. Pergunto como vai ser o futuro, com o crescimento exponencial do público e das noites musicais. “Não sei, eu acho que a ideia é administrar cada vez melhor e fazer um esquema de praia e botequim, cadeira e caixote pra sentar”, me responde. De certo é que a encruzilhada é boa e promete grandes surpresas. Eu super recomendo qualquer noite por lá. Lembra de levar seu banquinho, pois  música, violão e afeto eles têm de sobra.

Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana e pesquisadora de cultura e carnaval.

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