Labuta, pelo dicionário, significa trabalho pesado, tarefa árdua. Mas, pra quem conhece os bares de Lucio Vieira e Mateus Brito, também pode ser sinônimo de boa comida, samba e muita descontração. Cravados na antiga Rua do Senado, no Centro, estão o Labuta Bar e Labuta Braseiro, que têm levado um monte de gente ao local que já era ocupado pelo tradicional Armazém do Senado. O que chama atenção ali, além da mais tradicional gastronomia de boteco e o prazer das rodas de samba no Armazém do Senado, é o ambiente descontraído das cadeirinhas de praia na calçada, no melhor estilo carioca.
No coração de um Centro bem antigo, de um lado tem o Labuta Bar – chamado carinhosamente por Lucio de Labutinha – e o Labuta Braseiro, especializado em carnes na brasa. O primeiro é um pequeno bar com apenas nove banquetas e um balcão, e surgiu um mês antes da pandemia, o que interrompeu seu funcionamento, só possível de retornar quase dois anos depois. Os novos donos, que já frequentavam o local, resolveram manter um cardápio no melhor estilo “botequim pé sujo”, com petiscos como torresmo, jiló, croquetes e sanduíche de pernil.
“A gente já tinha o Lilía, no CCBB, que funcionava há dois anos. E frequentávamos um botequim muito simplesinho ali, onde parávamos diariamente para tomar uma cervejinha. E fomos pegando amizade com os donos, o Tarcísio e o Marcelo. Em determinado momento, eles se desentenderam e resolveram passar o ponto e surgiu a oportunidade. O intuito do Labuta sempre foi acompanhar o Armazém do Senado, um lugar super importante para a cultura do samba”, conta Lucio.
O Armazém do Senado é um dos bares mais antigos do Brasil, fundado em 1907, que fica bem na esquina com a Rua Gomes Freire. Famoso pelas rodas de samba aos sábados, que reúnem sambistas e figuras ilustres das velhas guardas das escolas de samba, mantém aquele jeito de armazém como eram os bares de antigamente. E, por isso, não dispõe de um cardápio com muitas opções.
“O Armazém não tem cozinha, só serve tremoços, salaminho e empadas. Então eu vi oportunidade de montar ali um bar com itens tradicionais, como caldo de mocotó, jiló, torresmo, coisas que tivessem alguma ligação com essa cultura do samba”, explica Lucio.
Na rua, além do samba que vai se espalhando através do canto das pessoas, tem também as rodas de conversa nos grupos que se sentam nas cadeirinhas coloridas. São nossas conhecidas, tanto nas areias das praias quanto nas calçadas dos subúrbios, nas lajes, onde as pessoas se sentam para conversar. Essa mistura de boteco, samba e praia traz um ambiente muito carioca para o lugar.
“A ideia das cadeiras foi meio por acaso. Num sábado que tinha roda de samba, com um fluxo muito grande de pessoas, vimos um casal surgindo com duas cadeirinhas de praia, pedir uma cerveja e sentar ali mesmo. Achamos muito maneiro e decidimos comprar, primeiro oito, depois dez e assim foi”, conta Lucio.
Em seguida, veio o projeto de roda de samba com a Farm, que acontece de três em três meses e lota a rua do Senado que precisa ser fechada naquele trecho do Armazém e dos Labutas, de tanta gente que vai pra lá. Virou point.
Um dos fatores do sucesso do Labutinha e dos eventos por ali é que a tribo das artes plásticas adotou o lugar. Raul Mourão, Arjan Martins são alguns dos nomes que sempre frequentaram o local. Agora, inclusive, o Labuta Braseiro está com a exposição Coleção Labuta de Arte, reunindo pinturas, fotografias, gravuras e uma obra em neon de 25 artistas de diferentes gerações.
Os planos de Lucio não param por aí. Mesmo com a inauguração recente do Labuta Mar, na Gloria, há cerca de dois meses, ainda tem coisa nova chegando na família. É O Celeste, restaurante e “listening bar” que vai ser inaugurado na Rua do Lavradio, onde era a Casa Momo. Os listening bar’s são espaços com uma curadoria artística muito especial e som de altíssima qualidade. Primeiro, será aberto para almoço, com menu de massas para se diferenciar dos “irmãos”, e, em seguida, inauguram o bar com coquetelaria e som hi fi.
“A proposta não é fazer uma balada. É a galera que vai tocar apresentar as músicas que eles acham que são mais interessantes para serem ouvidas, algum coisa diferente e super legal. Por que na balada, não necessariamente o DJ toca o que ele gosta, né? A ideia aqui é que as pessoas apresentem músicas bacanas, que não necessariamente é o que acontece na balada”, explica.
Com cinco casa gastronômicas hoje em funcionamento – dois Lilias e três Labutas – e mais a Celeste em vias de inauguração, o grupo de sócios segue levando ao pé da letra o verbo labutar. Para quem ama essa cultura carioca de rua, de boteco e de samba, os Labutas são opção inevitável. A Rua do Senado te espera, vai lá!
Rita Fernandes é jornalista, escritora, pesquisadora de cultura carioca e carnaval.