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Rita Fernandes

Por Rita Fernandes, jornalista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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O samba e o semba do Terreiro de Crioulo

Há 11 anos em um quintal de Realengo, essa é a roda de samba mais forte que já conheci, com os tambores ecoando pelo corpo e toda a sua africanidade

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Atualizado em 18 ago 2023, 10h07 - Publicado em 18 ago 2023, 09h31
A roda de samba que acontece uma vez por mês lota com mais 700 pessoas a cada edição.
A roda de samba do Terreiro de Crioulo acontece uma vez por mês e lota com mais de 700 pessoas a cada edição. (Siddharta Fernandes/Arquivo pessoal)
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A força do samba ali vem do chão e das vozes que se juntam de forma firme. Das palmas que acompanham em uníssono os instrumentos, quase todos tambores, percussões. Dá pra sentir o semba e o samba. Até agora estou sem acreditar e sem respirar com o Terreiro de Crioulo, em Realengo. Casa lotada, ingressos esgotados e 700 pessoas entregues a um samba que nem eu sabia que existia. É a roda de samba mais preta e mais forte que eu já conheci, e eu só me lembrava de Maria Bethânia cantando “É o semba do mundo calunga, batendo samba em meu peito”. Que experiência, minha gente!

Há 11 anos, o Terreiro de Crioulo ocupa uma espécie de quintal no bairro de Realengo, na Zona Oeste do Rio, sempre com lotação esgotada. O projeto foi criado por Leandro Braz, Rose Braz, Paulo Henrique Mocidade e Silvio Luiz. Dos quatro, ficaram Leandro e PH Mocidade, e a ele se juntaram Julio Morais e Renata Nerys, os quatro hoje à frente do projeto, que sempre celebra nomes importantes do samba carioca. Quando eu fui, a homenagem era para Zeca Pagodinho e passeamos pelo repertório do artista, além de outros clássicos que abriram os trabalhos.

Naquela noite, Andréia Caffé deu um show à parte, cantando repertório de Jovelina Pérola Negra, para poucos iniciados e acompanhada de uma multidão em volta que cantava todas as estrofes. Que surpresa ver tanta gente ali que conhecia aquelas canções, a maioria fora dos roteiros populares mais das rodas de samba da Zona Sul. Foi incrível ver o conhecimento que Caffé tem de Jovelina, e principalmente sua energia quando canta!

PH Mocidade é a voz que comanda a roda e conta com a parceria de Julio Morais.
PH Mocidade, a voz que comanda a roda, e Julio Morais, um dos parceiros no projeto (Rita Fernandes/Arquivo pessoal)

Chama atenção o tamanho da roda, que é composta por 12 músicos sob o comando de PH Mocidade e seu vozeirão, e que conta com diversos cantores e cantoras, além da própria Andréia Caffé, como Santa Cruz, Arifan, Abel Luiz, Serrinha Raiz, Marcelo Taroba, Abidu,  e o coro de pastoras. A noite de homenagem ao Zeca teve ainda a participação especial de Dirceu Leite, que nos brindou com seus sopros. É bem comum aparições surpresas no Terreiro de Crioulo e muitas canjas, como Fabíola Machado, Marina íris e Teresa Cristina, que recentemente estiveram por lá.

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O projeto não conta com nenhum incentivo, e o que sustenta são a bilheteria e o bar. Assim que as vendas se iniciam, os ingressos se esgotam rapidamente porque, como o samba só acontece uma vez por mês, o público fica ligado pra não perder. Além do Rio, o Terreiro de Crioulo também circula por outras cidades, como São Paulo e Salvador, com o mesmo sucesso de público por onde vai. Não à toa. Quem vai uma vez, não quer deixar de ir mais.

A minha recomendação para quem ficou a fim de conhecer o Terreiro de Crioulo – e eu super recomendo! – é juntar os amigos, comprar logo no primeiro lote e no dia chegar muito cedo. Fica realmente lotado e o bom é ficar colado na roda. É ali que seu coração vai bater no compasso do “semba”, que você vai entender o que é a força da música ancestral africana, porque realmente só sentindo o que não tem explicação. Invade a gente, mexe com a nossa emoção, o corpo entra sozinho no ritmo e a gente entende porque o samba só traz felicidade. Então, fiquem ligados na agenda na pagina do Terreiro de Crioulo no Instagram e se joguem com tudo. Mas cheguem cedo! É bom demais!

Rita Fernandes é escritora, jornalista, presidente da Sebastiana e pesquisadora de cultura e carnaval.

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