Rita Fernandes

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Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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A alma encantadora da Rua General Glicério

As maravilhas etílico-musicais da mais bucólica rua do Rio de Janeiro, que se tornou também point da geração millenial

Por Rita Fernandes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
24 jun 2021, 19h42
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  • Tem um lugar que todo mundo devia conhecer: a Rua General Glicério. É uma rua curiosa em diferentes sentidos, muito agradável, com muitas árvores e seus prédios das décadas de 40 e 50 (principalmente na parte superior da rua). Chama atenção também a vizinhança. Ali habitam e transitam músicos, artistas, jornalistas, fotógrafos, enfim, uma galera que respira cultura e política. Bucólica ao longo de todo o seu percurso, é como certa vez a Vejinha publicou: um “oásis no Rio de Janeiro”.

    Moro nessa rua há mais de vinte anos e conheço sua alma. É como aquelas cidadezinhas do interior, em que todo mundo se conhece, mas com uma potência cultural e afetiva que só mesmo vindo até ela para entender. São poucos bares, mas todos muito movimentados, com suas diferentes tribos. Há desde café e bistrô de vinhos, a botequim no estilo pé sujo e boteco de cervejas especiais, na linha cool. Eles se encontram na parte superior da rua, depois que se passa a pracinha.

    Barraca do Luizinho – Copos
    Drinques para todos os gostos, como Gim ao Aperol, servidos em copos personalizados com o nome de um dos personagens mais conhecidos na gastronomia de rua do Rio. (Rita Fernandes/Arquivo pessoal)

    A Pracinha do Choro é o coração da rua. Nas barracas que se instalam aos sábados ao longo daquele pequeno pedaço, é onde tudo acontece. Boa música, gente bacana para conversar, muitas opções da boa gastronomia de rua. E o destaque é a Barraca do Luizinho, personagem conhecido na cidade com seus incríveis CDs de samba e música brasileira, além das suas caipirinhas, carro-chefe do cardápio. Pode-se passar o dia ali, à base de caipirinha, gim tônica, aperol ou até mesmo uma boa garrafa de vinho ou champanhe, tudo sempre em baldes de gelo e taças personalizadas com o nome do dono do estabelecimento. Ou mesmo de uma boa cerveja muito gelada, de qualquer marca ou tipo, como as que da Barraca do Marquinhos. Ou optar pelo chope artesanal Moto Cerva.

    “Cheguei na pracinha em 2001. O Choro na Feira nasceu ali, num encontro de amigos e eu pedi licença ao Marcelo Bernardes e à Inês Perdigão, fundadores do projeto, para montar uma banquinha de CDs e caipirinhas. Fui muito bem recebido e as coisas foram acontecendo. A praça foi um divisor de águas na minha caminhada, e tenho muita gratidão por aquele espaço”, diz Luizinho.

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    Antes de começar a pandemia, todos os sábados havia a roda de choro. Primeiro um projeto chamado Choro na Feira, que virou disco, inclusive. Depois, outro grupo assumiu o espaço, e roda passou a ser comandada pelo Pixin Bodega, formado Lauro Mesquita (percussão), Jorge Mendes (violão de sete cordas), Vinicius Santos (bandolim), Sergio Zoroastro (cavaquinho), Almir Bacana (tantã), Luis Carlos Souza (pandeiro). Aos poucos, o grupo passou a receber convidados pra lá de especiais, e foi introduzindo samba, forró e outros ritmos ao seu repertório. Muitos músicos e artistas já participaram daquela roda, como Carlos Malta e Robertinho Silva. A lista é imensa, pois todos os sábados a música ia de 13h às 16h. Com a necessidade de isolamento social, a roda de choro foi suspensa e ainda não retornou.

    Cervejas de todos os tipos e marcas na Barraca do Marquinho.
    Cervejas de todos os tipos e marcas na Barraca do Marquinho. (Rita Fernandes/Arquivo pessoal)

    No entorno desse movimento etílico-cultural, acontece a feira propriamente dita, de legumes, frutas e verduras, além de queijos, tapiocas e outras novidades que foram chegando pouco a pouco. Na gastronomia, as disputadas barracas do pastel e dos bolinhos de bacalhau, essa última sob o comando do Mazarope, um dos mais conhecidos personagens da gastronomia de rua do Rio, que perdemos recentemente para a Covid-19.

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    Com todo o seu charme, suas ruas com calçadas e bares que convidam ao encontro, a General se tornou uma versão diurna de “Baixo Laranjeiras”. O que tem um lado bom e outro nem tanto, pois acabou trazendo problemas para seus moradores. No fim da rua, por exemplo, onde ficam as barracas de peixe, surgiu um trailer de comida japonesa, que impulsiona a cadeia produtiva da própria feira. Virou point, principalmente com a turma dos “millennial”. Com ele, vieram outras barracas, criando uma aglomeração excessiva no local. Além da aglomeração que vai contra os protocolos de saúde do momento, há o problema da extensão do horário de funcionamento, para muito além do permitido.

    Há também opção de chopes artesanais, como o Moto Cerva.
    (Rita Fernandes/Arquivo pessoal)

    Agora, com a vacinação da população em andamento e acelerada por determinação da prefeitura, o movimento da rua deve aumentar ainda mais. O desafio será manter o bom senso entre a valorização da cultura de rua, a liberdade de ir e vir, a segurança da população em relação à pandemia e a boa convivência entre grupos de interesses tão diversos. É a cidade pulsando, mostrando suas diferenças, mas também todo o seu potencial.

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    Rita Fernandes é jornalista, escritora, pesquisadora de cultura e de carnaval e presidente da Sebastiana.

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