Dia desses fui parar num bar que não conhecia em Vila Isabel, o Assado na Vila. O mote do convite que me levou até lá era uma roda de conversa sobre Nei Lopes, compositor, cantor, escritor e estudioso das culturas africanas. Admiradora do Nei, aceitei de pronto. O que encontrei naquele lugar foi uma história e uma experiência incríveis. Nei Lopes não só morou ali, na rua Jorge Rudge, onde fica o Assado na Vila, mas também protagonizou, na década de 1980, uma roda de samba que acontecia ali, batizada de “Corre Pra Sombra”.
O tal samba acontecia no Bar do Tuninho. E, por conta do calor do sol que batia na rua, o pessoal ia trocando de lugar, buscando os refúgios para se proteger do calor e continuar a tocar. Além do Nei Lopes, morava ali também Carlos Moraes dos Santos, mais conhecido como Carlinhos 7 Cordas, que tinha nessa época 16 anos. Carlinhos tinha achado um violão e começara a estudar música. Foi aí, na “Corre Pra Sombra”, que conheceu o Nei. A roda ganhou popularidade e vários músicos renomados começaram a frequentá-la.
Ao se deparar com esta história, meu amigo Djimmi, um importante articulador cultural do subúrbio, contou para o dono do Assado da Vila, Leandro Francisco, e propôs que eles resgatassem o samba no local. Assim, naquele fim de semana, promoveram a primeira delas, com sambas de autoria do Nei.
Renascia ali, a roda de samba da rua Jorge Rudge, rebatizada agora de “Samba da Sombra”. Sob o comando de Pedrinho Silva e do grupo Luz D’Samba, eles agora farão no último fim de semana de cada mês, o passeio musical que Nei Lopes e amigos inventaram lá atrás. A próxima está prevista para acontecer novamente só em 30 de janeiro de 2022, por que, nesse mês, o último fim de semana é o do réveillon.
Independente da realização do Samba da Sombra, recomendo a ida ao Assado na Vila, com suas mesinhas na calçada e que tem uma comida deliciosa, cujo carro-chefe são as carnes feitas na brasa, com especial destaque para a costelinha de porco e a costela de boi. Tudo divino, sob a batuta do argentino Pedro Jorge Aguilera.
Além das carnes, que podem vir com acompanhamentos como feijão tropeiro, maionese caseira, batatas fritas e o clássico arroz com feijão, tem os petiscos como bolinhos de Baião de Dois com geleia de pimenta feita na casa, Cupim no Bafo e Torresmo no Assado, além de outras delícias da gastronomia de botequim. Ah, e a cerveja geladíssima, como convêm a um boteco do bairro de Noel.
Enquanto o Samba da Sombra aguarda retorno, uma agenda musical já vem rolando, nas quintas-feiras, às 18h30, com o samba-jazz das cantoras Flávia Enne e Angelica de Paula, que se alternam a cada semana.
Fica a dica, é uma super pedida para quem quiser curtir um autêntico boteco suburbano com um bom samba de raiz. O Assado na Vila funciona de quinta a domingo, de 11h às 23h, e quartas de 16h às 23h.
Rita Fernandes é jornalista, escritora, presidente da Sebastiana e pesquisadora de cultura e carnaval.